Você aceita um marcador? Livia Messias 9ideia Editora
Disponível na livraria PoloBooks https://www.livrariapolobooks.com.br/contronicas-historias-amorfas-de-quarentena
A escritora Joice Lourenço, que ainda não tive a alegria de conhecer pessoalmente, me enviou uma mensagem perguntando se eu gostaria de participar de uma feira literária em São Paulo, cidade onde nem eu, nem ela morávamos.
O ano era 2014. Concluindo um romance juvenil numa parceria a distância com Poliana Costa – ela em Minas Gerais e eu em Pernambuco – sem nenhum livro físico, nós decidimos que participaríamos da dita feira. Munidas de mil marcadores de página e um banner estampando a capa do nosso livro, chegamos a São Paulo com o que chamam de a cara e a coragem.
Estande com vários autores de diversas partes do país, cada um com seu livro físico nas mãos. Passantes, curiosos, leitores, expositores, cada par de perna que cruzava nosso caminho ouvia um “você aceita um marcador?”. Eu e Poliana aproveitávamos para engatar o “este é nosso livro, ele está disponível em formato digital na…”. Antes que a gente pudesse pronunciar Amazon, a pessoa já soltava um: “Mas ninguém compra e-book!”. E não comprava mesmo. Em 2014 as pessoas sentiam dó de autores que não possuíam uma versão física de suas obras. Mas a vida, meus amigos, a vida é uma caixinha de surpresas.
2015 estreou com uma novidade. Eu, pernambucana, morando em Recife, vi as chamadas para a X Bienal Internacional do Livro estampadas por todo lado. Inquieta com alguma coisa que não sabia explicar, mas hoje sei que era inspiração, telefonei para a empresa que comercializava estandes e quis saber como participar. Veja bem, eu não possuía nenhum livro físico e não conhecia nenhuma pessoa que escrevesse, além de Poliana, 2.085,1 quilômetros de distância dali. Decidi: vou participar!
Depois de fechar o contrato de locação, pensei no que fazer. Agora eu tinha um estande na Bienal de Pernambuco e nada, nem ninguém para pôr dentro. A contagem regressiva para a feira havia começado. Lembrei-me de que, lá em 2003, eu tinha escrito dois livros e deixado os arquivos guardados no computador. Fiz uma rápida revisão e comecei a buscar “como publicar um livro” no Google. Ele até disse como publicar, mas o resto tive que correr atrás.
Depois de fechar a impressão de cinquenta unidades de cada título com uma gráfica, fui em busca do que tinha visto na feira paulistana: autores que quisessem participar comigo. A ideia de uma autora desconhecida participar da maior feira literária de Pernambuco e uma das maiores do Brasil era um bom cartão de visitas. “Tenho um estande na Bienal de Pernambuco, você gostaria de participar comigo?”, escrevi num grupo de autores pernambucanos, lá no Facebook. Escutei o barulho do silêncio, por assim dizer, já que ninguém me respondeu de imediato. Os dias foram se passando e eu só pensava que “tudo bem ficar sozinha no estande”.
À medida que se aproximava a data da feira, algumas pessoas começaram a me contatar sobre informações do tal estande. Resumindo a ópera: onze autores, de diversas regiões do Brasil, ocuparam um pequeno espaço dentro do Centro de Convenções de Pernambuco, meu debute como escritora que conecta. Os autores passaram a conhecer esta minha vontade de juntar e abraçaram a ideia. Agora toda feira já nos contatamos sobre possibilidades de participar.
Decidi que eu precisava estudar mais sobre o que amo fazer na vida e fiz um curso para me tornar uma editora de livros – a profissional, não a empresa. Passei o curso inteiro reafirmando o amor que sinto pela literatura brasileira, especialmente a contemporânea. Queria poder contribuir encontrando ótimos originais para serem publicados.
Apenas em 2019, e muitas feiras depois, que Oceano Albuquerque – hoje escritor que conheci enquanto leitor, lá na bienal de 2015 – me perguntou por que eu não começava uma editora – agora a empresa. A verdade é que eu não tinha pensado nisso até o momento. Minha maior alegria era estar nas feiras, lidando com autores e seus livros, já prontos para vender a leitores ansiosos pela história escrita. Aceitei o desafio e, no final de 2019, começamos a planejar nossos primeiros movimentos.
Desde lá estamos caminhando, um passo de cada vez, aprendendo e ensinando, do jeito que é para ser. A 9ideia Editora nasceu da paixão que eu tenho de contar histórias e de conhecer quem conta suas histórias também. E, claro, da insistência de Oceano Albuquerque, meu sócio, leitor e amigo. Ele é da geração Z, eu sou da X, e a gente encontrou dois olhares sobre o mesmo mercado.
E, veja só, hoje não se diz mais que “ninguém compra e-book” porque, durante a pandemia, o consumo de livros digitais cresceu 83%[1]! Dá para acreditar? O aumento na venda de livros físicos também foi de 46,5%[2] nesse período. Por que estou dizendo isso? Porque sempre ouvimos que o Brasil não é um país leitor, e meu sentimento é de que, sendo assim, preciso é oferecer mais livros!
Então… Você aceita um marcador?
[1] Amazon Atual
[2] Fonte CNN Brasil