Eu não sou velho, mas este mês faço 67
Gostaria de abordar aqui o tema dos velhos com o qual tenho identidade, por eu mesmo me encontrar dentro dessa faixa etária. Atualmente sinto pessoalmente que o termo “velho” soa pejorativo, indica decrepitude e desesperança. É como um preconceito, algo já determinado como fato. Quando jovem você não pensa sobre isso, você diz “nem sei se vou chegar aos 50” e agora já estou com quase 67 e o meu mundo mudou com a idade, mas não mudou só pela idade, também mudou por outros motivos: as atividades que venho desenvolvendo através dos anos se consolidaram e estão se expandindo em sintonia com o conhecimento das sempre novas tecnologias, mas também sinto que a velha sabedoria chegou por fim para fazer o meu mundo melhor. Mas, nos estávamos falando que é ruim ficar velho.
Lembro do ator Marcello Mastroianni que no livro “Eu recordo” escreveu que se sentiu velho, mas velho mesmo quando duas moças o ajudaram a atravessar a rua. Acho que para o galã isso foi o fim, ou o começo do fim: não ter mais o respeito das mulheres como homem, virou um velho que precisava de ajuda.
Quantas vezes vou repetir a palavra velho neste texto, isso que só estou começando a escrever, no final eu vou contar quantas vezes escrevi velho, esperem. Isso mesmo, nomes, antes de mais nada, precisamos de achar nomes para o “Espaço Polo Social” onde você lê este texto, e achar um nome apropriado para cada uma das partes da coleção de artigos. Todas as seções representam assuntos sociais com tema definido, como do negro, Africanidades, sugerida pelo nosso autor Basi’lele Malomalo e aceita por nós; temos assuntos ligados à Mulher; temos vários autores com deficiência física, queremos dar mais voz para ele e abrimos uma seção PcD e temos um assunto muito importante: assuntos ligados à terceira idade, os Velhos. Todas as seções já têm um nome, só falta escolher um nome apropriada para os velhos.
Como chamar a seção dos velhos? Tem uma cliente que escreveu um livro sobre velhos e criou um título muito bom para o livro dela, “60+”, mas não posso usar esse termo senão seria um plágio. Vamos pensar, eu até me chateio, mas quando a pessoa com quem você vai falar ou trocar mensagens vê que você tem mais idade ela passa a te chamar de Senhor. Olha, este nome parece bom para o nosso Espaço Social. Este termo me lembrado um escritor famoso, considerado o primeiro ensaísta Senhor de Montaigne, mas este era um título que ele herdou do pai quando este morreu, e ficou assim conhecido, mas, ele morreu com 57 anos, quer dizer não era idoso mesmo. Mas, ser velho, velho, velho, o que importa? Já disse o Miguel de Cervantes e Saavedra: “Até a morte tudo é vida.” Então, porque nos importar com os temos, mas, não é bem assim. Mas, voltando ao nome da seção, Senhor é masculino, e o tema abrange também o feminino, ou seja, velha, meu Deus como que você pode se referir a uma Dama como velha. Impossível. Esse nome não dá, vou continuar procurando, por enquanto vamos continuar usado Velho.
Queria começar a escrever para valer sobre os mais velhos, esses que após os 60 anos são vistos socialmente como menos capazes, senão incapazes, se comparados aos mais jovens, mais este pré-conceito começa poucos anos antes, mas se acentua após os 60, que por este pré-conceito são excluídos das atividades produtivas e pior que isso, são marginalizados socialmente.
Nas sociedades antigas, desde o início dos tempos, muito antes da escrita, os velhos eram considerados sábios e ocupavam posição de destaque no grupo social e em alguns casos participavam do conselho que dirigia o destino das comunidades.
Talvez o que eles tinham a mais que os outros membros mais jovens do grupo social era a sabedoria adquirida com a vivência. Por isso eram venerados pelo simples acúmulo de conhecimento com a experiência vivida, talvez a idade tenha lhes dado a sabedoria.
Nos dias atuais também veneramos o conhecimento, mas este saber é encontrado em livros e em dispositivos eletrônicos digitais e você tem acesso aos temas com uma velocidade assombrosa e pode ter esse acesso praticamente de qualquer lugar. Conhecimento não se acumula mais na cabeça das pessoas mais velhas, como no início da humanidade, o que deixa os velhos em desvantagem para ocupar algum cargo para a sua sobrevivência, por isso, quem sabe tenham inventado a aposentadoria, mas a invenção do conceito velho como algo descartável teve início durante a industrialização, que visava diminuir os custos de produção e aumentar os ganhos como uma meta em si, até ao custo de demitir um trabalhador mais velho para contratar dois jovens pelo mesmo valor. Isso é sabido, todo mundo conhece altos executivos hoje trabalhando de Uber porque não encontram mais colocação no mercado.
A ideia da “Polo Social” é disponibilizar um espaço comunitário para os nossos autores e para todos os escritores que desejem se expressar por texto. Interessante que o “Portal da Polo” pretende ser visitado pelos que querem informação sobre livros e todas as etapas de construção de um livro; mas veja que interessante, vai se tornar um espaço para que você possa colocar as suas ideias e vamos fazer com que os textos circulem por todas os espaços sociais e nós temos como fazer com que quem leia os textos voltem ao Portal num movimento circular infinito de interesses e de conhecimento.
Vamos contar quantas vezes usei a palavra “velho”: só 23 vezes, até que não foram tantas vezes num texto com 941 palavras.
Parabéns pelo texto e pela iniciativa
Agradecido, Gardenia, você se tornou escritora. Eu sei que escrever é um grande trabalho. Ou seja, Gardenia, você começou e não pode mais parar. Então, ao trabalho!
Obrigada
Maravilhoso o artigo, parabéns! Me identifico com o texto pois é a idade da minha mãe, o exemplo de guerreira desde antes de eu nascer, a chefe da casa! Lembro quando era criança que eu tinha pavor em entrar nos 2 dígitos, em fazer 10 anos e realmente foi a partir daí que senti a vida voar… Ah, é isso mesmo: muito antigamente, o velho era valorizado. Já em um passado não tão distante assim, meu cunhado me mostrou uma matéria onde chamavam de idosa uma mulher de 42 anos!!! Hoje em dia os médicos chamam menores de 44 como “jovem adulto” e a adolescência, início da fase adulta, não é mais chamada como esse estágio da vida e tem se estendido cada vez mais. Com a valorização da infância, tendemos a estende-la cada vez por mais tempo: a infância, que cientificamente é até o início da puberdade, está sendo estendida no senso comum e muitas vezes acham até ofensivo quando chamamos um púbere, início da fase adulta na biologia, com os devidos termos “moça” e “rapaz”. Jovens, não tenham vergonha, envelhecer é natural e saudável, mostra que estão vivos! Um médico do convênio da minha mãe disse que envelhecemos a partir dos 10 anos (a idade que tanto me era temida na infância) outros diz que começamos a envelhecer assim que nascemos… O fato é que todos os vivos estão envelhecendo e por que não respeitar os que acumularam mais experiências e mais sofrimentos? Estou no meio da fase adulta: não sou mais, há muito tempo, adolescente e ainda não sou idosa mas as faixas etárias que mais me identifico e me dou bem são justamente os extremos: com as crianças e com os idosos. Quando um adulto jovem chega em mim para amizade, quando vejo, já fiz amizade com as mães deles! Quando acompanhava minha mãe em um curso para a terceira idade, também batia papo com eles, ficava super enturmada! Valorizo muito essa faixa etária com tantas experiências e sofrimentos acumulados e que precisaria agora desfrutar da vida e viver o que não pôde viver antes e rodeados de amor
Ah, Ivo, não sei se já viveu isso pois é mais novo que meu finado pai, mas ele dizia que, na época de infância dele, os meninos não viam a hora de crescer para usar calças longas pois só poderiam usá-las a partir da puberdade. Calças longas eram só para adultos, a fase valorizada da época
Parece que tenho uma idade próxima da de seu pai. Havia uma vontade de usar calças compridas para me comparar com outros meninos que usavam. Um dia fui ao escritório que me pai trabalhava e estava lá um outro menino, mas ele de calças curtas, no dia seguinte eu voltei lá com calças curtas para ficar como ele, mas ele foi com calças compridas. Foi engraçado.
Reflexão tão bem-vinda nestes tempos áridos, sem a devida valoração do encanto da diversidade! Certo é que a quantidade de tempo vivido e o acúmulo de experiências até poderiam resultar em amadurecimento sólido. Contudo, é preciso algo mais para que se dê uma real maturação emocional e efetiva, e isso, sim, é raro!
Como membro da comunidade dos com mais idade resolvi inaugurar, com esta primeira matéria sobre uma grande e crescente faixa da população brasileira e mundial: os idosos.