A romantização da ideia de que as mulheres “dão conta de tudo” é algo comum, mas raramente se questiona como elas realmente conseguem dar conta de tudo. Qual é o impacto disso em sua saúde mental e física? Antes de usarmos essa expressão, precisamos refletir.
Outro questionamento importante: quantas mulheres estão adoecendo por tentar dar conta de tudo?
Para muitos, ser mulher é sinônimo de cuidar dos filhos, do marido, da casa, do trabalho e de tudo que se considera “naturalmente” feminino. Mas seria mais justo se os homens também compartilhassem essas responsabilidades. E eu me pergunto: quem cuida dessas mulheres?
A exaltação da mulher que “faz tudo” é frequentemente ilustrada por imagens de mulheres carregando seus filhos nas costas enquanto cozinham, lavam roupas, limpam a casa e ainda cuidam do marido. Mas, para mim, isso não é ser guerreira, é sobrecarga. É um peso que leva ao adoecimento, principalmente das mulheres negras, que enfrentam uma carga ainda maior devido à expectativa social de que sejam “fortes” e “capazes de dar conta de tudo”. Sim, as mulheres fazem muito, mas o que não se vê é que, para isso, elas precisam de ajuda. Precisamos dividir essas tarefas. Precisamos trabalhar juntas e juntos para equilibrar as coisas.
Por outro lado, essa mesma imagem da mulher que “dá conta de tudo” é usada por muitos — homens e mulheres — como um símbolo de resistência, força e superação. Mas eu me pergunto: as mulheres realmente conseguem dar conta de tudo? E se elas tivessem alguém para dividir essas responsabilidades? Como seria sua vida, sua saúde, seu lar, seu entorno?
Romantizar essa ideia naturaliza a sobrecarga das mulheres, sem questionar o impacto que isso tem em sua saúde física e mental. Não é mais sustentável que elas carreguem sozinhas o peso de tudo, sem apoio ou ajuda do parceiro. Precisamos mudar essa narrativa e construir uma sociedade onde as responsabilidades sejam compartilhadas de maneira justa e equilibrada, permitindo que as mulheres vivam com mais dignidade, saúde e apoio.
Não estou aqui desvalorizando a força e a resistência das mulheres, especialmente das mulheres negras africanas, nem tirando seu mérito. Isso seria impossível. Sou filha de uma mãe solteira, que me criou com o pouco que tinha, lutando todos os dias para me oferecer o melhor — na alimentação, na educação e em tantas outras coisas. Tudo o que sou hoje, devo a essa mulher, minha mãe.
Hoje, compreendo e questiono a romantização dessa ideia de que a mulher “dá conta de tudo”. A verdade é que, muitas vezes, elas são sobrecarregadas e adoecem porque não conseguem compartilhar as tarefas. Precisamos dividir essas responsabilidades para equilibrar o peso que tantas mulheres carregam.
O que me questiono é: como a sociedade continua a romantizar essa ideia, sem considerar o custo físico e mental disso?
Precisamos parar de romantizar a violência de gênero dentro de nossas casas e da sociedade como um todo. As mulheres não são super-heroínas. Elas não devem ser sobrecarregadas a ponto de adoecer. Precisamos repensar essa imagem da mulher que “dá conta de tudo”, porque isso não é força, não é resiliência — é sobrecarga e adoecimento. Especialmente para as mulheres negras, que enfrentam desafios ainda maiores.
A ideia de que as mulheres podem e devem dar conta de tudo é incutida tanto nos homens quanto nas próprias mulheres, e essa narrativa precisa ser desconstruída. O trabalho doméstico, o cuidado com os filhos, não são responsabilidades exclusivamente femininas. Os homens também podem e devem compartilhar essas funções.
As mulheres não precisam carregar esse peso sozinhas. Quando os homens participam das tarefas domésticas, quando compartilham responsabilidades, o equilíbrio é restaurado. As mulheres também precisam de ajuda quando estão exaustas, e isso é algo que a sociedade deve reconhecer.
As mulheres são chefes de família, trabalham para sustentar o lar, cuidam dos filhos e ainda precisam manter a casa. Mas é essencial reconhecer que elas também precisam ser cuidadas, amadas e respeitadas.
E isso não deveria ser impossível.
O amor não deveria ser impossível.
As mulheres, especialmente as mulheres negras, precisam ser amadas, cuidadas e respeitadas. Elas merecem carinho e apoio. Afinal, são elas que sustentam tantas famílias com dedicação e amor. Mas elas também merecem descanso, apoio e cuidado.
Boa reflexão.