No centro da cidade, numa região vibrante de bares e restaurantes, seis rapazes de seus dezesseis a dezessete anos combinaram de se encontrar para celebrar o fim do ensino médio. O período escolar das suas vidas tinha terminado.

Estavam assustados, pois tinham agora que escolher um caminho diferente a seguir, e cada um deles partiria para estudar uma profissão e frequentar uma faculdade distinta. Marcaram às seis da tarde para que todos pudessem chegar a tempo e também porque era um horário entre o fim do dia e o início da noite. Ainda estava claro quando se encontraram. Todos chegaram no mesmo horário, condicionados ainda pelo hábito das entradas na escola. Entre gargalhadas e riso, a tarde foi caindo e a noite acendendo as luzes do bairro.

Era a primeira noite que passariam sem os pais e juntos, sem responsabilidades escolares, apenas entregues ao prazer da aventura juvenil. Entre eles estavam Eduardo, tímido, imaginativo, sempre o último a tomar decisões; Rogério, um pouco mais ousado e rápido no riso; e Marcelo, que gostava de se fazer de entendido sobre a vida urbana, embora conhecesse tão pouco quanto os outros.

Caminhavam sem rumo, fingindo experiência. Bem-vestidos, com roupas de adultos. A independência recém-adquirida pesava e encantava ao mesmo tempo. Passavam por grupos de jovens sentados nas calçadas ou nos bares, sem se deter — as meninas ainda não eram assunto que valesse dividir o grupo, que funcionava como um organismo inteiro, movido por cumplicidade silenciosa. Mesmo livres na rua, eram alunos que se conheciam havia anos — e a convivência escolar os unia e protegia.

Foi Rogério quem, ao ver um restaurante de esquina, sugeriu entrar. Houve dúvidas, como sempre quando a fronteira entre o permitido e o ousado se estreita, mas a decisão dos mais corajosos arrastou os demais. Era tudo muito novo. Conheciam restaurantes apenas pela experiência acompanhada dos pais. Agora estavam sozinhos. Entraram envergonhados e foram recebidos por um garçom atencioso, que os levou a uma mesa redonda no centro do salão, perto da entrada, de onde podiam ver as pessoas passando de um lado para o outro.

Sentaram-se, e a conversa explodiu. As risadas de gozação saltavam de um para outro. Estavam felizes. Entre uma brincadeira e outra, perceberam que precisavam pedir alguma coisa. Optaram pelo prato da casa: frango assado com batatas fritas, acompanhado de refrigerantes — nada de álcool, pois todos tinham menos de 18.

A comida agradou. Comeram bem, beberam muito refrigerante — calor da primavera e pernas cansadas da caminhada. Alguns, inquietos, queriam ir embora. Pediram a conta, mas o garçom estava ocupado atendendo pessoas de outras mesas. Os meninos foram ficando à espera. Pediram novamente a conta a outro garçom. Esperaram um bom tempo e nada de a conta vir. A demora começou a incomodá-los.

E então, sem planejamento e sem palavras, como se obedecessem a um instinto antigo, algo tomou forma: Eduardo se levantou sem dizer nada. Olhou para a porta, ajustou o passo como quem só está esticando as pernas, arrumando a calça, esticando os braços, e foi saindo pela porta com naturalidade improvisada. Segundos depois, Marcelo e Rogério repetiram o gesto, lentos, calculando cada movimento.

Os que ficaram trocaram olhares tensos, pois, para se salvarem, tinham obrigatoriamente que acompanhar os outros. Notaram o garçom observando e ouviram uma voz chamando:
Ei, vocês aí!

A partir daí, o que era hesitação virou disparo. Correndo do centro do restaurante até a porta, fugiram como quem invade, pela primeira vez, o território da vida adulta. Do lado de fora, encontraram os outros três, e o bando se lançou acorrer rindo muito nervosamente, correram pela rua como se desafiassem o próprio mundo. Depois de um quarteirão, perceberam que ninguém os seguia. A sensação de vitória os inundou.

Comentavam como se aquilo tivesse sido uma grande obra de coragem. Nada extraordinário, mas a adrenalina — essa força que empodera — os fazia sentir heróis. Aquela noite tornou-se memória. Ficou guardada como um rito secreto de coragem adolescente. Foi uma primeira ação tomada como adultos que medem forças numa disputa com o outro: foram corajosos assumindo a responsabilidade por seus atos.

Continuaram caminhando animados. Como já era tarde, um e outro começou a se despedir, até que todos foram para casa. Cada um querendo chegar cedo para deixar os pais tranquilos com o retorno dos filhos.

Muitos anos depois, aquele mesmo Eduardo, já homem feito, jantava com a esposa num restaurante japonês recém-inaugurado na Zona Norte de São Paulo. Era um restaurante famoso, com várias unidades por toda a cidade. Aquela unidade tinha sido recentemente aberta. Era igual às outras, típica franquia.

Eduardo e a esposa tinham comido muito — era um rodízio. Notaram algumas falhas no atendimento, que se refletiam na qualidade da comida e na sequência em que era servida, mas nada que justificasse uma queixa formal ou que os fizesse falar mal do restaurante. Satisfeitos, embora insatisfeitos, pediram a conta. A casa estava cheia, muito cheia, e por isso Eduardo relevou a demora do garçom. Vários vinham à mesa, sem resolver nada. O tempo passou, e nada da conta chegar. Como último recurso, chamaram um senhor que parecia ter um cargo maior — um maître ou gerente — mas, mesmo assim, depois de um tempo, nada de a conta vir.

O atendimento era falho, a conta demorava, e a paciência se esvaía. Enquanto esperavam, Eduardo decidiu contar à esposa, Fernanda, a história da fuga do restaurante depois do jantar — cada detalhe, cada riso, cada pulsação de coragem imatura.

Ela ouviu a história e, ao final, com um sorriso cúmplice, se levantou lentamente, repetindo o antigo gesto dos garotos, e caminhou em direção à porta. Eduardo hesitou, respirou fundo e a seguiu. Caminhou quase nas pontas dos pés, esperando o inevitável chamado: Senhor, falta pagar a conta!

Nada aconteceu. Nada.

Do lado de fora, ele encontrou Fernanda e sussurrou:
— Anda, vamos, anda, rápido, mais rápido…

Seguiram com a sensação de que alguém os alcançaria. Depois de um quarteirão chegaram ao carro, estacionado numa rua próxima, entraram rápido, fecharam as portas. Fernanda, que ia dirigir, ligou o motor. Só então, com o carro em movimento, Eduardo teve a coragem de olhar para trás para ver se alguém os tinha seguido. Nada. Ao dobrar a esquina, sentiram que por fim estavam livres e seguiram adiante. Eduardo olhou para Fernanda; Fernanda olhou para ele — e ambos explodiram em uma grande risada — uma gargalhada limpa, de quem reviveu algo que não sabia que estava vivo.

Eduardo sentiu uma pontada de culpa, mas também o brilho juvenil que o visitara tantos anos antes. Havia ali uma verdade simples: às vezes, para reencontrar a si mesmo, é preciso reabrir uma janela do passado.

Um gesto, uma travessura sem maior consequência — e o menino adormecido nele respirou de novo.

As duas fugas — a da juventude e a da maturidade — mostram que a vida guarda em silêncio certas forças que só revelam sua utilidade muito tempo depois de nascerem. O gesto inconsequente dos meninos torna-se, na vida adulta, não repetição, mas reconhecimento: um reencontro com a coragem original, com a leveza perdida, com a alegria que não envelhece.

O passado nunca dorme: ele espera apenas o instante certo para voltar e ensinar o que antes não podíamos compreender.