Certo dia, acordei, olhei no espelho e me deparei com a terceira idade. Lá estavam os cabelos grisalhos, a pele com manchas e rugas (ou melhor, “linhas de expressão”), a flacidez, um peso um pouco acima do ideal, pré-diabetes, colesterol elevado… E, junto a tudo isso, veio o pensamento de um futuro cheio de sofrimento, mesmo que nem estivesse lá ainda. Esse era o lado ruim do envelhecer que me vi enfrentando.

Quase fiquei presa nessa visão negativa. Logo tratei de olhar com mais carinho para o que me tornei, para o fato de que cheguei até aqui porque vivi, envelheci. E então enxerguei o lado bom da minha vida.

E o lado bom é que nunca tive tantas ideias e tanta pressa de viver! A mente, acelerada, me incentiva a aproveitar cada momento. Meus olhos brilham de gratidão, felizes por tudo que conquistei. Não se tratavam de sonhos, mas de realidades prontas para serem realizadas – ideias surgiam, e eu estudava como pô-las em prática.

Foi então que tive a ideia de escrever um livro. Eu via tanta gente sofrendo, antes mesmo de envelhecer – e quem já envelhecia, sofria ainda mais. Meus pais me inspiraram a colocar em palavras esses dois lados do envelhecer. Meu pai, por exemplo, aceitava o envelhecimento com serenidade e morreu numa tarde de domingo, em paz, sem jamais reclamar da vida. Já minha mãei, em contraste, nunca aceitou a idade, sempre lamentava as limitações, dominado por uma vaidade que o impedia de se sentir em paz.

A não-aceitação traz sofrimento. Não é fácil ver o corpo se transformando com o tempo, as doenças surgindo, o medo do abandono, a rejeição, a solidão que aumenta enquanto vemos amigos e parentes partindo. Ainda assim, o importante é aceitar a vida como ela é.

Em nenhum momento achei que não fosse conseguir transformar minhas ideias em realidade. Lembro-me do que aprendi com meu pai: nunca levar desaforo para casa, nem sentir medo. “A vida é um desabrochar”, ele dizia. De fato, nós nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Esse processo é um privilégio que muitos não têm.

Eu proponho que você viva intensamente, que sinta e ouça seu corpo, alma e mente. Aproveite o momento, pois é o único que realmente existe, e perceba que você é capaz de fazer e refazer seus projetos de vida.

O medo nos paralisa e impede de ver nossos projetos concluídos; ele cria expectativas negativas que trazem desânimo, vazio e a sensação de fracasso. Mas nada disso te define.

Escrever este livro não foi um desafio, foi um prazer, pois minha experiência de vida e a de minha família me ensinaram muito. Desejo que as pessoas vivam felizes cada momento de sua vida, que valorizem o presente e sejam gratas por tudo o que se tornaram. A vida é rica em histórias, e cada uma delas é um legado.

Não se contente apenas com o que restou; mesmo que o corpo sinta o peso do tempo, o espírito continua vibrante, ativo e pronto para se renovar. Esse tesouro interno, chamado fé, é o que mantém nosso desejo aceso na alma. Isso é viver. Viva!