Sim, todos nós já ouvimos ou dissemos mais de uma vez, que o filme baseado em um livro não tem a mesma qualidade deste último. Quase sempre os livros são de fato melhores, e há muitas razões para isso:

  • O livro é uma obra original. Não importa se o roteiro e o próprio filme é bom ou mau, o filme é uma adaptação do livro, e isso pesa sempre na avaliação do filme em comparação com o livro. Para criar um filme a partir de um livro é preciso fazer uma releitura do mesmo, e os detalhes que o autor do livro imaginou podem ou não ser respeitados total ou parcialmente. A questão é que uma adaptação sempre tem limites.
  • O autor do livro tem toda a liberdade para escrever. Ele pode criar seus personagens em detalhes, ou deixar lacunas que a imaginação do leitor vai preencher. Pode minuciosamente compor uma cena, esmiuçar os pensamentos e as intenções de um personagem, seus conflitos internos, desejos, temores, fraquezas, enfim… O autor é dono e senhor da sua obra literária, e de tudo o que ela transmitirá ao leitor. Não depende de mais ninguém para transmitir a sua mensagem.
  • Já nos filmes há a dependência de bons diretores, estrelas de cinema, figurinistas, maquiadores, especialistas de som, e muitos outros profissionais que fazem parte da criação da obra. Um filme é sempre uma obra conjunta, enquanto um livro é quase sempre uma criação solitária.

Quando pensamos em livros versus filmes, muitas obras mestras vem à tona, tanto de obras brasileiras quanto estrangeiras. E mesmo quando os filmes baseados em livros se tornaram sucessos de bilheteria, ainda assim, na maioria absoluta das vezes, quando lemos o livro e depois vemos o filme, ou vice-versa, preferimos o livro.

Vejamos alguns exemplos bem conhecidos:

  • Dona flor e seus dois maridos. Em um primeiro momento parece covardia comparar uma título original do mestre Jorge Amado com qualquer adaptação para o cinema. Mas se lembramos do espetacular filme de Bruno Barreto, e os inesquecíveis Vadinho (José Wilker) e Dona Flor (Sônia Braga), que junto com o farmacêutico Teodoro (Mauro Mendonça) compõem o famoso trio, poderíamos até ficar balançados. Porém nada supera o livro. Ele traz riqueza de detalhes e promove a imaginação de tal maneira que nossa mente fica presa para sempre às imagens que o livro nos traz. O livro nos traz cores, aromas, sons, pensamentos e sentimentos que o filme não alcança a nos brindar, por mais brilhante que seja, e de fato é, a obra de Barreto.
  • Comer, rezar, amar. O best-seller que vendeu mais de 10 milhões de cópias foi escrito por Elizabeth Gilbert e pode não ter a profundidade de um grande mestre da literatura universal, mas sua mensagem encantou o grande público. Um fenômeno cultural e social que inspirou milhares de mulheres e homens a mudarem para melhor as suas vidas. A autora contou em várias entrevistas que abordou os seus próprios problemas no livro. Declarou ser uma pessoa que sofreu muito com seus medos, e que conseguiu vencê-los com a criatividade e a curiosidade, que considera ser o antídoto para o medo. Como jornalista escreveu para várias revistas importantes nos Estados Unidos. Em 2006 trouxe à luz Comer, rezar, amar, que foi um estrondoso sucesso mesmo antes do filme de 2010 ser estrelado por Julia Roberts.

A adaptação para o cinema, dirigida por Ryan Murphy, adotou um estilo muito leve, que pouco mostra dos monstros enfrentados pela personagem Elizabeth (Julia Roberts), e da complexidade dos seus conflitos internos. Tornou-se um filme de autoajuda, e evitou grandes dramas. As belas locações na Índia, Itália e Bali são o que o filme tem de melhor.

Mesmo quando não temos um grande mestre das letras nesta obra, ela tem seu encanto e valor, merece ser lida mais de uma vez, e supera amplamente o filme.

Os Miseráveis, de Vitor Hugo. Poderíamos escrever (e muitos já escreveram) novos tratados e teses sobre esta que é uma das maiores obras da literatura mundial. Mas, muito além da complexidade da trama e dos seus personagens, das descrições dos pensamentos e dos sentimentos de cada um deles, da linha do tempo cuidadosamente alinhavada, para muitos o maior valor de “Os Miseráveis” está na mensagem poderosíssima de perdão e de redenção. O drama onde se debatem os destinos de Jean Valjean, Cosette, Fantine, Eponine, Javert, o bispo de Digne e muitos outros personagens, é denso, difícil às vezes, em especial na primeira parte do livro, quando descreve em minúcias a história do bispo de Digne, o grande benfeitor de Jean Valjean, protagonista da história. Mas é humanamente impossível ser a mesma pessoa depois de ler Os Miseráveis.

Muitas adaptações foram feitas para o cinema e teatro, mas a mais recente, em forma de musical, é marcante e muito bem feita. Os atores são maravilhosos, Hugh Jackman é perfeito no seu Jean Valjean, mas Russell Crowe (Javert), Anne Hathaway, cuja Fantine lhe deu o Oscar de melhor atriz coadjuvante, e Amanda Seyfried como Cosette, não deixam a desejar nas interpretações. Novamente o livro, a obra original, ainda que o musical seja encantador, é inigualável e irretocável.

Ficam para outros artigos livros incríveis que foram interpretados por estrelas de cinema, mas gostaríamos de saber quais são os seus preferidos.



Graciela Botella
Equipe de redação da PoloBlog

Fontes:

http://www.revistas.usp.br/Rumores/article/view/83564https://vivelatinoamerica.files.wordpress.com/2013/12/jorge-amado-dona-flor-e-seus-dois-maridos.pdf