Escrevo estas palavras com o coração repleto de amor, gratidão e admiração para celebrar a vida de um homem extraordinário: meu pai, Antonio Ferreira. Com 54 anos, ele é mais do que um pai para mim; é meu ídolo, meu primeiro professor, minha inspiração. Sua história de vida reflete a riqueza cultural e identitária que carregamos como família, com raízes profundas na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, um legado que ele mantém vivo com sabedoria e dedicação.
Antonio Ferreira é filho de Candido Ferreira, um médico cabo-verdiano que migrou para a Guiné-Bissau ainda jovem, e de Aissato Seide, uma mulher bideira da etnia fula. Essa combinação de culturas moldou a personalidade do meu pai, tornando-o uma ponte entre tradições e modernidade. Em nossa sociedade, onde a poligamia tradicional é amplamente aceita, meu pai é casado com três mulheres, e minha mãe é sua primeira esposa. Juntos, construíram uma família baseada no respeito, na educação e no orgulho das nossas origens.
Meu pai foi a primeira pessoa a me ensinar a ler e escrever. Ele soletrava palavras comigo, separava sílabas e me chamava de “minha doutora”. Esse apelido, que me fazia sentir especial na infância, refletia sua confiança em mim e o desejo de me ver alcançar grandes feitos. Apesar da sua fé na minha capacidade, ele sempre me desafiava a ser independente e responsável. Desde cedo, aprendi que tudo o que eu decidisse fazer deveria ser feito com dedicação e excelência — um ensinamento que carrego comigo até hoje.
Embora ele não acompanhasse minha mãe nas reuniões escolares ou na minha rotina acadêmica diária, sempre deixou claro o quanto confiava em mim. No meu primeiro dia de aula, em 2005, embora eu esperasse que ele me levasse à escola, foi meu tio quem me acompanhou. Apesar da decepção inicial, meu pai compensou ao voltar para casa com guloseimas e perguntando como havia sido meu primeiro dia. Ele queria que eu soubesse que, mesmo à distância (no trabalho), estava ao meu lado, incentivando meus primeiros passos na escola.
Ao longo de toda a minha vida, meu pai sempre demonstrou resiliência e amor. Ele me ensinou a valorizar a educação e a respeitar os mais velhos, mas também me incentivou a ser assertiva e confiante — características que ele tanto aprecia em mim. Mesmo nos momentos em que não pôde estar fisicamente presente, como na minha formatura do ensino médio e na despedida para vir estudar no Brasil, suas palavras de apoio e incentivo sempre me acompanharam.
Em 2023, receber a notícia de que ele havia perdido a visão foi um golpe doloroso. Saber que ele não poderia mais enxergar minhas conquistas, ver o crescimento dos meus irmãos ou apreciar a beleza do nosso quintal — como os animais passeando, o arroz plantado e a horta da minha irmã, algo que ele tanto amava — me entristeceu profundamente. Contudo, essa dificuldade apenas fortaleceu minha determinação de honrá-lo em tudo o que faço. Cada dia de luta e cada meta alcançada carregam o propósito de deixá-lo orgulhoso e de ser a filha em quem ele sempre acreditou.
Para mim, Antonio Ferreira não é apenas meu pai; ele é minha base, o pilar que sustenta quem sou. Ele me deu as ferramentas para andar com meus próprios pés e tomar decisões com autonomia. Mesmo à distância, ouço sua voz me encorajando a continuar, a superar desafios, a ser a melhor versão de mim mesma.
Esta homenagem é para que você, pai, saiba o quanto é amado e admirado. Como dizia meu avô, devemos homenagear aqueles que amamos enquanto estão vivos, para que possam sentir nosso carinho. Saiba que você é meu maior orgulho, meu maior fã e a razão pela qual continuo lutando para alcançar tudo o que sonhamos juntos.
Antonio Ferreira, obrigada por ser mais que um pai. Obrigada por ser meu porto seguro, minha maior força e minha eterna inspiração. Você é, e sempre será, o melhor presente que a vida me deu.
Parabéns, grande Mariato Ferreira! Continues com foco, dedicação e determinação!
Muito obrigada, irmão!