Este artigo tem como objetivo principal convidar leitoras e leitores à reflexão sobre o uso que fazemos do tempo que temos. Independentemente dos motivos que nos levam a buscar por Kairós (o tempo oportuno), sempre nos deparamos com Cronos (o tempo devorador), que parece estar literalmente nos engolindo. Havemos de convir que essa enantiodromia pode ser extremamente desgastante.

Acredito que muitas pessoas possam se sentir familiarizadas com essas palavras, devido à estreita relação entre os vínculos inconscientes que permeiam nossas vidas, mesmo sem nos conhecermos pessoalmente. Como psicóloga junguiana, costumo fazer associações e utilizar referências mitológicas, personagens de contos de fadas e, dentre outras fontes de inspiração, o que mais me encanta: o trabalho com plantas na psicologia (tema para outro momento).

Os compromissos sempre existiram, mas, atualmente, temos a sensação de que se multiplicam constantemente, mesmo com a tecnologia e a modernidade ao nosso alcance. Hoje, na maioria das casas, a água é encanada, e não precisamos mais buscar água no poço ou na bica. A luz elétrica substituiu as lamparinas, o fogão a gás eliminou a necessidade de juntar lenha, e o chuveiro elétrico dispensou o antigo hábito de esquentar a água no fogão. Entretanto, mesmo com tantos avanços que facilitam nossa rotina, Cronos parece sempre estar presente.

Talvez isso se deva ao fato de estarmos constantemente buscando “algo a mais”. Não que seja errado, mas será que precisamos realmente dessa busca incessante? E, afinal, o que estamos tentando suprir? Já parou para pensar sobre o que você busca e para que busca? Essa pergunta, em formato de reflexão, apenas você pode responder.

A demanda por compromissos se torna cada vez maior, e Kairós parece cada vez mais distante. A sobrecarga não diminui, o estresse se mantém elevado, e a enxurrada de pensamentos, por vezes devastadora, arrasa o cérebro e sobrecarrega o corpo com dores incontáveis. O medo de não conseguir recursos a tempo para cumprir as obrigações financeiras impede que o sono seja restaurador. Cumprir compromissos e manter a paz interior parece uma missão quase impossível. Realizar objetivos e conquistar sonhos, então… é melhor nem comentar!

Calma. Respire profundamente e oxigene seu precioso cérebro. O estado de ansiedade pode afastá-lo de Kairós e aproximá-lo de Cronos. É fundamental organizar os pensamentos para realizar com eficácia as tarefas de curto, médio e longo prazo. Contudo, pensar em excesso não garante êxito, e agir sem refletir pode ser um verdadeiro suicídio emocional.

É preciso estabelecer uma harmonia entre Eros (Amor) e Logos (Razão). Permitir-se momentos para esvaziar a mente e descansar o corpo faz toda a diferença. Da mesma forma, momentos de prazer genuíno são essenciais — aquele prazer que fica e enriquece a alma, e não aquele fugaz que passa rápido e, muitas vezes, deixa um rastro de arrependimentos e novos problemas.

Por isso, o autoconhecimento é de suma importância. É preciso saber quem somos, o que realmente gostamos, o que necessitamos e o que buscamos. E, claro, se necessário, buscar ajuda de profissionais qualificados e competentes nessa área.

Acredito que, como seres humanos, temos uma capacidade infinita de aprendizado e superação (tema para outro artigo). Precisamos, sim, nos aperfeiçoar e nos adaptar ao novo, mas sem perder as nossas raízes. São as raízes que sustentam nossa identidade e nos mantêm firmes, mas sem nos tornarmos rígidos a ponto de quebrar quando os ventos forem fortes.

E como alcançar esse equilíbrio? Sendo flexíveis em determinadas situações, mas sem nos tornarmos volúveis a ponto de deixar nossas raízes expostas e nos prejudicarmos.

É necessário observar e refletir antes de agir, prestar atenção ao que realmente importa e estabelecer um compromisso com o autocuidado. Evitar excessos e desperdícios — tanto de energia corporal quanto financeira — em situações que não demandam tanto. Descansar o corpo e a mente é essencial. Aliviar a bagagem emocional sempre que for necessário, permitindo espaço para que o novo chegue.

Além disso, é importante construir uma rede de apoio para atender às necessidades reais e evitar distrações que possam desviar nossa atenção e nos levar à frustração. E, o mais importante de tudo: não se perder de si mesmo durante a jornada, mesmo quando o objetivo for suprir as necessidades de outras pessoas.