AFRICANIDADES NA ENCRUZILHADA DA EPISTEMOLOGIA DE MACUMBA PARA A EMANCIPAÇÃO PLANETÁRIA

Por Bas´Ilele Malomalo[1]

A macumba é uma palavra que faz parte das africanidades e, em meus trabalhos (MALOMALO, 2016), uso este último termo como sinônimo da cultura negra, culturas produzidas pelos africanos e seus descendentes ao longo da história. Como muitas palavras africanas, foi enfeitiçada negativamente pelo pensamento único eurocêntrico, por isso, os negros lutam para libertá-la do “feitiço do mal” do preconceito e do racismo para retribuí-la ao seu verdadeiro significado, a sua força mágica do “feitiço do bem”.

A minha definição das africanidades é a mesma de Petronilha Gonçalves e Silva. Entendo por africanidades, culturas inventadas pelos africanos e seus descendentes espalhados pelo mundo e é, entre outras, de suas manifestações históricas, políticas, estéticas, de saberes. A macumba é um patrimônio da cultura negra, e interessa-me em muito, inspirando-me em Muniz Sodré, o seu lado da sedução e da magia, que a faz rebelde perante a lógica instrumental e racionalista ocidental.

Tento buscado compreender a macumba do ponto de vista das epistemologias negras, como parte das epistemologias do Sul que lutam contra as epistemologias hegemônicas do Norte global (Europa e a América do Norte) e do Sul geográfico alienado epistemologicamente.

Em um dos meus textos, inspirando-me em Petronilha Gonçalves e Silva e Mafeje, chamei a cultura negra de africanidades africanas e brasileiras (MALOMALO, 2016, 2017).

O campo de investigação, na perspectiva da epistemologia de macumba-ubuntu-bisoidade, é composto de cientistas e não cientistas. O cientista macumbista tem as africanidades, isto é, as culturas negras do continente e da diáspora como suas bibliotecas, lugares ou centros para a construção de voo afro-filosóficos, entendido no sentido mais amplo de elaboração de reflexões teóricas. Chamei isso de bibliotecas africanas e afro-diásporicas. Claro, as bibliotecas de outros povos lhes são úteis igualmente para a construção de conhecimentos multiculturais, mas não devem ser apropriados de forma acrítica.(MALOMALO, 2016).

Bibliografia

MALOMALO, Bas´Ilele. Macumba, macumbização e desmacumbização. In: SILVEIRA, Ronie Alexsandro Teles da; LOPES, Marcos Carvalho (Orgs.) A religiosidade brasileira e a filosofia. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2016b, p. 132-160.

MALOMALO, Bas´Ilele. Estudos africana ou novos estudos africanos: Um campo em processo de consolidação desde a diáspora africana no Brasil. In: Revista de Humanidades e Letras, Vol. 3, Nº. 2, Ano 2017a, p. 16-50.

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