Por que me tornei um editor? – Pr. Plínio Sousa Editora Reformada Santo Evangelho
São perguntas que me fazem acerca do meu ofício, por que me tornei um editor? Quais foram as minhas motivações? Qual tem sido a trajetória percorrida até agora? Ora, creio que me tornei editor inicialmente por pura necessidade, já que trabalho com as palavras e suas significações, devido ter um ofício que exige tal labor. Mas depois de algum tempo, o amor pelo trabalho de editor ganhou um espaço significativo em meu coração e vida, via que não somente podia caminhar pelo que havia escrito mas também poderia nutrir a minha alma por aquilo que lia e editava de outros escritores, como escreveu François–Marie Arouet: — “A leitura engrandece a alma”. O trabalho de editor é refulgente, distinto e rico – não somente o do autor, dado que ele busca arrumar a idéia de autores das mais variadas realidades e tudo com muito cuidado, pois sabe dos sentimentos dos próprios escritores que se encontraram em cada palavra lida e revisada. Ele trata de algo que não tem preço – como será o livro que será vendido – mas com algo que possui valor, o trabalho de seres humanos que simplesmente escolheu amar com palavras recheadas de vida. O texto vem acompanhado de muito labor, ali encontramos o fruto dos estudos, da formação, das inúmeras pesquisas, etc., contudo, encontramos em cada texto experiências magníficas como pano de fundo, se perscrutarmos cada parte desse texto que será editado, poderemos sentir as experiências do autor, encontraremos palavras que nascem do medo, que fluem da alegria, que se lançam dos anseios, ou que buscam obstinadamente pelo sentido último das coisas; e claro que todas essas tentativas vêm nutridas de muito amor e carinho, uma vez que, cada escritor ama o que faz e vive pelo que faz. São por essas razões, que o editor deve ter cuidado e igualmente amor pelo que faz. E foi exatamente isso que aprendi em poucos anos trabalhando com editoração e publicação de obras.
O editor, assim como o escritor, trabalha com aquilo que acredita, aquilo que é a motivação última da sua vida e o que a nutre; é também o que nutre muitas vezes suas convicções, porquanto suas dúvidas são respondidas. Ele é desafiado a editar transformando o que sente, sem desprezar o que sente o autor, o que passa pelo texto ou o que acredita o texto, sem desprezar o que ele mesmo acredita em sua mente ou o que sente em seu coração — esse momento exterioriza aquilo que compreendemos o ato de amar o outro, “ser sensível à necessidade do outro como somos sensíveis as nossas próprias necessidades” — o editor tem lutado quase que momentaneamente para atingir isso no mais profundo sentido. Muitas vezes fazendo todas essas coisas numa tentativa gigantesca de expressar esse misturado de sensações, conflitos, convicções e vislumbres. Cada palavra é a expressão máxima de compreensão, solidariedade e empatia, porque é exatamente isso que o editor é em essência. Ele ama não somente o seu labor, mas aquilo que dá sentido aos labores da vida.
Aquele gloriado e venturoso editor que terá grande confiança de morte abençoada é o que exerceu praticando e avolumando obras pelo mundo, desprezando a própria vida por amor à leitores. Não são pelas palavras notáveis que o homem torna-se em perfeita irrepreensibilidade, mas é a vida virtuosa e de trabalho que o torna agradável, íntegro e reto — e muitas vezes o homem exprime-se por obras produzidas ou editadas; sendo os registros de sua vida, trabalho e verdade. O desejo ardente do progresso na virtude, o amor à disciplina e a leitura, que resiste na dificuldade, é forte no sofrimento, alegra-se com boas ideias e que está acima de toda tentação e preguiça, é a prontidão na obediência ao se editar, é ser generoso em tudo; é renunciar a si mesmo e o demonstrativo de paciência em sofrer, por amor aquilo que faz – isso é edição! O editor tem o estado de mente bem equilibrado, resultante de autorrestrição habitual que se refere ao caráter proveniente da autodisciplina diária em trabalhar com exposições de amor, porque é exatamente isso que um livro é — o maior ato de amor, não somente pelos leitores de sua época mas também são memórias póstumas de alguém que amou sem medidas todas as outras pessoas que nem mesmo ainda existiam, como escreveram o filósofo francês Renatus Cartesius e o poeta Mário de Miranda Quintana: — “A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados. O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e, em simultâneo, acompanhado (de mortos ou de vivos)”. Este é o espírito da edição e o que alimenta diariamente um editor! Como disse Jeremy Taylor, estas qualidades são as “rédeas da razão e cabresto da paixão”. No fim, é um puro e sadio amor.
Exercitar o intelecto é compreender tudo que se estuda – o escritor faz isso e expressa em palavras. Exercitar a vontade é praticar pequenas mortificações da vontade própria (a mortificação aqui é um ato de negar a própria vontade, para educá-la com palavras de escritores) – o editor faz isso, como ato da virtude intrínseca do seu labor.
Portanto, quanto à quididade, a virtude essencial, ou seja, a natureza real de algo, o intelecto não se engana, quando este sabe de fato a verdade que o embasa — a responsabilidade com as palavras que serão editadas — como também não se engana um sentido quanto ao seu “sensível próprio” — o ver as coisas que a obra com toda dignidade e empenho quer expressar. O editor é o tradutor de sentimentos e aspirações! É aquele que com o escritor, fala com expectativas aos corações dos leitores!
Sobre as últimas perguntas, quais foram as minhas motivações? Qual tem sido a trajetória percorrida até agora? Respondo, a minha única motivação é a verdade, e a única trajetória é buscá-la e encontrá-la. Ou melhor, acredito que no meu caso seja um trajeto de agradecimento por ser encontrado por ela, pois para mim, a ‘Verdade’, trata-se de uma Pessoa, Jesus Cristo, o Filho de Deus (João 14:6).
Pr. Plínio Sousa.
Editor da Editora Reformada Santo Evangelho.