Os mundos diferentes da escola hoje e a escola de antes

Olá, pessoal! Anteontem tive o grande prazer de ministrar uma palestra para professores de uma escola que estudei e gostava, a Achilles de Oliveira Ribeiro, na Zona Leste de São Paulo, onde vivi a infância e boa parte da juventude. Amei rever a escola e sua região, que estão em meu coração. Foi uma grande emoção voltar às origens, e a turma de professores e coordenadoras é maravilhosa!!!

Falei para os professores sobre mim, na vida pessoal e na vida de escritora, minha experiência do primeiro ano do Ensino Fundamental ao último ano do Ensino Médio, do ponto de vista da inclusão e sobre a inclusão no geral.

Tiramos fotos juntos, conversamos e fizemos um tour na escola e, gente, como o mundo escolar está completamente novo. É um outro mundo!!! Posso dizer que da porta da escola para dentro, existe inclusão! Super diferente da minha época, sendo uma estudante cadeirante da década de 90 e início dos anos 2000.

Bem, primeiro, neste Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, vou contar como era na minha época. Quando tinha 6 anos, no meu primeiro dia de aula, a diretora disse que meus pais poderiam ir embora tranquilos que ela me encaminharia para minha sala, mas fiquei abandonada sozinha no pátio. A moça da faxina me viu chorando, perguntou o que era e me salvou ligando para meus pais.

Meu pai conseguiu outra escola e contou para a diretora o que passei. Essa segunda escola foi ótima e os professores me incluíam nas gincanas. Uma professora até me pegou no colo para eu usar o amassador de latinhas!

Após a terceira série, o Governo fez uma alteração e quem ainda era do primário tinha que estudar naquela escola que me negligenciou e todo o problema voltou: havia salas embaixo, mas a escola disse que não iria passar uma sala inteira para baixo e deslocar outra por causa de uma única aluna. Então, minha mãe, que já sofria muita pressão no trabalho e tinha 3 problemas na coluna, aposentou-se com 25 anos de trabalho e já começou a ter de subir até o segundo andar com sua filha pré-adolescente de 9 anos no colo para que eu pudesse estudar.

Conheci a Achilles só no primeiro ano do Ensino Fundamental II, então, mudei para essa escola na metade da quinta série. Os professores eram ótimos e a sala no térreo. Professores e demais funcionários me tratavam muito bem e eles cuidavam de mim, dando-me lanches, quando minha mãe se atrasava, por estar em processo de separação do meu pai.

Eu vivi o Ensino à Distância antes de ter internet e pandemia, pois minha mãe ia de casa em casa de alunos pegar o caderno emprestado para tirar xerox. O tempo passou e tive de mudar para a única escola próxima que, além de ter o colegial, era no período da manhã, período que sempre gostei de estudar; era a escola onde sempre tive experiências ruins.

Dessa vez, minha sala era no térreo, mas eu precisava de uma carteira mais alta, pois havia operado a coluna. Minha mãe que teve que mandar fazer e pagar, pois a escola não forneceria uma mesa especial e essa mesa era sempre pichada por alunos baderneiros de outros períodos, que dominavam a escola.

Resumindo, na minha época, era problema apenas do próprio cadeirante não poder subir escadas e não conseguir utilizar a carteira-padrão. Também não existiam elevadores, nem banheiro que ao menos pudesse entrar uma cadeira de rodas, nem macas, nem rampas, nem funcionários disponíveis para ajudar, nem uma segunda sala para preparar os alunos com deficiência para a sala comum, nem playgrounds adaptados etc. Alunos com deficiências que alteram o aprendizado eram jogados em sala comum sem nenhum preparo e/ou acolhimento…

Com todo esse ambiente, eu era sempre exclusiva e só fui estudar com outro cadeirante na faculdade. Naquela época, era extremamente difícil encontrar alguém com deficiência severa desde criança que tivesse concluído os estudos. 

Atualmente, a Achilles está lindíssima, e continua exclusiva para crianças e jovens do Ensino Fundamental. Toda colorida e alegre, tem playground adaptado, um espaço para preparar alunos com deficiência para a sala comum, banheiro que cabe cadeira de rodas e que é adaptado, maca para alunos que precisam ser trocados, funcionários para ajudar alunos com deficiência no banheiro, nas sondagens ou nas trocas, funcionários para empurrar as cadeiras de rodas e ajudar em alguma outra questão. Todas as salas de aulas têm rampas e disseram que todas as escolas com andares possuem elevadores!!!

Quem dera se toda a inclusão — respeitar e acolher as necessidades específicas de cada pessoa é a verdadeira inclusão — se estendesse dos portões escolares para fora também! Nosso “planeta” precisaria ser como a Achilles, mas infelizmente esse acolhimento e respeito às necessidades especiais não é visto na sociedade fora das escolas e necessidades fisiológicas básicas de pessoas com deficiências, de moderadas a severas, ainda são negligenciadas.

Todo tipo de deficiência é jogado dentro do mesmo saco e tratado como igual, sendo as necessidades especiais negadas e aumentando ainda mais o abismo entre pessoas com deficiência de moderada a grave e o restante da sociedade, como se as escolas e a vida fora dela vivessem em planetas muito diferentes.

Quem dera também se foguetes pudessem dar ré e pessoas que viveram minha época, incluindo eu, pudesse reviver desde a infância nesse novo mundo que as escolas estão vivendo hoje!

Querida equipe Achilles, gratidão por me acolher e me convidar para conhecer esse novo e encantador planeta. Nossa! Todo o carinho recebido pelo corpo docente e aquele abraço que recebi daquele aluno que geralmente não abraçava ninguém, não têm preço! Amei tudo. Quem sabe um dia nossos planetas se fundam e tudo vire um único e grande planeta colorido, mágico e divertido como meu novo livro prestes a ser lançado, A Chave mágica 2.