Lembranças… As melhores tenho de meus professores, desde o jardim da infância até aos cursos de pós-graduação. Cilene França, Anderson Queiroz, Claude Larreur e alguns mais, estão sempre presentes sempre que ponho no papel minhas histórias e reminiscências.

Com muito carinho, lembro-me das aulas de Português e de Literatura Portuguesa, ministradas pelo meu inesquecível professor Odonico Santos Medrado. Além de ser muito exigente com a ortografia, sua relação de livros, para se fazer o resumo em aula, marcou um tempo decisório em minha vida.

Adolescente, eu era aluno do segundo ano ginasial no “Ginásio Estadual de Jaboatão”. O professor Medrado me incumbiu de resumir o livro “Construir o Homem e o Mundo”, de Michel Quoist. Eram 290 páginas, distribuídas ao longo de cinco grandes tópicos. Ainda bem que ele me deu três semanas para apresentar o trabalho.

Aos meus 13 anos, estava ainda meio perdido quanto à construção de minha vida, desejos de adolescente, planos para um futuro ainda distante. O título do livro não veio por acaso. Não acredito em coincidências.

Não tenho fluência no francês, mas creio que a tradutora Rose Maria Muraro foi muito feliz em traduzir do original francês “Reussir” (ter sucesso) para “Construir o Homem e o Mundo”. Eu estava me construindo naqueles dias, em muitos aspectos, e foi aquele livro indicado pelo Professor Medrado que contribuiu em muito para as decisões de um adolescente em formação.

Capítulos como “Acolher a alegria”, “Não se sobrecarregar de trabalho”, “Saber parar”, “Saber concentrar-se”, “Quem são os outros”, “Falar com o outro é em primeiro lugar, ouvir” e “Amar é dar-se”, contribuíram sobremaneira, logo depois do meu ainda hoje livro de cabeceira – a Bíblia Sagrada, para minha formação moral e espiritual.

Dentre esses gostaria de destacar dois que se mantêm vivos a todo instante no meu dia a dia: “Amar é dar-se” e “Falar com o outro é, em primeiro lugar, ouvir”.

Quem primeiro me amou foi o Senhor Deus, o qual deu o Seu único Filho para se doar em meu lugar naquela cruz sangrenta.

Tenho certeza que amo verdadeiramente uma pessoa quando sou capaz de me doar a ela e por ela. Jamais teria a coragem do Cristo, mas, mutatis mutandis (uma expressão advinda do latim que significa “mudando o que tem de ser mudado”. Pode ser entendida como: “com as devidas modificações”, “com os devidos descontos”) esposa, filhos e grandes e verdadeiros amigos recebem de mim essa ação. Sem dúvida, a toda hora, sou posto à prova e exerço a ação daquele capítulo: “falar com o outro é, em primeiro lugar, ouvir”. O gabinete pastoral contém o exercício diário dessa afirmativa e, nos meus quarenta anos de ministério, tornou-me um ouvinte a toda prova.

Autor Enos Moura, escritor, Pastor, documentarista, grande ser humano. Já tem várias obras publicadas pela editora PoloBooks.