Introdução
A entrevista foi marcada para acontecer no Red Coffee & Co, um café acolhedor no Alto da Boa Vista, bairro onde morei por algum tempo e que me trouxe um senso de tranquilidade e bem-estar. Localizado próximo à casa do Flávio, o Red é um lugar especial para nossas conversas — já nos reunimos ali várias vezes, atraídos silêncio reconfortante e pela encantadora.
Desta vez, escolhi uma mesa externa, bem na entrada, de onde podia observar o movimento suave da rua. O cenário estava perfeito, e eu sentia aquela calma serena de quem sabe que o encontro promete bons momentos. Não havia ansiedade, apenas a expectativa agradável de rever Flávio, que logo chegaria com sua imponente Harley-Davidson. O inconfundível ronco do motor seria o prelúdio de mais uma conversa memorável.
Enquanto aguardava, desfrutava da paz do jardim e deixava meus pensamentos divagarem. Flávio é uma figura singular: dono de uma gentileza marcante e uma habilidade quase mágica de cativar qualquer um que cruza seu caminho. Não é à toa que seu carisma o acompanha em eventos de grande porte, seja no Brasil ou no exterior. Com sua clareza ao explorar temas complexos, como a gamificação no ambiente corporativo, e sua capacidade natural de engajar o público, Flávio é o tipo de pessoa que deixa uma impressão duradoura — pela inteligência e pela amabilidade.
E então, o som familiar da Harley-Davidson começou a ecoar ao longe, aproximando-se gradualmente até parar diante do café. Levantei-me e caminhei até a entrada para recebê-lo. Lá estava ele, descendo da moto com a elegância descontraída de quem está à vontade em qualquer cenário. A rua tranquila parecia harmonizar-se com sua chegada, como se o momento tivesse sido planejado por completo.
Depois de um caloroso cumprimento, seguimos juntos para do café. Convidei Flávio a se acomodar na que nos aguardava, e, com o cenário alinhado, iniciamos a tão esperada entrevista.
A entrevista
Ivo Donayre: Flávio, é um prazer imenso tê-lo aqui conosco para essa conversa. Você é uma referência em gamificação e treinamento no Brasil. Gostaria de começar perguntando: como você iniciou sua trajetória no universo da gamificação e o que o motivou a trilhar esse caminho?
Flávio Sena: Ivo, obrigado pelo convite, é uma honra participar desta entrevista. Minha jornada com a gamificação começou com minha paixão por jogos e design. Sempre gostei de explorar como os jogos podem ser mais do que apenas entretenimento – eles têm um potencial incrível para educar, engajar e até transformar pessoas e empresas. Foi essa visão que me levou a explorar a gamificação como uma ferramenta poderosa para impactar positivamente o aprendizado e os negócios. Desde o início, minha missão tem sido integrar diversão e produtividade, e acredito que a gamificação é a ponte perfeita para isso.
Gamificação: Impacto e Aplicações
Ivo Donayre: Fascinante, Flávio. Você representa a plataforma SEPPO no Brasil, considerada uma das melhores do mundo. Como foi trazer uma tecnologia internacional para o mercado brasileiro e quais foram os maiores desafios que você enfrentou?
Flávio Sena: Representar a SEPPO no Brasil foi uma oportunidade transformadora. Quando descobri a plataforma, percebi que ela tinha tudo o que precisávamos para levar o treinamento corporativo a um novo nível, com interatividade, personalização e acessibilidade. O maior desafio, sem dúvida, foi educar o mercado. Muitas empresas ainda viam a gamificação como algo trivial, mais voltado ao entretenimento. Foi preciso mostrar que ela é uma ferramenta séria, capaz de trazer resultados reais, tanto no engajamento dos colaboradores quanto na retenção de conhecimento. Hoje, fico feliz em ver como a gamificação ganhou espaço no Brasil.
Ivo Donayre: Você mencionou em outras oportunidades que trabalha com três áreas principais: pessoas, processos e produtos. Poderia nos explicar como a gamificação se aplica a cada uma dessas frentes?
Flávio Sena: Claro! Quando falamos de pessoas, a gamificação ajuda a engajar e motivar colaboradores, tornando o aprendizado uma experiência mais divertida e memorável. Em processos, ela pode ser usada para simplificar fluxos de trabalho e melhorar a comunicação interna, criando recompensas e feedback instantâneo para incentivar melhores práticas. Já em produtos, a gamificação transforma a maneira como eles são apresentados e consumidos, agregando interatividade e valor ao que é oferecido. Esse tripé é essencial para criar soluções completas e integradas.
Introdução ao Game Based Learning (GBL)
Ivo Donayre: Vamos nos aprofundar um pouco mais. Qual é a principal diferença entre gamificação e Game Based Learning (GBL)?
Flávio Sena: A diferença fundamental está no uso e na aplicação das mecânicas de jogo.
- Gamificação: É o uso de elementos de jogos, como pontuações, recompensas e desafios, em atividades que não são jogos, como programas de treinamento ou educação. O objetivo é aumentar o engajamento e a motivação, mas o ambiente em si não é um jogo.
- Game Based Learning (GBL): Aqui, o aprendizado acontece dentro de um jogo. Por exemplo, no meu método MAZE GAME, os participantes entram em um ambiente 3D interativo onde enfrentam desafios reais da empresa em formato de missões. Isso não só facilita o aprendizado como promove uma retenção mais duradoura, graças à imersão emocional que o jogo proporciona.
Ivo Donayre: Como você vê o GBL sendo aplicado em ambientes corporativos? Ele é realmente versátil para diferentes tipos de aprendizado?
Flávio Sena: Com certeza, Ivo. O GBL pode ser usado para praticamente qualquer tipo de conteúdo. O segredo está no design do jogo e na integração dos pilares que eu desenvolvi: Andragogia, Neurociência, Perfis Comportamentais e Cultura Organizacional.
- A Andragogia ajuda a adaptar o aprendizado para adultos, respeitando suas experiências e expectativas.
- A Neurociência garante que o jogo atinja as áreas certas do cérebro para motivação e retenção de conhecimento.
- Com os Perfis Comportamentais, conseguimos personalizar os desafios para diferentes tipos de participantes.
- E, claro, a Cultura Organizacional alinha o jogo aos valores e objetivos da empresa.
Essa combinação permite que o GBL seja aplicado em treinamentos técnicos, desenvolvimento de soft skills, integração de equipes e até na formação de lideranças.
O Livro: A Ponte entre Gamificação e GBL
Ivo Donayre: Recentemente, fiquei sabendo que você está escrevendo um livro sobre gamificação, que será publicado pela nossa Editora PoloBooks. Isso me deixou muito animado! Como está sendo essa experiência? Está conseguindo manter o cronograma de entrega dos capítulos?
Flávio Sena: Sim, é verdade! Estou escrevendo com muita dedicação. Publicar pela Editora PoloBooks é uma honra, porque sei que estou em boas mãos. A experiência de escrever é desafiadora, mas também profundamente recompensadora. Sempre que me sento para escrever, tento colocar em palavras a essência do que vivi, aprendi e implementei ao longo dos anos. Quanto ao cronograma, estou me esforçando ao máximo para cumprir os prazos. Claro que, como todo autor, às vezes surgem ideias que exigem revisões ou ajustes, mas o livro está avançando muito bem.
Ivo Donayre: O mercado está animado com a ideia de que seu livro será revolucionário. Pode nos contar como ele aborda a transição entre Gamificação e GBL?
Flávio Sena: Um dos focos do livro será justamente essa transição. Acredito que o GBL é a próxima grande tendência na educação corporativa. No livro, detalho como o GBL pode oferecer uma experiência de aprendizado mais imersiva e eficaz, aproveitando elementos como neurociência, perfis comportamentais e cultura organizacional. Essa abordagem promete transformar a maneira como encaramos o treinamento e o desenvolvimento nas empresas.
MAZE GAME: A Prática do GBL
Ivo Donayre: O método que você desenvolveu, o MAZE GAME, é muito comentado. Pode nos contar um pouco mais sobre ele e como funciona na prática?
Flávio Sena: O MAZE GAME é uma ferramenta baseada em GBL que leva os participantes para um ambiente 3D imersivo, onde eles enfrentam desafios que simulam situações reais da empresa. Por exemplo, um colaborador pode ter que tomar decisões em um cenário crítico ou resolver problemas em equipe dentro do jogo. Cada missão é projetada para reforçar conceitos importantes e desenvolver habilidades específicas. Além disso, o jogo fornece feedback imediato, que é uma das maneiras mais eficazes de consolidar o aprendizado.
Ivo Donayre: Quais são os principais desafios para implementar essa metodologia nas empresas?
Flávio Sena: O maior desafio é cultural. Muitas empresas ainda veem os jogos apenas como entretenimento e não compreendem o potencial educacional que eles têm. Outro desafio é a personalização. Cada empresa tem suas próprias necessidades, e o GBL precisa ser adaptado para atender a essas demandas. Isso exige tempo e planejamento, mas os resultados fazem todo o esforço valer a pena.
Considerações Finais
Ivo Donayre: Flávio, para finalizar, qual seria a sua mensagem para empresas e profissionais que estão considerando adotar a gamificação e o GBL, mas ainda têm dúvidas sobre seu impacto?
Flávio Sena: Minha mensagem é: não tenham medo de inovar. A gamificação e o GBL não são apenas modas passageiras; são estratégias poderosas para enfrentar os desafios do mundo moderno, como engajamento, aprendizado contínuo e retenção de talentos. Comecem com pequenos projetos, avaliem os resultados e, acima de tudo, ouçam as necessidades das suas equipes. Tenho certeza de que os benefícios falarão por si mesmos.
Ivo Donayre: Flávio, muito obrigado por essa conversa rica e inspiradora. Foi um prazer aprender mais sobre sua trajetória e visão. Tenho certeza de que muitos leitores vão se sentir motivados a explorar a gamificação em suas próprias jornadas.
Flávio Sena: O prazer foi meu, Ivo. Obrigado pela oportunidade de compartilhar um pouco do meu trabalho. Espero que essa conversa inspire mais pessoas a descobrir o potencial incrível da gamificação e do GBL.
Encerramento
Após a entrevista, enquanto recolhíamos as últimas anotações, um sentimento de gratidão tomava conta de mim. O tempo passado com Flávio Sena não foi apenas uma conversa; foi uma aula sobre visão, inovação e a capacidade de transformar desafios em oportunidades. Sua habilidade em traduzir conceitos complexos de gamificação para soluções práticas é um reflexo de sua genialidade e paixão pelo que faz.
Enquanto caminhávamos de volta para a entrada do Red Coffee & Co, eu refletia sobre o impacto das palavras de Flávio. Ele não apenas compartilhou sua experiência e conhecimento, mas também nos deixou uma lição valiosa: a importância de pensar fora da caixa, de construir conexões humanas e de acreditar no potencial transformador da criatividade.
Ao vê-lo partir de sua Harley-Davidson, o som da moto parecia carregar consigo a energia de uma missão que não se limita a negócios ou tecnologia, mas que toca vidas de forma profunda. Hoje, mais do que nunca, sinto que este encontro foi um presente, uma oportunidade de aprender com um mestre que também é competência técnica a uma humanidade rara. Obrigado, Flávio, por nos proporcionar uma tarde tão enriquecedora e inspiradora.