A expectativa da chegada

A manhã estava especialmente agradável, com o sol surgindo entre nuvens que ainda guardavam o frescor da noite anterior. Ao sair do escritório da Polo, levei comigo uma pasta de anotações e a empolgação de estar mais uma vez diante de Hugo Paino de Oliveira, autor do livro “Reconectar – A Superação de Três AVCs com a Transformação pela Acupuntura”. A jornada até seu consultório não era apenas uma viagem física, mas uma preparação mental e emocional para uma interação quase mística. Enquanto dirigia pelas ruas arborizadas de São Paulo, refletia sobre a força e a determinação de um homem que enfrentou três AVCs e transformou sua dor em inspiração para si mesmo e para tantos outros. Minhas expectativas para o encontro eram grandes.

Ao chegar à Avenida Mascote, 877, comecei a manobrar o carro para estacioná-lo de ré na vaga do consultório. Pelo retrovisor, avistei a figura acolhedora de Hugo, prontamente me auxiliando para garantir que o veículo ficasse bem-posicionado, sem atrapalhar os carros vizinhos. Vestindo um avental branco impecável, ele trazia no rosto um sorriso genuíno que exalava serenidade e simpatia. Ele me cumprimentou com firmeza, mas sem pressa, como quem valoriza cada encontro. Estava claro que eu estava diante de alguém que emanava equilíbrio – um misto de força e gentileza, autoridade e acolhimento.

À minha frente, um simpático sobrado pintado de branco. A fachada, simples e elegante, era bem cuidada e convidativa. Ao entrar, um corredor com plantas vivas imediatamente transmitia tranquilidade. Subimos juntos as escadas até o andar indicado e, ao cruzar a porta, fui envolvido por uma atmosfera que parecia abraçar os sentidos: o aroma suave de óleos essenciais perfumava o ar, enquanto uma delicada música instrumental ecoava ao fundo.

A sala era funcional, mas acolhedora, com uma maca central, certificados pendurados nas paredes, quadros que representavam a energia vital do corpo humano e objetos cuidadosamente dispostos que refletiam sua prática terapêutica. Dois lindos quadros chamaram minha atenção, e Hugo explicou que um deles havia sido pintado por sua filha, Verônica. A harmonia do ambiente era palpável, uma extensão da essência do próprio Hugo.

Antes de começarmos, ele fez questão de oferecer um copo de água energizada pela técnica do Reiki, um gesto aparentemente simples, mas carregado de significado e cuidado. Sua hospitalidade transformava cada detalhe em uma experiência memorável.

A realização da entrevista

Ivo Donayre: Hugo, é uma honra poder conversar com você e conhecer mais sobre sua história. Para começar, quem é Hugo Paino de Oliveira?

Hugo Paino de Oliveria: Eu é que agradeço pela oportunidade, Ivo. Bom, sou técnico de patologia clínica, farmacêutico, acupunturista, reikiano, praticante de Barras de Access e terapeuta das origens. Nasci em Santo André, São Paulo, em 1983, e venho de uma família muito trabalhadora e cheia de valores. Minha trajetória é marcada por desafios, especialmente os problemas de saúde que enfrentei desde cedo, mas também por uma busca incessante por superação e equilíbrio.

Ivo Donayre: Sua história é inspiradora e, ao mesmo tempo, desafiadora. Você poderia nos contar mais sobre os AVCs que sofreu e como eles mudaram sua vida?

Hugo Paino de Oliveira: Claro. Meu primeiro AVC aconteceu quando eu tinha apenas 8 anos. Foi um momento muito assustador para mim e para minha família. Lembro que caía com frequência, e, um dia, enquanto jogava bola no quintal, fraturei o braço direito. Naquele momento, eu estava tendo meu primeiro AVC. Foram cerca de dois anos até que os médicos finalmente descobrissem o que realmente havia acontecido comigo. Durante esse período, vivi e morri a cada consulta. Os médicos, sem pedir os exames adequados, já vinham com diagnósticos precipitados, dizendo coisas como: “Já sei o que o Hugo tem: ELA, autismo, leucemia…”, tudo menos o diagnóstico correto. Foi somente quando começaram a investigar mais a fundo que chegaram a uma conclusão.

Esse AVC trouxe muitas sequelas, como perda de força no lado direito do corpo e dificuldades motoras. Porém, também marcou o início da minha jornada de resiliência e transformação.

Aos 19 anos, já na faculdade de Farmácia, sofri o segundo AVC. Esse foi outro golpe duro, pois afetou minha mobilidade e exigiu que eu interrompesse temporariamente os estudos. Foi uma fase em que precisei reunir muita força para continuar. Já o terceiro AVC, aos 31 anos, foi um dos mais impactantes, pois afetou minha visão. Perdi cerca de 50% do campo visual e precisei aprender a lidar com essa limitação. Cada AVC trouxe desafios únicos, mas também me mostrou a importância de ressignificar minha vida e buscar formas de superar as adversidades.

Ivo Donayre: Você mencionou a palavra “ressignificar” algumas vezes. Como foi esse processo para você?

Hugo Paino de Oliveria: Foi um aprendizado longo e intenso. No início, eu carregava muita revolta e não conseguia entender por que estava passando por aquilo. Mas, aos poucos, percebi que precisava olhar para dentro de mim e entender que tudo na vida tem um propósito. Foi quando comecei a buscar práticas que me ajudassem a reencontrar meu equilíbrio, como a acupuntura, o reiki e outras terapias holísticas. Ressignificar foi, para mim, um ato de amor-próprio e uma forma de me reconectar com a vida.

Ivo Donayre: E a acupuntura, como ela entrou na sua vida?

Hugo Paino de Oliveria: Foi minha esposa, Katia, quem me incentivou. Na época, eu não acreditava muito no poder da acupuntura. Parecia algo distante da minha formação científica como farmacêutico. Mas decidi tentar e me matriculei em uma pós-graduação na área. Logo na segunda aula, tive uma experiência transformadora com a auriculoterapia. Ao estimular pontos específicos, senti meu corpo relaxar de uma forma que nunca havia experimentado. Foi mágico! A partir daí, me apaixonei pela técnica e percebi que ela poderia ser uma grande aliada, tanto na minha recuperação quanto para ajudar outras pessoas.

Ivo Donayre: É incrível como a acupuntura transformou sua vida. Mas sei que sua trajetória vai além disso. Como foi sua infância e sua relação com sua família?

Hugo Paino de Oliveria: Minha infância foi marcada por muitos aprendizados e também por momentos difíceis. Meu pai faleceu quando eu tinha 5 anos, vítima de um câncer de intestino. Naquela época, eu era muito novo para entender o que estava acontecendo. Cheguei a acreditar que ele estava viajando e que voltaria a qualquer momento. Isso criou uma espécie de vazio em mim, que levei anos para compreender. Minha mãe foi uma verdadeira guerreira. Mesmo diante de todas as dificuldades, ela sempre nos ensinou valores importantes, como honestidade e respeito. Ela fez o papel de mãe e pai por um bom tempo, e sou muito grato por tudo o que ela fez por mim e pelos meus irmãos.

Ivo Donayre: Você mencionou seus irmãos. Qual foi o impacto deles na sua vida?

Hugo Paino de Oliveria: Meus irmãos sempre foram um grande apoio para mim. Meu irmão Lucas é apenas quatro anos mais novo que eu, e nossa relação sempre foi muito próxima. Ele me chamava de pai quando era pequeno, o que, de certa forma, me deu um senso de responsabilidade muito cedo. Minha irmã Isabella, que nasceu do relacionamento da minha mãe com meu padrasto, considero ele como o meu pai um homem que me ajudou e me ajuda muito, é uma pessoa incrível. Ela é uma inspiração para mim, com sua determinação e inteligência. E, também, tenho a Thais, irmã de consideração, que sempre foi como parte da família. Todos eles, de alguma forma, me ensinaram lições valiosas sobre amor e resiliência.

Ivo Donayre: Hugo, sua história é marcada por muito trabalho e dedicação. Como você conseguiu equilibrar tudo isso com seus desafios de saúde?

Hugo Paino de Oliveria: Foi um processo de aprendizado constante. Desde muito jovem, comecei a trabalhar para ajudar minha família. Aos 12 anos, já fazia cartões de visita e trabalhos de digitação. Mais tarde, trabalhei no Foto Capuava, durante a faculdade, conciliava os estudos com empregos em farmácias e drogarias. Houve momentos em que quase desisti, mas sempre me lembrava das palavras do meu padrasto: “Força, mexa-se, não fique parado”. Essa determinação me ajudou a superar os momentos mais difíceis e a buscar formas de melhorar continuamente.

Ivo Donayre: E como foi a transição de funcionário para empreendedor?

Hugo Paino de Oliveria: Foi uma decisão difícil, mas muito gratificante. Em 2013, resolvi abrir meu próprio consultório de acupuntura. No início, foi desafiador. Eu tinha que conciliar três empregos. Mas, aos poucos, fui conquistando pacientes e construindo minha reputação. Hoje, trabalho em um espaço maior e conto com uma equipe multidisciplinar. Essa transição me ensinou muito sobre resiliência e sobre a importância de acreditar nos nossos sonhos.

Ivo Donayre: Falando em sonhos, seu livro, Reconectar – A Superação de Três AVCs com a Transformação pela Acupuntura, é um grande exemplo disso. O que o motivou a escrevê-lo?

Hugo Paino de Oliveria: Minha motivação foi a vontade de ajudar outras pessoas. Passei por muitas dificuldades e sei o quanto é importante ter apoio e inspiração para seguir em frente. Ricardo Murça, foi a pessoa que deu o grande Start nessa jornada. Meu objetivo com o livro é mostrar que, mesmo diante dos maiores desafios, é possível encontrar um caminho para a superação. Se minha história puder inspirar alguém a não desistir, então todo o esforço terá valido a pena.

Ivo Donayre: Para encerrar, Hugo, que mensagem você gostaria de deixar para quem está enfrentando desafios semelhantes aos que você viveu?

Hugo Paino de Oliveria: Minha mensagem é: nunca desista. A vida é cheia de altos e baixos, mas cada desafio é uma oportunidade de crescimento. Cuide de você mesmo, busque apoio quando precisar e acredite que é possível superar qualquer obstáculo. E, acima de tudo, seja grato. A gratidão transforma nossa visão de mundo e nos ajuda a encontrar força para continuar.

A volta ao dia a dia

Ao final da entrevista, lembrando essas últimas palavras do Hugo, a sensação de gratidão toma conta de mim. A conversa com Hugo foi muito além do esperado. Ele não apenas compartilhou sua história, mas também ensinamentos sobre resiliência, superação e a importância de nos reconectarmos conosco mesmos.

Enquanto ele me acompanha até a porta, agradeço calorosamente por sua disponibilidade e por compartilhar sua jornada. Hugo, mais uma vez, se mostra atento, perguntando se a entrevista atendeu às minhas expectativas e me desejando um excelente dia. Ao sair do consultório, percebo que carrego algo muito mais valioso do que as anotações feitas durante a conversa – levo comigo a inspiração de um homem que, mesmo diante de tantos desafios, encontrou na vida motivos para continuar.

No caminho de volta, meu pensamento flutua entre os detalhes da entrevista e a percepção de que estive diante de uma pessoa extraordinária. O privilégio de ouvir sua história e aprender com suas experiências me faz refletir sobre a capacidade humana de transformar dor em propósito, dificuldades em aprendizado e adversidades em amor.

O dia, que começou com expectativa, termina com a sensação de ter vivenciado um momento único, daqueles que ficam guardados na memória como uma lembrança que não se apaga. Hugo não é apenas um autor ou um terapeuta; ele é uma lição viva de coragem e gratidão.