Introdução

Ao iniciar uma conversa pelo WhatsApp com o escritor Marcelo Rates Quaranta sobre a publicação de seu novo livro, “Quem Mora nas Estrelas”, fui imediatamente cativado pelo título, cuja poética ressoou profundamente em mim. Desde as primeiras trocas, percebi estar diante de uma personalidade singular, cuja visão de mundo é marcada por uma criatividade e sensibilidade ímpares.

Com o tempo, ficou evidente que Marcelo é um líder nato, cuja autenticidade e originalidade influenciam positivamente todos ao seu redor. Sua trajetória como piloto de linha aérea, músico e escritor reflete uma vida rica em experiências e aprendizados, que ele compartilha com generosidade e paixão.

Como editor da PoloBooks, em São Paulo, senti-me obrigado a aprofundar essa conexão e propus a Marcelo uma entrevista formal, na qual ele poderia compartilhar suas reflexões, experiências e insights com nossos leitores. É com grande satisfação que apresento esta entrevista exclusiva, que oferece uma visão íntima do homem por trás das palavras e das asas.

Convido todos a mergulharem nesta conversa reveladora com Marcelo Rates Quaranta, um verdadeiro mestre das letras e dos céus.

A entrevista

Ivo Donayre: Marcelo, estou te entrevistando como escritor, mas tem algo fascinante para saber antes sobre você, poderia nos contar sobre sua origem cigana e como ela influenciou sua vida e carreira?

Marcelo Rates Quaranta : Minha ancestralidade cigana é uma parte fundamental da minha identidade. Em 2023, tive a honra de ser diplomado como membro da Academia Internacional de Letras e Artes Romani (AILA), a única Academia de Letras Cigana reconhecida em 75 países, sediada no Mato Grosso do Sul. Esse reconhecimentou meu compromisso com a preservação e promoção da cultura cigana. A cultura cigana valoriza profundamente a liberdade, a família e a tradição oral, aspectos que permeiam minha vida pessoal e profissional. A liberdade, por exemplo, é um princípio que se reflete na minha paixão pela aviação, permitindo-me explorar novos horizontes. Além disso, a rica tradição oral dos ciganos melhorou minha jornada como escritor, incentivando-me a contar histórias que transmitam valores e experiências de vida.

Ivo Donayre: Marcelo, nós não temos familiaridade com os ciganos, eu não tenho, por exemplo, mas parece que para você isso tem uma grande importância em tudo o que você fez e faz. Poderia nos informar mais sobre você como cigano e sobre a etnia cigana?

Marcelo Rates Quaranta: Sim, eu, como cigano, sempre procuro me referenciar à cultura cigana e sou um árduo defensor dos direitos da etnia, buscando mostrar às pessoas que nós, ciganos, temos um lado cultural que transcende nossas tradições. Defendo esse aspecto cultural e a preservação das nossas tradições. Nós, ciganos, também estamos presentes em diversas áreas profissionais, principalmente na música e na literatura.

Sou da etnia Calon, que é um dos subgrupos étnicos ciganos. Existem três troncos principais: Rom, Calon e Sinto. Ser cigano não é uma identidade única; cada tronco possui ramificações em subgrupos étnicos, definidos pela origem e pelos países onde se estabeleceram. Por exemplo, em Portugal e Espanha, predominam os ciganos da etnia Calon; na França, Alemanha e Suíça, os da etnia Sinto; e nos países da Europa Oriental, os da etnia Rom. Temos culturas distintas e tradições que apenas se assemelham, mas somos todos ciganos, assim como os indígenas, que possuem várias tribos e culturas diversas.

A única coisa que nos une universalmente é nossa origem, que remonta ao noroeste da Índia, na região do Punjab. Fomos expulsos dessa região e realizamos a primeira diáspora no século XI. Assim, nossos grupos se dispersaram e seguiram diferentes direções, absorvendo as culturas dos locais por onde passaram, o que criou essa diversidade cultural.

Todos os anos, no dia 24 de maio, nos reunimos em Saintes-Maries-de-la-Mer, na região de Camargue, França, para celebrar o dia de Santa Sara, a protetora comum de todos os ciganos. Nesse momento, transcendemos nossas diferenças e nos tornamos uma só comunidade.

Ivo Donayre: Marcelo, fiquei sabendo que a sua mãe teve uma grande influência na sua vida. Poderia nos contar mais sobre ela e como impactou sua trajetória pessoal e profissional?

Marcelo Rates Quaranta: Minha mãe, Amazyllis Rattes Quaranta, foi uma mulher de grande força e sensibilidade. Sua dedicação à família e sua paixão pela cultura e pelas artes foram inspirações constantes para mim. Ela sempre incentivou meus interesses, seja na aviação, na escrita ou na música, proporcionando um ambiente rico em estímulos culturais. Sua influência foi fundamental para que eu desenvolvesse uma visão ampla da vida, valorizando tanto a disciplina necessária na aviação quanto a criatividade na literatura e na música. Sou profundamente grato pelos valores e ensinamentos que ela me transmitiu ao longo da vida. Eu comecei a escrever aos 15 anos de idade por influência dela, tendo minha primeira publicação de poemas em acróstico nos livros (coletâneas 1 e 2  “Versos Que te Dou (Editora Pirilampo – PetrópolisRJ). Depois continuei a escrever no Orkut, onde escrevia por vários personagens num jornal virtual chamado “Dedo No Orkut”. Era um jornal satírico aludindo pessoas reais, mas com sátiras. E não parei mais de escrever.

Ivo Donayre: Marcelo, alguém me contou que você enfrentou graves problemas de saúde que colocaram sua vida em risco, gerando comoção entre seus seguidores nas redes sociais. Poderia compartilhar como foi essa experiência e o impacto que teve em sua vida pessoal e profissional?

Marcelo Rates Quaranta: Em 2019, fui diagnosticado com um tumor cerebral, uma notícia que abalou profundamente minha vida e a de meus entes queridos. A jornada de tratamento foi árdua, envolvendo cirurgias e terapias intensivas. Durante esse período, o apoio que recebi através das redes sociais foi inestimável. Mensagens de encorajamento e orações vindas de seguidores, amigos e familiares me proporcionaram força e esperança nos momentos mais desafiadores.

Essa experiência transformou minha perspectiva sobre a vida, reforçando a importância da resiliência e da empatia. Profissionalmente, passei a valorizar ainda mais cada oportunidade de voar e de escrever, reconhecendo a fragilidade da existência humana. Pessoalmente, aprendi a apreciar as pequenas alegrias do cotidiano e a importância de cultivar relacionamentos significativos.

A doença também me inspirou a compartilhar minha história, na esperança de oferecer conforto e motivação àqueles que enfrentam desafios semelhantes. Acredito que, ao dividir nossas experiências, podemos criar uma rede de apoio mútuo, fortalecendo-nos coletivamente diante das adversidades.

Ivo Donayre: Marcelo, você iniciou sua carreira na aviação em 1977 e acumulou mais de 35 anos de experiência, pilotando desde monomotores até jatos executivos. Atualmente, dedica-se a voos de prospecção pelo Brasil. O que o motivou a seguir a carreira de piloto e como foi essa trajetória?

Marcelo Rates Quaranta: Desde jovem, fui fascinado pela aviação iniciando minha jornada na aviação aos 15 anos. Ao longo dos anos, tive a oportunidade de pilotar diversas aeronaves, desde monomotores até jatos executivos. Atualmente, minha paixão é explorar as riquezas do Brasil através de voos de prospecção, uma atividade que me permite conhecer profundamente nosso país.

Ivo Donayre: Marcelo, poderia compartilhar conosco algum episódio marcante de sua carreira como piloto, algo que tenha deixado uma impressão duradoura?

Marcelo Rates Quaranta: Ao longo de mais de três décadas na aviação, vivenciei diversas situações que testaram minha habilidade e resiliência. Lembro-me de um voo em que, devido a condições meteorológicas adversas, enfrentamos turbulências severas e baixa visibilidade. Nessas horas, a experiência e a calma são fundamentais para garantir a segurança de todos a bordo. Após procedimentos precisos e trabalho em equipe, conseguimos pousar em segurança. Essas experiências reforçam a importância da preparação contínua e do compromisso com a segurança na aviação.

Ivo Donayre: Além de piloto, você é escritor e músico. Como essas diferentes facetas se complementam em sua vida?

Marcelo Rates Quaranta: A escrita e a música sempre foram formas de expressão que complementaram minha carreira na aviação. Comecei a escrever aos 15 anos, desenvolvendo um estilo próprio com poesias em acrósticos. Participei de antologias poéticas e, inspirado por cronistas como Luiz Fernando Veríssimo, passei a escrever crônicas sobre dramas e comédias cotidianas. A música também é uma paixão que cultivo, permitindo-me explorar diferentes dimensões da criatividade. Tenho participado de vários produtos da Rede Globo de Televisão, como da novela Explode Coração, cujas músicas eram tocadas pela banda Encanto Cigano, que eu participava, e que ganhou disco e platina em Portugal.

Ivo Donayre: Seu livro “Comandante… Na Íntegra da Palavra” aborda a ética e a integridade na aviação. O que o inspirou a escrever sobre esse tema e qual a importância dele para os profissionais da área?

Marcelo Rates Quaranta: Através da experiência na aviação, percebi que a segurança de voo não depende apenas de habilidades técnicas, mas também de comportamentos éticos e humanos. Essa constatação me motivou a aprofundar meus estudos nessa área e a compartilhar minhas reflexões por meio do livro “Comandante… Na Íntegra da Palavra”. A obra aborda a influência direta da ética e do comportamento humano na segurança das operações aéreas, oferecendo uma leitura objetiva e reflexiva para aviadores iniciantes e experientes.

O livro busca conscientizar os profissionais da aviação sobre a relevância desses valores, promovendo uma cultura de segurança e responsabilidade.

Ivo Donayre: Você também é articulista e já publicou diversos textos de opinião. Como surgiu esse interesse e quais temas você costuma abordar em seus artigos?

Marcelo Rates Quaranta: Sempre tive interesse em questões sociais e políticas que afetam nosso país. Escrever artigos de opinião foi uma maneira natural de expressar minhas perspectivas e contribuir para o debate público. Costumo abordar temas relacionados à política nacional, comportamento social e reflexões sobre a sociedade brasileira, buscando sempre provocar reflexão e diálogo construtivo.

Ivo Donayre: Marcelo, sabemos que você se afastou de alguns veículos de imprensa devido a polêmicas relacionadas às suas opiniões. Poderia nos contar mais sobre essa experiência e como ela impactou sua carreira?

Marcelo Rates Quaranta: Minha trajetória como articulista sempre foi pautada pela busca da verdade e pela defesa de princípios éticos. Em diversos momentos, minhas opiniões contundentes sobre questões políticas e sociais geraram controvérsias. Por exemplo, em artigos como “Explicar o quê?”, critiquei decisões do Supremo Tribunal Federal que considerei autoritárias

Em outro texto, intitulado “Tentativa de golpe…”, abordei manobras políticas que, a meu ver, ameaçavam a democracia

Essas posições firmes resultaram em pressões e, eventualmente, no meu afastamento de determinados jornais. Contudo, mantenho meu compromisso com a liberdade de expressão e continuo a compartilhar minhas reflexões por meio de plataformas independentes, acreditando na importância do debate aberto e honesto para o fortalecimento da sociedade.

Ivo Donayre: Marcelo, poderia nos falar mais sobre o seu novo livro “Quem Mora nas Estrelas”? O que o motivou a escrevê-lo e para quem ele é destinado?

Marcelo Rates Quaranta: “Quem Mora nas Estrelas” é uma obra que nasceu do desejo de explorar as profundezas da imaginação e da espiritualidade. Inspirado pelas vastidões celestiais que sempre observei durante meus voos, o livro busca responder perguntas existenciais sobre nosso lugar no universo e as conexões que temos com o cosmos. Escrevi esta obra para todos que se encantam com o mistério das estrelas e procuram um sentido mais profundo na vida. É uma leitura destinada a sonhadores, exploradores da alma e amantes da literatura que transcende o cotidiano, convidando-os a uma jornada de autodescoberta e reflexão. “Quem Mora Nas Estrelas” traz como narrador, o Lelo, um piloto cigano. baseado em minhas experiências pessoais.

Ivo Donayre: Marcelo, qual a importância das redes sociais para você e seu trabalho como escritor? Poderia compartilhar algum episódio marcante relacionado a elas?

Marcelo Rates Quaranta: As redes sociais desempenham um papel crucial na minha carreira literária. Elas me permitem alcançar um público amplo e diversificado, facilitando a divulgação dos meus textos e a interação direta com os leitores. Essa proximidade enriquece meu trabalho, pois recebo feedback imediato e posso compreender melhor as perspectivas do público.

Um episódio marcante ocorreu quando publiquei um artigo sobre a “ofelização” do Brasil, uma crítica à superficialidade de certos discursos na sociedade atual. O texto gerou um debate intenso nas redes sociais, com ampla participação dos leitores. Essa repercussão evidenciou o poder das plataformas digitais em fomentar discussões relevantes e ampliar o alcance das minhas reflexões.

Contudo, é importante destacar que a exposição nas redes também traz desafios. Em algumas ocasiões, minhas opiniões geraram polêmicas que resultaram em afastamento de certos veículos de mídia tradicional. Apesar disso, mantenho meu compromisso com a verdade e a integridade, utilizando as redes sociais como ferramentas para promover o diálogo e a reflexão crítica.

Ivo Donayre: Para finalizar, que conselho você daria para jovens que desejam seguir carreira na aviação ou na escrita?

Marcelo Rates Quaranta: Para aqueles que desejam ingressar na aviação, recomendo dedicação, disciplina e um compromisso inabalável com a segurança e a ética profissional. É uma carreira desafiadora, mas extremamente gratificante. Para os aspirantes a escritores, incentivo a leitura constante, a prática da escrita e a busca por uma voz autêntica. Em ambas as carreiras, a paixão pelo que se faz é fundamental para superar os obstáculos e alcançar o sucesso.

Ivo Donayre: Marcelo, agradeço imensamente por compartilhar suas experiências e insights conosco. Desejamos sucesso em seus projetos futuros e aguardamos ansiosamente pelo lançamento de seu novo livro.

Marcelo Rates Quaranta: Eu que agradeço pela oportunidade de conversar e compartilhar um pouco da minha trajetória. Foi um prazer participar desta entrevista.

Epílogo

Após a entrevista com Marcelo Rates Quaranta, refleti sobre a profundidade de sua humildade e sabedoria. Desde o primeiro contato, sua abordagem genuína e acessível me cativou, revelando um líder influente nas redes sociais que inspira e motiva seus seguidores.

Marcelo compartilhou experiências de vida que refletem resiliência e determinação, especialmente ao enfrentar desafios pessoais e profissionais. Sua capacidade de transformar adversidades em oportunidades de crescimento é admirável e serve de exemplo para muitos.

Seu novo livro, “Quem Mora nas Estrelas”, sintetiza seus propósitos de vida, oferecendo ao leitor uma visão profunda e reflexiva sobre a existência humana e nossa conexão com o universo. A obra reflete sua jornada pessoal e seu desejo de compartilhar aprendizados valiosos com o mundo.

Sinto-me honrado em tê-lo conhecido e em poder contribuir para a divulgação de seu trabalho. Nossa interação reforçou em mim a importância de cultivar relacionamentos baseados na autenticidade e no propósito compartilhado de promover conhecimento e inspiração e a bondade e bem-estar para com todos. Agradeço a Marcelo Rates Quaranta por sua generosidade em compartilhar sua história e por nos brindar com sua obra, que certamente tocará o coração de muitos leitores.