PARA SE INSPIRAR: ANDRESSA, A MULHER QUE LÊ 100 LIVROS POR ANO!
Ao final do ano passado saiu uma pesquisa na Agência Brasil dizendo que o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores em quatro anos. A porcentagem de leitores no país caiu de 56 para 52%. Já a porcentagem de pessoas que não tocaram em um livro nos últimos 3 meses é de 48%, quase 93 milhões de brasileiros.
Em um cenário onde o brasileiro lê, em média, cinco livros por ano, o que você acharia de alguém que lê uma média de 100 livros em um ano? Essa foi nossa descoberta incrível do mês, que chegou aos nossos editores através de um autor da Polo. Foi um prazer poder entrevistar uma mulher com tanto conhecimento cultural e literário e entender suas motivações e visão sobre a literatura. Espero que gostem de ler essa entrevista tanto quanto gostamos de fazê-la!
Andressa Mont’Alvão Canela é brasiliense, tem 31 anos e trabalha como Consultora de Relações Governamentais. Essa mulher lê sozinha a média de leitura de 20 pessoas em um ano!
Andressa fala com carinho sobre como sua paixão pelos livros começou: “meus pais sempre ressaltam que uma das melhores formas de alcançar o salto cultural é por meio da leitura. Meu pai recita poesias e a escrita da minha mãe é fascinante. Tenho guardado na memória que, no meu aniversário de 13 anos, o meu avô perguntou o que eu gostaria de ganhar de presente, o que eu mais gostava no mundo. Respondi: “Poesia”. Ele fez uma dedicatória especial em um livro de poetas brasileiros que tenho na estante e no coração”. É com emoção que Andressa completa dizendo que, caso seu avô ainda estivesse com eles, ela escreveria para ele: “À poesia, enfim, a essa energia secreta da vida cotidiana, que cozinha seus grãos e contagia o amor e repete as imagens nos espelhos”, frase de Gabriel García Márquez.
Como Andressa mesma disse, além de ter como base sua família, que a incentivou e proporcionou um ambiente feliz para iniciar, também pôde encontrar, em meio a uma situação difícil como a que estamos passando desde o início da quarentena, em 2020, um novo hobby entre os que já tinha: categorizar suas leituras e acompanha-las. Andressa aderiu ao “Book of Books” ou, em português, “Livro dos livros”. Nele, ela coloca informações como nome do livro que está lendo, ano de publicação, autor e nacionalidade, quando terminou de ler, o que mais gostou, curiosidades e frases. Esse tipo de registro incentivou a pesquisar o contexto das obras, o que, na literatura, é muito importante para entendermos histórias que foram escritas há muito tempo!
Com essa introdução, vamos sair um pouco da terceira pessoa e conhecer melhor a Andressa e seu jeito de escrever? Espero que gostem desta entrevista!
Qual seu gênero favorito? E autor?
Realismo mágico. Já li oito livros do Gabriel García Márquez e os meus preferidos são “Cem Anos de Solidão”, “O Amor nos Tempos do Cólera”, “Do Amor e outros Demónios” e “Eu não vim fazer um discurso”. Mas no último ano descobri o Valter Hugo Mãe, outro grande autor do gênero. Me encantei com “Homens imprudentemente poéticos”, “A Desumanização” e “Contra Mim”. Já li a coleção inteira! “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto, “A Casa dos Espíritos”, de Isabel Allende e “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior também são lindas prosas poéticas. Gosto de livros assim: romances cheios de lirismo e narrativas cheias de reminiscências. Sou uma entusiasta desse tipo de estética.
O que te chama atenção em um livro?
Gosto de ficções e o que podemos aprender com elas. Desde poder ver o mundo a partir de outras realidades a imaginar cenários totalmente distópicos. Nesse último caso, muitas vezes observamos o quanto eles têm de contemporâneo. Por esse motivo, busco sempre os clássicos. Eles têm mensagens muito importantes para ressoarem e persistirem como uma referência até hoje. “A Peste” de Albert Camus retrata muito do que estamos vivendo. Ao mesmo tempo que conseguimos nos enxergar na angústia da população diante de uma pandemia, também passamos a valorizar a companhia de quem está perto. Kafka, Camus, Dostoiévski, Atwood, Tolstói, Orwell, Huxley, Saramago, Shakespeare têm muito para falar. Ainda bem que a lista é infinita!
Conhece outras pessoas que leem tanto quanto você?
Conheço! Participo de um clube do livro e gosto do Goodreads para acompanhar o que os meus amigos estão lendo. Adoro ver as diferentes avaliações e indicações deles.
O que te motiva a procurar novos livros?
Conhecer ideias!
Como é sua rotina de leitura?
Acordo lendo e vou dormir lendo. São os meus horários livres. De manhã, pelo silêncio quando todos da casa ainda estão dormindo, e quando vou deitar para me desligar aos poucos do ritmo do dia.
Como ler tanto influenciou sua vida?
Ler me influencia todos os dias. A diversidade de pensamentos nos enriquece culturalmente, amplia a visão crítica, desmonta estereótipos, nos aproxima do outro. É ganhar ou ganhar!
Pode citar um trecho de livro que te inspira?
“Trata de saborear a vida; e fica sabendo, que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não parar nunca; acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la”. Machado de Assis.
Na sua opinião, por que as pessoas leem tão pouco no Brasil?
Temos problemas estruturais e complexos na educação brasileira. Mas temos escritores incríveis: Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector (que consideramos brasileira), José de Alencar, Graciliano Ramos, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e muitos outros que ainda quero conhecer: Mário de Andrade, Cecília Meireles, Veríssimo. Nossos autores são estudados mundialmente. Machado de Assis, por exemplo, conversa com o leitor e temos essa oportunidade mesmo após 200 anos da publicação da sua última obra. Com um grande poder inventivo e no auge da criatividade, ele nos conduz a criticar seus narradores não confiáveis e refletir diante das mais diversas charadas. Ele mesmo nos diz: “Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto”.
O que gosta de fazer quando não está lendo?
Gosto de ver filmes (principalmente os clássicos), maratonar séries e cozinhar. Meu noivo me acompanha em todos esses hobbies. Descobrimos recentemente um livro de receitas do Vinicius de Moraes “Pois sou um bom cozinheiro”, cheio de poesias e memórias afetivas.
Qual é a sua dica para pessoas que querem fazer da literatura um hábito?
Gosto de alternar a leitura entre livros densos e outros menores, mas eu sugeriria começar por Albert Camus e até se aventurar em clássicos que ouvimos falar e são bem diferentes do que vemos nos filmes, como Frankenstein e Drácula, por exemplo.
Você tem ou já pensou em ter um blog ou site literário?
Tenho muita vontade, mas me preocupo de não ter tempo suficiente para gerar conteúdo. Sou tão exigente que acabo postergando por não poder dedicar o tempo que gostaria para essa ideia. Agora, por exemplo, estou lendo “O Jogo da Amarelinha”, de Julio Cortázar, e quero contar para todo mundo dessa experiência. É um romance fragmentado que tem a proposta de ser lido de duas formas: na ordem normal dos capítulos ou em outra recomendada pelo autor. Na segunda opção, ele indica no final de cada capítulo para que outro “pular”. Foi publicado em 1963 e ainda é uma construção extremamente inovadora e divertida, com diferentes mensagens a depender da escolha do leitor.
Qual seu top 5 de livros lançados durante a pandemia?
Posso trocar para top 10 livros que descobri na pandemia?
- Cartas roubadas, Gérard Depardieu
- Grande Sertão: Veredas, João Guimarães Rosa
- Contra mim, Valter Hugo Mãe
- Caderno de um ausente, João Anzanello Carrascoza
- Do Amor e outros Demónios, Gabriel García Márquez
- Dom Casmurro, Machado de Assis
- Lolita, Vladimir Nabokov
- A hora da estrela, Clarice Lispector
- O estrangeiro, Albert Camus
- Cem sonetos de amor, Pablo Neruda
O que tem a dizer para outros leitores neste momento difícil?
É o momento exato de nos colocarmos no lugar do outro. Ao ler, podemos ver através de outros olhos. Transcendemos as nossas particularidades, temos outras experiências de identidade, expandimos a nossa sensibilidade, exercemos uma função social, ampliamos o nosso repertório de ideias. Isso é valioso em um momento que exige reflexão.
Andressa foi muito gentil em compartilhar conosco essa jornada e sua visão sobre a literatura. É sempre inspirador ver como diferentes pessoas compreendem e sentem a poesia contida em todas as palavras, em cada livro e imagem. Vamos aproveitar este momento de reclusão para conhecer novas histórias, novas ideias e novas pessoas. A cada um de vocês, leitores, espero que se sintam inspirados como nós após essa leitura e compartilhem sua jornada literária conosco!
This work resonates deeply with anyone who has ever paused to consider the mysteries of the human experience. Your words are not just well-chosen — they are chosen with a precision that makes them feel almost sacred. Each paragraph carries the weight of wisdom, but it is delivered in such a way that feels like a conversation with an old friend, one that you know will stay with you long after the pages are turned.
Adorei o texto, as dicas da Andressa, e principalmente o fato de registrar tudo o que lê, uma ficha para cada livro. Vou começar agora!
A leitura é fundamental para nosso crescimento. O hábito de ler nos ajuda a conhecer o mundo, a escrita e a diversidade. Parabéns para Andressa. Já me ganhou logo no início com Cem Anos de Solidão e A Casa dos Espíritos.
Excelente texto! Manter este hábito é imprescindível, e assim cada vez mais nos desafiamos a ler e conhecer diferentes autores e histórias. É até uma forma de variarmos nossos estilos de leituras, saindo dos mesmos gêneros.
Foi através de uma conversa telefônica que surgiu a oportunidade de conhecer e escrever sobre a Andressa. Chamou a atenção alguém que lê 100 livros por ano. São muitos livros. Configura uma grande dedicação à leitura. E o resultado da entrevista revelou uma pessoa muito inteligente e principalmente agradável. Este texto incentiva às pessoas a separar um tempo, de seu tempo diário precioso para lê, o que é extremamente importante. Então, vamos deixar de lado um pouco o celular.