Meus filhos, o que querem de mim? As flores que me abortam? As árvores que de mim roubam? As folhas que sobre meu chão esmagam?…
Filhos, o que querem de mim? Empalidece o resplendor das águas, teus excessos furtam de mim a pureza do ar e transformam meu calor saudável em uma bola de fogo letal.
Acaso não sabem, óh FILHOS DE GAIA, que as madeiras que erguem suas casas, que as poltronas que aliviam seu cansaço, que as grades que protegem seus jardins, brotam de mim? Ah?… por que me maltratam? Por que filhos? Rasgam-me o ventre sem dó abrindo crateras?
EU SOU GAIA, A MÃE TERRA, seus inconsequentes desatinos, esterilizam minha fertilidade. Portanto, impossibilitados estão de se deitarem nos braços da paz, meus braços, teus braços, olhando para o céu noturno, cravejado de estrelas, sob o luar. Decepam-me os verdes, sufocam-me os frutos, criam fissuras em minha face. Por que, por que óh! FILHOS DE GAIA? Por que envenenam minhas entranhas, porque enviesam o curso dos rios, sabendo que nessas veias corre a vida! Minha vida!
O barro que aduba, a pedra que alicerça, as cercanias que enfeitam as paisagens para teu olhar… tudo destroem. Poluir minhas praias arenosas, exaurir os véus de neblina aconchegante de minhas silentes florestas são alguns de seus atos cruéis!
Envelheço precocemente por teus excessos…
Óh filhos da terra, acaso tem consciência do que provocaram ao longo dos tempos? Estrangulam-se em forcas por vocês mesmos criadas, portanto, saibam, que ao me dilacerarem, dilaceram-se também?
Filhos, devolvam o mistério das matas, devolvam o escarpado das colinas, e as águias?… que partiram?… Adeus… Adeus às andorinhas das torres. É o fim da vida e o começo da luta para sobreviver! EU SOU A MÃE DAS MÃES, aquela que tudo perdoa, que tudo vê, que tudo compreende, que os abriga e que chora calada, para lhes preservar.
SOU A MÃE TERRA, eternamente lhes oferecerei meu perdão e os farei acreditar na Esperança do Terceiro Milênio, QUE HÁ DE SER MELHOR! Todos compreenderão o pulsar do coração desta mãe que hoje sofre por sua insensatez.
Esperança… Esperança no futuro para os filhos de seus filhos.
O mundo que esperam, não está para ser conquistado, mas para ser construído. Portanto, insisto, se destruírem a terra de seus ancestrais, se não souberem me preservar para vocês – como a geradora maior de suas abundâncias – conservem-se, pelo menos, para as novas gerações que virão. E que saibam aproveitar tudo que lhes darei.