Uma Protagonista na Construção de uma Sociedade Mais Justa e Igualitária

Introdução

Este artigo busca refletir sobre o papel da mulher guineense em uma sociedade patriarcal e machista. Apresenta uma breve análise do protagonismo dessas mulheres durante a luta de libertação colonial e a compara com a realidade 51 anos após a independência, em um país que se declara democrático.

Desenvolvimento

Muito se debate sobre igualdade de gênero e a necessidade de as mulheres ocuparem espaços de destaque. Afinal, já administramos com maestria a base de qualquer sociedade: a família. No contexto guineense, a autora Artemisa Candé Monteiro destaca a trajetória excepcional das mulheres na luta de libertação colonial. Elas participaram ativamente no campo de batalha, lado a lado com os homens nas fileiras do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Apesar das limitações impostas pelo sistema patriarcal, várias mulheres assumiram papéis como guerrilheiras, enfermeiras e espiãs. Um exemplo notável é Titina Silá, ícone da resistência armada, que se tornou símbolo de sacrifício e liderança. Sua atuação direta nos combates rompeu normas de gênero, redefinindo os papéis sociais no contexto da guerra.

Atualmente, a desigualdade de gênero na Guiné-Bissau continua sendo uma questão crítica, reflexo das interseções entre tradições culturais, estruturas socioeconômicas e fragilidades institucionais. A desigualdade educacional é uma das barreiras mais significativas à equidade de gênero: as taxas de analfabetismo entre as mulheres são consideravelmente mais altas que entre os homens, devido à menor taxa de matrícula e maior abandono escolar feminino. No mercado de trabalho, a presença feminina concentra-se no setor informal e na agricultura de subsistência. A falta de acesso a recursos financeiros, terra e crédito limita o empreendedorismo feminino, enquanto a discriminação de gênero dificulta sua entrada e progressão em setores formais. Além disso, as mulheres enfrentam uma dupla jornada, equilibrando trabalho remunerado e responsabilidades domésticas não remuneradas.

A sub-representação das mulheres na política guineense é outro reflexo da desigualdade. Apesar de esforços legislativos, como a lei de paridade, os números permanecem baixos. Durante o período do partido único (1973-1994), a representação feminina no parlamento variou entre 8,3% e 20%. No entanto, desde a introdução do multipartidarismo em 1994, essa participação nunca ultrapassou 11%.

A fragilidade do Estado dificulta a implementação de políticas eficazes para promover a igualdade de gênero. Crises políticas e econômicas recorrentes reduzem os recursos destinados a educação, saúde e proteção social, setores essenciais para a emancipação feminina. A aplicação inconsistente de leis que protegem os direitos das mulheres, como contra o casamento infantil e a violência de gênero, perpetua ciclos de desigualdade e vulnerabilidade.

Embora os desafios sejam imensos, há sinais de progresso. Movimentos feministas e organizações da sociedade civil desempenham papéis fundamentais na conscientização e na luta pelos direitos das mulheres. A promoção da igualdade de gênero na Guiné-Bissau exige mudanças culturais, políticas públicas eficazes e fortalecimento das instituições democráticas.

Conclusão

O papel das mulheres guineenses na luta de libertação foi mais do que resistência armada: foi um movimento de emancipação política, social e cultural que desafiou tanto o colonialismo quanto as estruturas patriarcais. Elas foram agentes de transformação em múltiplos níveis, apesar das limitações impostas.

O empoderamento feminino na Guiné-Bissau requer mais do que políticas públicas: exige uma mudança estrutural na forma como a sociedade concebe as relações de gênero. Isso inclui desconstruir normas culturais que relegam as mulheres a papéis subordinados e ampliar sua participação ativa em decisões políticas, econômicas e comunitárias. A luta pelo empoderamento feminino deve considerar as múltiplas opressões que atravessam as mulheres, como classe, etnia e região geográfica. A interseccionalidade é essencial para garantir soluções inclusivas e representativas das diversas experiências femininas no país.

Por fim, o empoderamento feminino deve ser entendido como um processo coletivo, que exige a participação de homens, mulheres, comunidades e instituições. É necessário criar alianças para desafiar estruturas patriarcais e promover a igualdade como um objetivo compartilhado. Investir no empoderamento feminino não é apenas uma obrigação moral, mas também uma estratégia eficaz para fortalecer a democracia, erradicar a pobreza e construir uma sociedade mais justa e equitativa.

Mindjer Guineense, kabu dissa ninguim convenceu di kuma bu ka kapaz!

Referências

  • Boletim Oficial: Lei de participação das mulheres na política e nas esferas de decisão. Bissau, terça-feira, 4 de dezembro de 2018.