Estávamos no tempo dos governadores biônicos. Eu era Chefe de Gabinete do Presidente da EMPETUR (Empresa de Turismo de Pernambuco).
Para grande alegria nossa foi indicado para ser Governador do nosso Estado o então Deputado Federal Marco Antônio de Oliveira Maciel, amigo irmão do presidente da EMPETUR – Dr. Francisco Austerliano Bandeira de Mello (Bandeirinha).
A pedido do meu chefe, ficou acertado que toda sexta feira íamos ao Aeroporto dos Guararapes receber o governador indicado. No meu caso, de modo especial, era para receber do Dr. Marco o rascunho dos seus discursos, ir para casa datilografá-los e entregar no escritório (Av. Rui Barbosa, esquina da Rua das Creoulas), na manhã do dia seguinte.
Em absoluta confiança eu recebia os rascunhos, sempre acompanhados do número do telefone de cabeceira do Governador nomeado, a fim de esclarecer dúvidas, quando eu parava no meio do trabalho, por nem sempre entender claramente sua letra.
Datilografar aqueles discursos era um trabalho do qual muito me honrava, além da alegria do diálogo com tamanha Autoridade. Minha máquina era uma Olivetti simples, sem corretor de qualquer tipo e ainda não existia o computador pessoal. Eu sempre fui muito exigente com meus trabalho datilografados e, muito mais, quando o fazia para terceiros.
Foram sábados e mais sábados seguindo aquela rotina. Isto deixava a mim e a Lucila ansiosos pela chegada da sexta feira, para receber os rascunhos. Se o voo chegava mais cedo, íamos para o Gabinete da Secretaria, onde a máquina de datilografia era mais moderna. Quando era assim, Lucila ia com o Enos Filho ao meu encontro e, como o mundo era menos perigoso, às vezes ficávamos até de madrugada naquele casarão.
Residíamos no bairro das Graças. Um sábado cedo da manhã, a campainha tocou e Lucila foi atender. Era nada mais nada menos que o Dr. Marco, levando um acréscimo ao seu discurso entregue na noite anterior.
Depois que ele foi embora interfonei para o José Paulo, porteiro do condomínio, questionando o motivo pelo qual ele não avisou que aquele visitante estava subindo. Prontamente ele respondeu: “Sei que o senhor faz parte da equipe dele e, em hipótese alguma não o receberia. Fiquei com vergonha de, diante dele, fazer essa pergunta ao senhor”.
Estamos distante desse acontecimento exatamente quarenta anos e alguns meses. Desde então, reforçamos nosso hábito de ao sair do quarto pela manhã, estarmos prontos para “receber o Marco Maciel”, como costumamos brincar.
Quer testar, chegue lá em casa bem cedo. Por estarmos na pós modernidade, a afirmação perde um pouco sua singularidade porque dispomos no quarto de um monitor que nos mostra quem está no portão. Todavia, estamos sempre sempre lembrados de que, a qualquer momento, podemos ter de repente à porta um Marco Maciel.