Adeline Virginia Stephen, 1882, foi uma escritora, ensaísta e editora britânica e uma das mais importantes figuras do feminismo. Desde cedo a autora teve vasta educação literária graças aos seus pais, Julia e Leslie Stephen. Posteriormente, criou sua própria editora, a Hogarth Press, com o marido, Leonard Woolf, de quem herdou o sobrenome. Virginia também foi integrante do grupo de Bloomsbury, um círculo de intelectuais contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana.


As extensas contribuições de Virginia, tanto em suas poesias, autobiografias e análises quanto em suas edições e ensaios apenas tiveram fim com sua morte. Após ser impedida de escrever e o mau recebimento de sua biografia, Virginia encheu os bolsos de pedras e se afogou no rio Ouse. Deixou para seu marido, Leonard Woolf, o seguinte bilhete:

“Querido,
Tenho certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou me recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Você tem me dado a maior felicidade possível. Você tem sido, em todos os aspectos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes, até a chegada dessa terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você vai, eu sei. Veja que nem sequer consigo escrever isso apropriadamente. Não consigo ler. O que quero dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que todo mundo sabe disso. Se alguém pudesse me salvar teria sido você. Tudo se foi para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar sua vida. Não creio que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós.
V.”


Virginia Woolf publicou nove romances e trinta livros de outros gêneros. Foi uma escritora revolucionária, falando das restrições que as mulheres sofriam no período vitoriano. Até hoje a autora influencia diferentes correntes feministas em temas como lesbianismo. Ela acredita que as mulheres não possuíam as mesmas oportunidades dos homens para se desenvolverem psicologicamente e intelectualmente de maneira apropriada. Por ser uma mulher de alta classe social, a própria Virginia não teve a oportunidade de frequentar uma universidade, como seus irmãos, pois ser educada publicamente não era adequado para uma mulher. Ela chegou a dar palestras em Cambridge e fazer parte de grupos intelectuais, mas sua educação foi feita inteiramente em casa, sob a supervisão de seus pais.


“Apenas consigo perceber que o passado é belo porque nunca percebemos uma emoção no momento em que ocorre. Ela se expande posteriormente e, por isso, não temos emoções completas sobre o presente, apenas sobre o passado.”


Para entender a escrita moderna e inspiradora de Virginia e sua batalha como mulher para uma vida mais completa (principalmente convivendo com depressão desde cedo, que acreditam ter sido causada por abusos sofridos por seus irmãos) índico três obras de muito sucesso.

1. Ao farol (To the lighthouse)

Considerado um dos principais trabalhos da escritora, “Ao farol: to the lighthouse” apresenta o cotidiano da família Ramsay e de seus amigos em sua casa de veraneio nas ilhas Hébridas, tendo como pano de fundo os acontecimentos e os traumas da Primeira Guerra Mundial. Escrito a partir de inúmeras perspectivas, alternando entre personagens e períodos de tempo com grande elegância poética, o romance não se centra em apenas uma trama, pelo contrário, apresenta um painel verbal sobre cada um dos membros da família, seus amigos e suas viagens à Escócia entre 1910 e 1920, desvendando as recordações de infância de seus personagens e como essas influenciaram suas relações na vida adulta. O romance, dividido em três partes, apresenta em sua primeira seção a personagem de Mrs. Ramsay, a lente através da qual são organizados a maioria dos pontos de vista da história, também apresenta seu filho, cujo desejo de seguir “ao farol” carrega todo o ímpeto narrativo. Na segunda parte, o Farol permanece vazio, como um marco narrativo para a passagem do tempo e para a morte de vários personagens. Na terceira e última parte, o restante da família finalmente segue para seu destino e o romance transforma-se em um libelo sobre o amor, a perda e a criatividade.

2. Mrs. Dalloway
Obra mais famosa de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway narra um único dia da vida da famosa protagonista, Clarissa Dalloway, que percorre as ruas de Londres dos anos 1920 cuidando dos preparativos para a festa que realizará no mesmo dia à noite. Pioneiro na exploração do inconsciente humano por meio do fluxo de consciência, Mrs. Dalloway se consagrou tanto pelo experimentalismo linguístico quanto pelo retrato preciso das transformações da Inglaterra do período entre guerras. Misto de romance psicológico com ensaio filosófico, este livro resiste a classificações simplistas e inaugura um gênero por si só. Precursor de algumas das maiores obras literárias do século XX, este romance é uma leitura incontornável que todo mundo deve fazer ao menos uma vez na vida.

3. Orlando, uma biografia
Em Orlando: Uma Biografia, que Virginia Woolf considerava “simples brincadeira de criança”, “as férias de uma autora”, “uma escapadela depois desses livros sérios de experimentação poética, tão exigentes em matéria de forma”, “uma narrativa ao gênero de Defoe” para diverti-la, ela brinca com toda a seriedade não apenas com o leitor, a literatura e a pessoa biografada (no mundo chamado real, sua amiga e amante, Vita-Sackville West). Do mesmo modo que uma criança brinca (também com toda a seriedade) a fim de apreender o mundo em que vive e aprender a lidar com ele, ela busca captar nuances do ser a partir de temas como a história, as convenções sociais, as leis que governam os homens, os costumes de seu país, a política, o amor, o poder, a morte, o casamento, a busca de liberdade, a fantasia e a realidade, a busca de uma unidade identitária, a pluralidade de “eus”, as diferenças de sexo e gênero, a natureza e a civilização, o tempo, a geografia. E, mais que tudo, a própria literatura.
Virginia disse uma vez que “se você não conta a verdade sobre você mesmo, não pode conta-la sobre os outros” e essa afirmação se faz presente em muitos de seus personagens. A identidade de todos carrega muita moral e ética e talvez seja um dos fatos mais importantes pelos quais são tão estudados hoje. Além disso, suas descrições psicológicas e infinitas experimentações criaram uma escrita única e fazem com que essa autora seja digna de indicação e biografia.