A Luta pela Sobrevivência na RDCongo
Um paraíso ideal, um santuário da biodiversidade diariamente destruído, desconstruída transformada num verdadeiro inferno na terra em nome de uma competição tecnológica insustentável. Um país de tanta riqueza ao mesmo tempo tão pobre que ao longo da sua história, é roubado em seus recursos naturais e a sua população explorada de todas as formas.
A República Democrática de Congo (RDC), é o segundo maior país do continente africano, com uma dimensão territorial de 2.344.858 km², localizada na África central e tem como capital Kinshasa. A sua população total é de 115,403,027 habitantes, com uma densidade demográfica de 40,7 hab./km², é um dos países com menor IDH no mundo 0,479. Ao Norte faz fronteira com República Centro Africana e Sudão do Sul, ao leste com Uganda, Ruanda, Burundi e Tanzânia. Ao sudueste e ao sul, faz fronteira com a Zâmbia. De sudueste ao leste faz fronteira com Angola e República do Congo ao leste. Importa destacar-se que o RDC é atravessado pela linha do equador, fazendo com que esteja situado entre o hemisfério norte e sul do planeta.
A RD Congo é um reservatório mineral mundial, possui o maior número de depósito de cobalto, 70% da produção mundial, um elemento essencial para construção de smartphones, computadores, e carros elétricos ecológicos. Segundo Igor Castellano, possui 10% das reservas de cobre do planeta, 1⁄3 de diamantes e outros recursos também como urânio, zinco, nióbio, tântalo, petróleo, diamantes industriais e gemas, ouro, prata, manganês, estanho, carvão, energia hidrelétrica e madeira.
Contexto Histórico:
O massacre da RDC teve início na era colonial. O RDC fazia parte do reino de diferentes organizações e tribos étnicas. Os garimpeiros europeus, patrocinados pelo Rei Leopoldo II da Bélgica, chegaram na Bacia do Congo e invadiram e dividiram esses reinos no final do século XIX. Os reinos, foram obrigados a conceder a Leopoldo os direitos de propriedade do território do Congo. A população local foi obrigada a produzir borracha por militares coloniais privados do rei durante o Estado Livre do Congo. Milhões de congoleses morreram de doenças, exploração e crueldade entre 1885 e 1908. Entretanto, o LEOPOLD foi obrigado a ceder as terras ao estado da Bélgica, o que foi feito no Congo Belga. Após conquistar a sua independência da Bélgica em 1960, os seus primeiros anos foram marcados pela instabilidade políticas e conflitos com os países vizinhos envolvendo Ruanda, Uganda e Burundi motivados pela identidade étnica e rivalidades regionais.
Recursos Principais: Os recursos minerais do Congo são essenciais para indústrias globais e várias empresas da tecnologia. Além de ouro, diamante, urânio, o país possui uma quantidade significativa de coltan, cobalto e lítio, componentes essenciais para dispositivos de armazenamento de eletrônicos. O coltan é uma pólvora negra extraída através de trituração de rocha, o coltan é um mineral constituído pelo columbita (nióbio) e tântalo. O columbi é um dos super condutores do mundo utilizado para construção de ônibus espaciais e satélites, o tântalo é utilizado nas tecnologias militar e nos componentes internos dos smartphones, além desses, as suas águas também são fontes de interesses econômicos. O lago “lac kivu” que fica na sua fronteira com a Ruanda além da sua anomalia, contém nas suas profundezas um depósito de hidrocarbonetos, com uma exploração controlada e distribuição equitatória, o país seria uma das melhores economias do mundo.
No entanto, o país apresenta uma geopolítica importante que atrai interesse das grandes potências e multinacionais estrangeiras que atuam no país. A China por exemplo, vem se expandindo por aquela região em busca de cobalto e coltan, envolveu o governo de Congo nas novas rotas da seda, concedeu benefícios comerciais em troca, recebeu maior acesso ao economia do país na qual constrói grandes minerações e armazéns para armazenar minerais extraídos e colocá-los no mercado internacional. Entretanto, a exploração dos recursos minerais tem sido motivo de disputa política e conflitos étnicos envolvendo diferentes atores em função dos seus interesses.
Conflitos e Consequências: O principal problema da República Democrática do Congo esteve centrado na política. A falta de capacidade de governar, a sabotagem dos países vizinhos e a corrupção são fatores que colocam o país em constante crise. Desde a sua independência da Bélgica em 1960, a República Democrática do Congo é frequentemente palco de conflitos devido às divergências étnicas e às disputas por recursos naturais. Esse conflito se deu origem no genocídio em Ruanda em 1994 os conflitos na RD Congo. Depois do acordo de paz em março de 2009, o ressurgimento do grupo armado M23 em 2021, apoiado pela Ruanda, intensificou o conflito na região leste do Congo com o objetivo de destituir o governo Congolês. A decorrência do conflito levou a insurgência de outros grupos armados, que atuam no país movidos pelos seus interesses nos recursos minerais da região. Entretanto, os conflitos e disputas têm marcado a utilização desses recursos. A extração de minerais por frequentemente cometem violações graves dos direitos humanos, impondo condições de trabalho desumanas e causando danos ao meio ambiente. As principais vítimas de conflitos e as disputas são civis, na sua maioria idosos, mulheres e crianças. Desde o seu início, causou grandes deslocamentos internos de comunidades e aumento da precariedade de condições de saúde da população em situação de vulnerablidade social. Destaca-se também a exploração de trabalho infantil.
O conflito prolongado na República Democrática do Congo (RDC), muitas vezes recebe menos atenção do que outros conflitos com impactos internacionais mais diretos, apesar de sua gravidade e consequências humanas. Por exemplo, a crise na RDC, deslocou mais de 1,6 milhão de pessoas desde março de 2022, e a recente escalada de violência, que resultou em um recorde histórico de 7,2 milhões de deslocados. Mas, apesar da elevada estatística de número de vítimas, geralmente não recebe a atenção da mídia convencional com a mesma intensidade com conflitos em outras regiões do mundo. Por exemplo, conflito de Israel e Palestina ou conflitos na Europa entre Ucrânia e Rússia. Entretanto, essa falta de atenção mediática, seria por motivos de afinidade ou seria por ser numa região que vem sendo saqueada desde a colonização por grandes potências Européias?
Em suma, apesar de todas as adversidades apresentadas, a RD Congo continua sendo um país estrategicamente importante no cenário mundial. Com o aumento da demanda pela matéria prima no mercado mundial, em detrimento da transição energética, a ascensão de carros elétricos e outros fatores, coloca a RD Congo como um ator econômico importante no cenário internacional devido à sua vasta riqueza mineral. No entanto, com a exploração dos recursos minerais de uma forma eficiente e distribuição equitativa, o país seria uma das melhores economias do mundo. Mas, a constante instabilidade e conflito interno, afasta investimento externo direto (IED). Contudo, a presença de milícias nas áreas prejudica os esforços para estabelecer práticas de mineração responsáveis e transparentes.
Referências:
- Entenda os conflitos na República Democrática do Congo; G1; Disponível em: https://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL868302-5602,00-ENTENDA+OS+CONFLITOS+NA+REPUBLICA+DEMOCRATICA+DO+CONGO.html
- Guerra do Congo;Toda Matéria;Disponível em: https://www.todamateria.com.br/guerra-do-congo/
- PEREIRA, Letícia; AGUILAR, Sergio L. C.; CONGO – A ATUAL DINÂMICA DO CONFLITO E A RENDIÇÃO DO M23; Campus de Marília – SP; N. 02 – Abril de 2014.
- Refugiados na República Democrática do Congo; Comité Internacional da Cruz Vermelha; Disponível em: https://www.icrc.org/pt/refugiados-na-republica-democratica-do-congo
- SILVA, Igor Castellano; CONGO A GUERRA MUNDIAL AFRICANA: Conflitos Armados, Construção do Estado e Alternativas Para a Paz; Porto Alegre, RS; Editora Leitura XXI; 2012
https://annemarieproject.org/pt/os-10-maiores-produtores-mundiais-de-cobalto-em-2019/
https://www.cia.gov/the-world-factbook/countries/congo-democratic-republic-of-the/summaries/
https://www.dw.com/pt-002/cobalto-um-metal-raro-precioso-e-disputado-na-rep%C3%BAblica-democr%C3%A1tica-do-congo/a-45510238
Requisitos minerais para transições de energia limpa – O papel dos minerais críticos nas transições de energia limpa – Análise – IEA
Quem é quem no conflito na RDC – DW – 22/02/2024
RD Congo pretende rever acordo bilionário de mineração com investidores da China – A Referência (areferencia.com)
ONU condena ataques na RD Congo que mataram pelo menos 49 civis | ONU News
Trabalho infantil e exploração na República Democrática do Congo alimentam a produção mundial de baterias | Anistia Internacional
https://www.acnur.org/portugues/republica-democratica-congo-rdc/
Crise na RD Congo gera mais de 7 milhões de deslocados, diz Acnur | ONU News
Belo trabalho. É disse tipo de trabalho que o continente precisa.
O texto articula adequadamente os marcos históricos da região e os processos políticos do período de democratização até a atualidade. Acho importante a repercussão dessas disputas também no campo da saúde, como o aumento da mortalidade materna/infantil e da insegurança alimentar. O registro histórico-documental é muito importante como ferramenta de análise e registro, mas também para denunciar. Continue com a escrita, Durval, parabéns!
Excelente análise, um artigo que explica como ainda é atual o extravismo e a violência causada por uma questão de posse, perceber que esse sistema de exploração expõe um molde capitalista, onde sabemos muito bem a sua criação. Parabéns Durval ! Que venham os próximos artigos!
Parabéns, Durival! Fez um análise muito importante sobre a situação do RDC, sobretudo quando o senhor destaca a falta da atenção das mídias internacionais em reportar esta situação. É o que nós (na qualidade dos africanos) devemos abrir os olhos, o ocidente nunca vão resolver nossos problemas, ainda por cima onde têm algo a ganhar, como é o caso do RDC. Todos os recursos naturais que encontram lá, eles têm interesses naqueles recursos, portanto, nunca quererão que os congolês descubram isso, mais conflitos entre eles, dará mais a margem de roubar-lhes. Portanto, agradeço por este artigo, foi um olhar interessante que nos ajuda a pensar a situação dos países africanos.
Massa! Trabalho brilhante, ficou muito bem escrito com uma argumentação clara e bem fundamentada.
Parabéns, Durval pelo artigo! A sua análise sobre a situação da República Democrática do Congo (RDC) é extremamente bem elaborada e informativa. O texto traz um panorama claro e profundo sobre a riqueza mineral do país, os desafios históricos e as implicações contemporâneas que ligam a RDC ao cenário global. Você conseguiu articular com precisão a complexidade das disputas políticas, econômicas e sociais que afetam o país, especialmente no que diz respeito à exploração de seus recursos e aos impactos sobre a população local.
A abordagem histórica e geopolítica é particularmente relevante para compreender como a exploração desenfreada e a instabilidade interna perpetuam o sofrimento da RDC, enquanto ela continua a ser essencial para as cadeias globais de tecnologia. A comparação com a atenção desproporcional dada a outros conflitos no mundo é uma provocação válida, que ressalta as desigualdades na cobertura e na mobilização internacional.
Seu texto não é apenas informativo, mas também provoca reflexão sobre a necessidade de justiça social e econômica, bem como de maior responsabilização das grandes potências e multinacionais que lucram com essa exploração. É um trabalho que certamente enriquece o debate e ajuda a dar visibilidade à grave situação do povo congolês. Parabéns pela contribuição!
Eu achei o texto bom
Muito bom, o autor conseguiu trazer a visão da atualidade através de um contexto passado, destacando a importância do país na sua região que nos mostra os reais motivos por detrás das guerras a RDC que o vem enfrentando… Muito bom.
Parabéns pelo artigo, estou muito orgulhosa de ti meu irmão!!!
“CONTENTAMENTO PASSA KU MI”
Parabéns pelo artigo.
A história da África precisa ser contado por nossa visão…
Parabens gostei
Assim começo por parabenizar a sua iniciativa de fazer um artigo bem reflexivo sobre um dos maiores problemas que temos no continente africano (problema de Bacia do rio Congo). Visto que esse era uma das lutas de revoltas anticoloniais desde século atrás, de começar a tratar problemas de África como um todo (onde nasceu a ideia de pan-africanismo), então a sua visão é basicamente nesse sentido, um olhar além fronteiras trazendo esse problema que já é um “Caus”.
RDC passou a ser fonte duma briga das potenciais globais tem em conta a sua riqueza, mas como ele possui um IDH baixo dessa maneira? É porque existe um interesse da exploração clara dessas potências aplicando a política de “Chutando as Escadas”. Parabéns pelo que você traz nessa sua brilhante obra.
RDC agradece, Guiné-Bissau agradece e África agradece…