Em 1999, caminhávamos pelo campus da USP com o coração cheio de gratidão. A Cidade Universitária era mais que prédios, corredores e bibliotecas; era um abrigo. Ali nos sentimos acolhidos por professores, por funcionários que nos apoiavam com sorrisos e prontidão e estudantes, que pulsavam vida e ideias. A PoloPrinter, ainda jovem, quis retribuir de alguma forma esse acolhimento.
Foi assim que nasceram os Postais da USP, nossa primeira ação social registrada no verso do cartão como Apoio Cultural. Nove modelos, mostrando a beleza do Campus do Butantã, com os seus prédios que parecem esculturas rodeados por uma vegetação exuberante. Foram mil exemplares de cada modelo, distribuídos gratuitamente de três em três tipos diferentes: agraciamos o reitor e os vice-reitores, os professores titulares e os servidores. Enviamos para secretários de Estado e Municipais e até ao governador de São Paulo — que havia sido aluno da USP e nos enviou uma carta emocionante de agradecimento. Era muito mais profundo do que marketing. Era gesto. Era cultura devolvida a quem nos havia inspirado e nos fez crescer em nosso caminho. Foi um ato singelo, mas carregado de sentido: a Polo nasceu para muito mais do que publicar e imprimir livros: nasceu para divulgar a cultura para todos. O intuito dos postais era que fossem enviados a outros países, para que todos conhecessem a beleza da USP. Foi uma verdadeira ação social.
Sem objetivo comercial, nem cálculo de retorno. Era um gesto cultural despretensioso. Mas tal gesto reverberou. Os postais circularam, foram guardados, despertaram sorrisos e memórias. Fomos chamados para vários gabinetes de vice-reitores, professores nos convidaram para frequentar as suas salas de aula. E, com o passar do tempo, tornaram-se pequenas peças de memória coletiva. Até hoje, 26 anos depois só existem esses Postais na USP. Foi nesse episódio que ficou claro: a PoloPrinter nasceu para marcar presença cultural.
Essa vocação social nos acompanha desde então. Ela se manifesta nas relações que estabelecemos com autores, no cuidado com cada obra que passa por nossas mãos, na forma como transformamos a prestação de um serviço gráfico em um encontro humano. Sempre houve algo além do contrato: um espírito social que marca nossas escolhas, muitas vezes colocando a cultura e o afeto à frente dos interesses imediatos.
A visão que se aprofunda
Esse traço foi reconhecido recentemente por Elô Baêta, nossa diretora da Casa do Escrever que faz parte da PoloCursos. Ao analisar a construção da Home da PoloCursos, nossa plataforma de ensino, Elô destacou a força da postura social que apresentamos — mas também nos lembrou de algo essencial: é preciso ir mais longe. Precisamos mais que apenas um enunciado bem construído sobre o comunitário. Precisamos mais que apenas ressaltar nossa missão social. É necessário estruturá-la em ações consistentes.
Seu comentário nos abriu horizontes. O mundo tecnológico já está saturado de cursos online, pagos ou gratuitos. Se quisermos ser apenas “mais um site de cursos”, ficaremos indiferenciados. Mas a PoloCursos pode e deve ser mais: um movimento social-cultural.
Isso significa colocar a comunidade em primeiro lugar. Antes de compartilhar e comercializar ideias e conhecimentos, precisamos criar vínculos reais: projetos sociais, debates, rodas de leitura, grupos de escrita, encontros no YouTube, espaços de publicação de textos. Precisamos que a comunidade sinta que a Polo é abrigo — um lugar seguro, ético, confiável, humano.
E mais: precisamos integrar essa visão ao todo. A editora PoloBooks, a Livraria PoloBooks, o Portal da Polo e a PoloCursos são partes vinculadas e entrelaçadas; são um ecossistema que pode dar voz a quem precisa encontrar espaço em outros lugares. A missão maior é mais que apenas oferecer cursos, mas formar agentes culturais: autores, professores, mentores. O impacto social precisa ser visível, real, transformador.
Essa foi a provocação da Elô: se temos vocação social, devemos assumir esse compromisso como caminho maior, como norte, como identidade.
O presente que se inaugura
É nesse espírito que lançamos a Sala de Debates Polo — Cultura, Literatura e Sociedade. Um espaço online, gratuito e aberto para que autores, leitores, professores e comunidades se encontrem. Mais que é uma aula gravada. Mais que um produto à venda. É um convite ao diálogo, à construção coletiva, à reflexão.
O primeiro encontro aconteceu no 03 de setembro de 2025. Neste encontro, fomos além de apenas apresentar ideias, mas escutar outras vozes, outros olhares. Cada participante expôs suas ideias e sua determinação de trabalhar para o crescimento da PoloCursos.
Tal como os postais de 1999, a Sala de Debates nasceu como gesto. Um gesto simples, mas cheio de significado: abrir uma mesa pública, onde todos possam se sentar. Se antes entregávamos cartões com imagens da USP, agora entregamos voz e presença.
O fecho social: meios para transformar
Mas vamos mais longe. O horizonte é mais amplo. O compromisso que assumimos vai além de debates e de uma plataforma. Nossa intenção é oferecer meios para que comunidades de base tenham acesso real ao aprendizado.
Queremos levar cursos gratuitos para quem nunca teve a chance de aprender a escrever de forma estruturada. Queremos incentivar a leitura em bairros, onde os livros têm dificuldade de chegar. Queremos dar instrumentos para que jovens, idosos, mulheres, negros, pessoas com deficiência, populações invisibilizadas possam ir muito além de consumir cultura, mas produzi-la.
Porque oferecer um curso, um livro, uma Sala de Debates é mais do que transmitir conhecimento. É capacitar pessoas para se tornarem agentes de transformação. É ajudá-las a descobrir sua própria voz, a escrever sua própria história, a contribuir ativamente para uma sociedade mais justa e plural.
Os Postais da USP nos ensinaram que nem tudo precisa ter objetivo financeiro. Às vezes, um simples gesto cultural basta para abrir caminhos. Hoje, sabemos que essa lição vale ainda mais: nossas ações sociais podem influenciar outros a também arregaçarem as mangas na luta comunitária. Se multiplicarmos esses gestos — nós e todos que acreditam no poder da cultura –, criaremos uma rede de transformação.
Esse é o nosso compromisso. Mais que apenas empresarial, mais que apenas cultural. É humano. É social. É a paixão que nos move desde 1999 e que agora se atualiza em novas formas, novas plataformas, novas vozes.
E cada pessoa que entrar nessa Sala de Debates será parte dessa história. Uma história que começou com postais impressos e agora se escreve em palavras ditas, ouvidas e compartilhadas. Uma história que só tem sentido porque acreditamos, de fato, que a cultura pode mudar a sociedade em que vivemos. E, se a nossa experiência frutificar, a Sala poderá se tornar um espaço permanente de convivência, com fóruns abertos, mensagens de áudio e texto e acesso às gravações anteriores. Um novo centro de debates sociais, culturais e literários dentro do Grupo Polo.