Ao voltar para o Recife, com recomendação do Prefeito Augusto Lucena ao Dr. Porfírio de Andrade Gueiros, fui recebido como funcionário da EMETUR (Empresa Metropolitana de Turismo), em fevereiro de 1972. Para não entrar “verdinho” no assunto, voltei a São Paulo e tratei de fazer um curso intensivo na Faculdade de Turismo do Morumbi, à época, a única do Brasil, tendo por companhia Lucila e Elias Azulay. O professor foi o Dr. Domingos Hernandes Peña, professor visitante.
Na EMETUR, o Porfírio me nomeou seu assessor, e assim tive o meu primeiro tempo em uma área que duraria 25 anos. Meu companheiro de Gabinete era o meu amigo Elias Azulay, encarregado maior de assuntos externos e eu fiquei com a responsabilidade do atendimento aos que procuravam o Diretor de Turismo (Porfírio).
A mim me foi confiado, em especial, o recebimento dos projetos daqueles que, empresários, queriam usar os benefícios do PRODETUR. Isto é, em parceria com os governos estaduais, o Banco do Nordeste identificou, na Região Nordeste, algumas áreas com vocações semelhantes do ponto de vista do turismo, e iniciou um processo de formação de 16 Polos Turísticos. Com enfoque de planejamento estratégico da atividade turística, o Banco trabalhou o setor com visão empresarial, ao mesmo tempo, calcado nos princípios do Desenvolvimento Sustentável, investindo em capacitação profissional e empresarial e financiando infraestrutura pública (por meio do PRODETUR/NE) e empreendimentos do setor privado. Com isso buscou-se promover o desenvolvimento sustentável do turismo na região, melhorando a qualidade de vida das comunidades locais e, ao mesmo tempo, criando um ambiente favorável a novos investimentos geradores de emprego e renda.
Um dia, minha secretária informou que estava ao telefone um senhor que queria se informar sobre incentivos para ampliação do seu hotel. Perguntei o nome e com surpresa ouvi: Osório Martins Melo, meu avô materno. Autorizei marcar a entrevista para o dia seguinte, às 14h.
Era uma típica quarta-feira do verão recifense, em abril de 1972, o aparelho de ar-condicionado estava funcionando muito bem e, apesar de ter mais dois colegas na sala, naquele momento, eu estava sozinho. Ao receber pelo interfone a confirmação da chegada do empresário Osório Martins, levantei-me e fui recebê-lo à porta. Confesso que ao cumprimentá-lo, minhas mãos estavam geladas, mas, certamente, ele não percebeu.
Fui apresentado a um plano muito bem elaborado para ampliação do Lido Hotel, de sua propriedade. Durante mais de quarenta minutos, discutimos os caminhos para a obtenção do PRODETUR, suas vantagens e desvantagens. O empresário, muito organizado, trouxe para aquele encontro todos os documentos requeridos pelo Governo para ingresso na promoção.
Ao concluirmos, Sr. Osório perguntou quando poderia voltar para saber sobre o andamento do processo. Expliquei que era um pouco demorado porque teria de enviar primeiro à EMBRATUR e esta daria seguimento junto ao Ministério da Indústria e Comércio. Marcamos para duas semanas depois.
Ao pedir meu nome para colocar especificamente com quem e em qual data se encontraria ali na EMETUR, eu respondi, não sem esconder a agonia interior em razão do encontro: Enos Martins Moura, seu neto mais velho.
Duas lágrimas escorreram pela face do meu avô. Em que pese ser o Lido Hotel na mesma quadra da EMETUR, não obstante, eu residir a apenas quinhentos metros dali, tínhamos nos encontrado, raramente, uns 25 anos antes (eu estava com 28 anos). Vovô pediu licença e voltou a se sentar. Não marquei no relógio, mas creio que ficamos conversando mais de uma hora. Ele queria saber de sua filha, de quantos irmãos eu tinha, onde meu pai trabalhava, quais os motivos do nosso desaparecimento e porque não nos encontrávamos pelas ruas do bairro, já que residíamos tão perto.
Minhas informações e explicações foram bem verdadeiras, mas tive de pisar em ovos, pois a razão principal era que a esposa dele, madrasta de mamãe, não queria saber da nossa existência. E eu não queria magoar nenhum dos dois.
Duas semanas depois, ele voltou, o projeto foi aprovado, ele me trouxe uma finíssima camisa de seda, a qual usei durante mais de dez anos. Foi a última vez que vi meu avô.
Autor Enos Moura, escritor, Pastor, documentarista, grande ser humano. Já tem várias obras publicadas pela Editora PoloBooks.