O poder da imaginação

Baseado no artigo de Natasha L. Richter: “Female writers in the 18th century: The power of imagination”.

As escritoras do século XVIII frequentemente focaram sua atenção ao imaginário feminino na escrita de novelas, poesias e temas relacionados à fuga de um mundo cruel.

Em Maria, ou “The wrongs of a woman, Mary Wollstonecraft” teve mais atenção a habilidade da mulher em usar sua imaginação transcender a prisão física de um hospício, assim como as prisões metafóricas de um casamento tirano em um mundo opressivo.

Enquanto isso, Anna Letitia Barbauld enfatizou as obras de arte que as mulheres podem imaginar em seu poema “Washing day”.

Finalmente, em “Frankenstein”, Mary Shelley contrasta o uso da imaginação feminina em comparação ao domínio masculino no campo da ciência. Enquanto Wollstonecraft ilustra a imaginação feminina como a fuga da prisão que de seus lares, Shelley censura as formas de imaginação masculina, especialmente sobre ciência e tecnologia.

No romance de Wollstonecraft, Maria encontra conforto na leitura, enquanto está confinada em um hospício. A dependência de Maria por essa ocupação reflete o apelo de muitas mulheres domesticadas que acreditam na leitura para exaltar suas imaginações e se transportarem para longe de suas realidades e vidas entediantes. Wollstonecraft fala do dilema feminino da imobilidade e encarceramento causado por um marido tirano.

Já para Shelley, o pensamento cientifico masculino em Frankenstein se prova mortal e destrutivo, uma vez que o homem ambiciona criar vida e se tornar uma grande autoridade. Por esse motivo, Shelley condena Viktor Frankenstein a ruína por seu ego e ambição.

Ainda no século XVIII, temos os romances de Jane Austen, que abordam relacionamentos amorosos ideais, com protagonistas fortes e casamentos por amor, o que não era tão frequente na Inglaterra vitoriana. Se por um lado o poder da imaginação era uma fuga da realidade, por outro poderia ser a idealização de um futuro perfeito e uma vida devotada aos sentimentos que a mulher deseja cultivar.

Quando falamos de mulheres na literatura, precisamos nos atentar a uma época onde não se acreditava que o pensamento crítico e intelecto femininos pudessem se equiparar aos masculinos. Ainda hoje há quem acredite que homens são naturalmente mais capazes, mesmo que já tenha sido provado inúmeras vezes que o meio é uma das maiores influências nessa capacidade.

Assim, relembrar escritoras de épocas antigas é uma grande conquista, pois muitas não receberam os créditos por seus trabalhos no passado, levando anos e até séculos para serem reconhecidas por sua mente e imaginação.

Falando em fugas da realidade, Mary Shelley não apenas fugiu em meio às páginas, como colocou sua própria realidade em sua escrita. Frankenstein é baseado em seu relacionamento amoroso e em como se sentia após perder a filha e lidar com a deslealdade do marido: uma mulher completamente perdida no mundo, levada para longe do que conhece e abandonada em meio a estranhos, desmerecida e envergonhada por quem amava. Assim como a criatura de Viktor Frankenstein, Mary se sentiu desamparada e não pôde fazer nada a respeito, pois era apenas uma mulher.

“Deixe que transforme em eterna gratidão todos os sentimentos maléficos que presentemente nutro por você. Não me negue esse pedido!”

Fica ressaltado nesse artigo a importância da criatividade e imaginação para a sobrevivência da mulher através dos tempos. Muitas vezes o que manteve nossa sanidade foi a esperança de uma mudança em nossas vidas, em uma realidade parecida com as dos livros que lemos e o objetivo de fuga e melhora que só existe em nossa imaginação. Os seres humanos são altruístas por natureza e ressaltar a importância da literatura feminina para nosso desenvolvimento e espaço na sociedade é um dos meus maiores prazeres como autora de artigos.

Espero que essa esperança continue viva no coração de cada mulher que busca conhecimento em qualquer campo, que foge da realidade através da arte e dá ao mundo uma amostra do grande jardim de sonhos que vive dentro de cada uma!