A realidade das crianças com deficiência no Brasil
O Brasil possui aproximadamente 2,7 milhões de pessoas com deficiência, sendo que cerca de 30% delas têm menos de 18 anos. As crianças cadeirantes enfrentam desafios significativos em seu dia a dia, desde o acesso à educação até a inclusão social. Neste artigo, vamos explorar os principais desafios.
Desafios
- A Lei 9.394, de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), garante o direito à educação inclusiva. No entanto, muitas escolas brasileiras ainda não oferecem estrutura adequada para crianças com deficiência, incluindo falta de rampas, elevadores e banheiros acessíveis.
- As cidades brasileiras frequentemente carecem de infraestrutura acessível, tornando difícil o deslocamento para crianças cadeirantes. Calçadas esburacadas, falta de rampas e sinalização inacessível são apenas alguns exemplos.
- O acesso a serviços de saúde especializados é limitado, especialmente em áreas rurais. Além disso, muitos profissionais de saúde não têm treinamento adequado para atender crianças com deficiência, que precisam de cuidados especiais.
- No Brasil, ao contrário de muitos países europeus, o preconceito e o estigma ainda são comuns. Crianças cadeirantes enfrentam bullying, isolamento social e discriminação, e a sociedade ainda não está suficientemente preparada para aceitar e incluir essa população.
- A falta de recursos é uma grande dificuldade para as famílias de crianças com deficiência, que têm acesso limitado a recursos financeiros para comprar equipamentos e cuidados especializados. Além disso, medicamentos e fraldas têm custos elevados, dificultando ainda mais o atendimento às necessidades dessas crianças.
Legislação e Aquisição
- O Brasil possui uma legislação avançada em matéria de direitos das pessoas com deficiência, incluindo a Lei de Acessibilidade (Lei nº 10.098/2000) e o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). É importante que os pais busquem seus direitos garantidos por essas leis.
- Programas como o “Inclusão Escolar”, do Ministério da Educação, visam promover a educação inclusiva, com professores treinados para proporcionar um ensino de qualidade para crianças com deficiência.
- O governo federal lançou iniciativas como o “Programa Nacional de Acessibilidade” e o “Plano Nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência”. Esses programas auxiliam os pais dessas crianças na aquisição de equipamentos de alto custo, que podem ser financiados por instituições bancárias com juros diferenciados.
- Organizações Não Governamentais: ONGs como a Associação Brasileira de Assistência às Pessoas com Deficiência (ABAPD) e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) trabalham para promover a inclusão. Essas organizações são uma ótima opção de apoio para crianças com deficiência e outras pessoas. É importante incentivar o surgimento de mais ONGs atuando no Brasil, pois representam um auxílio essencial para essa população.
Mobilidade
- Investir em infraestrutura para melhorar a acessibilidade urbana e escolar é fundamental para garantir a inclusão social e a autonomia dessas crianças.
- Capacitar profissionais das áreas de saúde e educação para atender crianças com deficiência é essencial para desenvolver habilidades e conhecimentos específicos.
- Promover uma abordagem centrada na família e incentivar o respeito à diversidade e à inclusão.
Conclusão
As crianças cadeirantes no Brasil enfrentam desafios significativos, mas também existem conquistas importantes. É fundamental continuar trabalhando para promover a inclusão e garantir que essas crianças tenham acesso à educação, saúde e oportunidades iguais. A sociedade brasileira deve se unir para construir um futuro mais acessível e inclusivo para todos.
Referên0cias Bibliográficas
- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei nº 9.394/1996.
- Brasil. Ministério da Educação. (2010). Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica.
- Perrenoud, P. (2000). Pedagogia diferenciada. Artmed.
- Organização Mundial da Saúde (2011). Relatório Mundial sobre Deficiência.
- Brasil. Ministério dos Direitos Humanos. (2019). Guia de Acessibilidade.
- Santos, M. A. (2017). Mobilidade urbana e acessibilidade.
Parabéns pelo texto! Passei por várias etapas como cadeirante (menos a fase idosa), pois fui atropelada após ser deixada sozinha, aos 10 meses de vida, na calçada pela cuidadora enquanto meus pais trabalhavam. Naquela época, até bebês ficavam sozinhos na UTI, e em outras internações, se o hospital não permitisse a presença dos pais, também não havia como ficarem. Além disso, não existiam cadeiras de rodas pequenas, então até meus cinco anos eu era sempre carregada, o que impediu meu desenvolvimento físico. Na primeira escola, fui deixada abandonada no pátio, na segunda, fiquei sem acesso a banheiros, carteiras adaptadas, rampas, elevadores ou qualquer tipo de adaptação. Por dois anos, minha mãe me carregou no colo por dois andares para que eu pudesse estudar, já que “não mudariam a sala por causa de uma única aluna.” Também não havia preocupação com o emocional da criança cadeirante; o foco era apenas a deficiência física visível, sem trabalhar minha inclusão ou meu desenvolvimento emocional. Como resultado, não tive amigos.
Nos primeiros seis anos de vida, conhecidos como primeira infância (ou primeira e segunda infâncias, segundo alguns), formamos 90% das conexões neurais essenciais para o nosso desenvolvimento. Esses anos iniciais são fundamentais para definir o adulto que nos tornaremos, e a ideia de que basta atingir a maioridade para ter estabilidade emocional e superar traumas é uma ilusão. Embora hoje haja melhorias para crianças e jovens, ainda há muito a ser feito, e, ao atingirem a maioridade, a situação piora ainda mais: não há nenhum tipo de suporte, e espera-se que tenham se desenvolvido como quem teve uma infância saudável. O bullying se torna mais intenso.
Por 12 anos, fui perseguida por uma vizinha que considera cadeirantes inferiores, e “inferiores não devem ter computador.” Quando chamei a polícia, ouvi: “Você já é maior de idade, é só se mudar.” Pessoas com mais de 18 anos são sempre esquecidas. Deveríamos cuidar muito melhor dessas crianças nos primeiros seis anos de vida para que não cresçam carregando problemas emocionais, como eu. E deveríamos também oferecer acolhimento a adultos que foram gravemente feridos, tanto física quanto emocionalmente.
Nani, sua história de vida é uma história que deve servir de exemplo para pessoas que acham que passaram po dificuldades, que foram deixados de lado alguma vez, que sofreram bulling. Você sobreviveu a todas essas dificuldades e injustiças. Hoje ainda você deve continuar a ter dificuldades, mesmo com um avanço na condição do cadeirante. Convido você a se expressar através deste canal aberto para os cadeirantes e outros PCDs para contarem suas experiências de vida para que nos todos tomemos consciência desses problemas e de alguma forma ajudemos para melhorar ainda mais a condição de vida dos que precisam de cuidados especiais.