Will era um homem acostumado a dias especiais. Âncora de um telejornal de grande audiência, cinquentão, recém-casado havia cerca de três meses, vivia imerso em notícias capazes de impactar milhões de telespectadores. Sua rotina era feita de urgências, manchetes e decisões editoriais que moldavam a percepção do mundo.

Mas aquele dia era diferente. Profundamente diferente.

Na véspera, Charlie, o diretor do jornal — admirado, respeitado, quase mítico dentro da redação — havia falecido subitamente, vítima de um infarto. Morreu ali mesmo, em plena redação, no meio de uma discussão intensa sobre duas matérias controversas. Charlie exigia que fossem ao ar. Parte da equipe, temendo desdobramentos imprevisíveis, havia manipulado a pauta para desencontrar personagens e diluir responsabilidades, afrontando diretamente o diretor. Contrariado, ciente da manobra e tomado por uma tensão extrema, Charlie sofreu um colapso que o levou ao ataque cardíaco fatal.

Naquele dia acontecia o enterro.

A missa de corpo presente reunia todos. A igreja estava lotada. Um coral numeroso, acompanhado por uma orquestra, entoava “Te amarei, Senhor”, transformando o espaço num verdadeiro santuário de despedida. A música preenchia o ar com uma solenidade comovente.

Todos permaneciam de pé, atentos às palavras do padre. Via-se a esposa de Charlie, seus filhos, seus netos, os colegas de trabalho — dos donos da emissora aos jornalistas mais jovens. A comoção era proporcional à importância daquele homem que, durante anos, havia orientado todos rumo ao sucesso do jornal.

A igreja estava completamente ocupada quando, de repente, surge MacKenzie, esposa de Will, caminhando pelo corredor central. Havia se afastado por alguns minutos para atender um telefonema urgente de sua médica. Aproxima-se da fileira onde Will está, pede licença para passar e, ao sentar-se ao seu lado, sussurra:

— Tenho uma notícia para te dar.

Will responde, apreensivo:

— Está tudo bem?

Ela continua, em voz baixa:

— Recebi uma ligação. Era minha médica, com o resultado do exame de sangue.

Will, confuso, insiste:

— Me explica o que está acontecendo.

MacKenzie apenas diz:

— Você entendeu, sim.

Will fixa o olhar à frente, atônito, como se o mundo tivesse sido deslocado alguns centímetros do eixo. Nesse exato momento, o padre pede que todos se sentem. A igreja inteira obedece. Todos — menos Will.

Ele permanece de pé, imóvel, em estado de transe. Percebendo o constrangimento silencioso, MacKenzie o puxa delicadamente para que se sente.

A alegria quer transbordar, mas ali, naquele lugar sagrado, tomado pela dor coletiva, é impossível dar vazão ao que pulsa dentro dele.

A missa termina. As pessoas saem ordenadamente, em silêncio. O clima é de profunda consternação. Charlie não era apenas um diretor; era o eixo em torno do qual girava a vida profissional de todos ali.

Do lado de fora da igreja, há um amplo espaço ajardinado. As pessoas se reúnem aos poucos, trocam cumprimentos contidos, expressam solidariedade, compartilham a dor da perda.

Ali, finalmente, Will puxa MacKenzie de lado e, pela primeira vez, consegue formular em palavras aquilo que já compreendia:

— Você está grávida?

Ela sorri. Confirma. Acrescenta, com cautela, que há entre 70% e 90% de chance de o filho ser dele.

Will responde sem hesitar:

— Isso tem pouca importância. A partir de agora, vou assumir a paternidade. Esse filho já é meu. Quero te levar para o hospital. Você já fez amniocentese?

MacKenzie explica que pensou em fazer o exame ainda na capela da igreja, mas que as longas agulhas necessárias haviam acabado. Teria de esperar.

Nesse momento, a dona do jornal a chama para acompanhá-la até o enterro. MacKenzie se afasta, deixando Will nos jardins, cercado por colegas da redação.

Will se junta a um grupo de jornalistas — todos seus subordinados diretos. Sua autoridade ali é absoluta. Quando fala, todos obedecem.

Ele diz que, no passado, se alguém lhe pedisse conselhos sobre saúde ou qualidade de vida, encontraria desprezo em seu tom de voz. Seriam desencorajados a tentar de novo. Mas agora, anuncia, está expedindo um novo decreto: quer, a partir daquele momento, receber conselhos de saúde de todos.

Diz que precisa ficar saudável por muito tempo.

Ninguém entende exatamente o motivo.

Enquanto fala, Will fuma. Dá uma tragada. De repente, percebe a contradição. Num gesto impulsivo, joga o cigarro no chão e o apaga com força. Todos observam, surpresos. Ele se abaixa, pega o cigarro, caminha até uma lixeira, retira do paletó um maço inteiro e o arremessa ali dentro. O grupo acompanha cada movimento em silêncio.

De volta à roda, pede a uma das funcionárias que lhe dê um tapa no rosto. Ela se assusta e se recusa. Outra se oferece. Ele aceita. A bofetada é dada. Will agradece e diz que todos precisam vigiá-lo para evitar que volte a fumar.

Um dos funcionários pergunta:

— Por que agora é tão importante preservar a saúde?

Will se cala.

Uma funcionária arregala os olhos e diz apenas:

— Ai, meu Deus…

Como se tudo tivesse ficado claro. Outras duas se aproximam. Parecem entender. E, silenciosamente, comemoram. Nada é dito em voz alta.

Na cena seguinte, Will está em seu escritório, conversando com MacKenzie sobre trabalho. Uma estagiária entra, pega Will parabenizando MacKenzie por algo profissional e, sorridente, estende os cumprimentos à gravidez.

MacKenzie, surpresa, diz:

— A gente ainda não divulgou a notícia.

A estagiária responde, com naturalidade:

— Todos na redação já sabem que você está grávida do Will.


Nota:
Este artigo nasce de uma cena da série The Newsroom, como uma homenagem a uma obra de texto brilhante — criativa, inventiva e profundamente humana.