Por que me tornei editora – Marianna Roman
Disponível na livraria Polo Books https://www.livrariapolobooks.com.br/ouroboros
Quando eu era criança, costumava encenar personagens da Disney na minha casa, em cenas das animações que eu gostava. Com o passar do tempo, eu comecei a criar minhas próprias histórias e o que antes era uma brincadeira solo acabou por se transformar em montagem de um teatro improvisado na garagem de casa, no qual o público eram as bonecas e a família. Minha vó fazia o figurino e eu me caracterizava de todos os personagens. Mudava voz, cabelo, maquiagem, roupa, acessórios. Cantava, dançava e dava vida às histórias que estavam na minha cabeça.
Minha mãe me apresentou ao cinema, aos 9 anos, e eu me apaixonei pela tela gigante e a experiência de ir aquele local. Afinal, dia de cinema era evento! Como a maioria das coisas é quando se é criança. Então, anos mais tarde, eu decidi me arriscar num projeto cinematográfico depois de escrever alguns roteiros. Sempre com esse meu espírito aventureiro, sem tempo ruim e sem tempo para não ter tempo, para pensar muito antes de fazer, para pensar demais nos desafios – eu só queria vive-los e fazê-los, não importava se iria vencê-los; na minha cabeça, eu já era vitoriosa – tracei metas de um filme com os amigos da escola e fui em frente com isso. E tudo ia bem até que minha mãe decidiu plantar uma semente diferente em mim. Em pé, na cozinha de casa, ela disse: “escreve um livro”.
Naquela época, eu encarei a tal frase como uma grande piada, loucura. Para mim, eu jamais seria capaz de escrever um livro. Isso porque eu sempre tive uma relação próxima com a leitura e não me imaginava no meio da complexidade de criação daquelas histórias que tanto me acompanhavam. Pensei que minha mãe tinha perdido o juízo. A adolescente em mim, como qualquer outro, não gostou de ter sua vontade contrariada e ignorou completamente a sugestão. Seguindo com o projeto anterior.
Mas algo em mim despertou naquele dia, mesmo que, de início, eu não desse atenção. As aulas de Literatura ganharam mais afinco, eu comecei um relacionamento ainda mais sério com as produções textuais nas aulas. As notas e os comentários dos professores só me remetiam ao que minha mãe falara.
As primeira páginas de “Doce Veneno”, meu primeiro romance publicado, nasceram algumas semanas mais tarde e seis meses depois, o livro estava impresso diante de mim, nas minhas mãos e eu senti o peso de ter transformado ideias num projeto final. As palavras me encontraram num universo fantástico, cheio de memórias de coisas assistidas e vividas, e fizeram nascer o amor entre Alden e Darin. Claro, a minha escrita se transformou tanto com o tempo, mas, ainda assim, eu me orgulho do que eu fiz. Tantas obras já vieram depois dela, mas não vamos pular etapas.
Além de escritora, eu decidi que daria um passo além.
Quando “Doce Veneno” nasceu, eu conheci outros escritores muito próximos. Eles eram membros da família, colegas de escola, amigos da família e amigos. Pessoas com ideias, mas sem direção, sem sequer saber por onde começar. E quando também viram alguém tão próximo com um livro em mãos até passaram a cogitar a possibilidade de realizar aquilo que só parecia mais outro mero sonho. Foi ali que eu decidi que seria esse norte, esse direcionamento, que os ajudaria a acreditar cada vez mais em seus sonhos. E é por isso que até hoje, dona de editora, escritora, e editora, o que me faz continuar é entender, dentro de mim, que o melhor presente que se pode dar a alguém é a possibilidade/oportunidade. E assim fazê-las acreditar, guiando-as aos seus sonhos no mundo real.
Aprendi a ser editora na prática. Cheguei a esse mundo sem saber nada ou quase nada. Entendendo como o Mercado nos vê e quebrando minhas próprias expectativas sobre o mundo ao meu redor. No entanto, costumo dizer que meu trabalho fez de mim uma boa profissional, mas uma pessoa melhor. As pessoas nos desafiam todos os dias com seus gostos, manias, opiniões. Em muitos momentos, nos falta ar, mas aprendi também a compreender o privilégio de viver esse sonho. De poder viver do meu sonho. E talvez, depois, claro, dos motivos que me trouxeram até aqui, essa seja a parte mais importante de fazer o que eu faço como eu faço.