Livros tem o poder de libertar, criar independência e emitir opiniões. Da mesma maneira como ocorreu com as “bruxas”, os livros também foram queimados.

 

 

Como nos recorda o historiador inglês Peter Burke (1937- ): “A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer”.

Clio, a deusa da história, mostra-nos a necessidade do registro dos fatos para o conhecimento. Os livros não são espaços apenas para perfilar ideias e guardar o passado, mas também para dialogar e refletir sobre o presente, eles registraram as grandes realizações da humanidade e os flagelos. Com a leitura, podemos viajar para inúmeros lugares e viver em épocas diferentes, permitindo o aprendizado e reflexões; ela nos proporciona também o livre pensamento da informação e da criatividade.

Assim como dizia Monteiro Lobato: “Quem mal lê, mal ouve, mal fala e mal vê”.

O filósofo francês Jean-François Revel dizia que a sociedade move-se pela mentira, sendo que os inimigos da liberdade estão em todo lugar e se expressam no comportamento político, cultural e da mídia.

 

Como combater os inimigos da liberdade? Aldoux Huxley, em 1958, descrevia a lavagem cerebral, a propaganda e a tecnologia como potenciais adversários da liberdade. Porém, a maior adversária é a falta de educação e discernimento.

Regimes autoritários, para exercer seus poderes, censuraram livros que julgavam perigosos, outros os queimaram. No livro de George Orwell, 1984, queimar livros inconvenientes para o regime em vigor permitia ofuscar a memória da sociedade. Após o primeiro Concílio de Nicea, o imperador romano Constantino publicou um édito contra o arianismo, o qual incluía a queima de livros.

O Julgamento do Talmude (livro sagrado dos judeus, o qual
descreve a lei, costumes e a história deste povo) ocorreu na corte do rei Luís IX da França, foi um debate comandado pela Igreja Católica para desacreditar o judaismo. A disputa culminou na queima de milhares de manuscritos hebraicos, em praça pública, no dia 15 de junho de 1242.

A censura dos livros trazidos ao Brasil

 

A briga entre Henrique VIII e o Papa, ocorrida entre 1536 e 1550, resultou na incineração de milhares de textos católicos. O Índex Liborum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos), em 1559, era uma lista de livros condenados criada pela Igreja Católica, na Idade Média, para combater a Reforma Protestante. A última edição foi publicada em 1948 e o Índex foi abolido em 1966.

Os livros trazidos ao Brasil até o século XIX eram avaliados por censores antes de serem liberados. Esta conduta permaneceu até meados deste século.

Buchewerbrennung é um termo alemão que significa queima de livros. Está associado à ação propagandística nazista, que queimou milhares de livros em praça pública, no dia 10 de maio de 1933. O poeta nazista Hanns Johst justificou este ato dizendo que havia a necessidade de purificar a literatura alemã de elementos estranhos que poderiam alienar a cultura do país dele.

Fahrenheit 451 é um livro de ficção científica publicado em 1953, pelo escritor norte-americano Ray Bradbury. O autor narra uma realidade distópica em que a função dos bombeiros era queimar livros para combater o pensamento crítico e autônomo das pessoas.

Clio, deusa da História

A tradição democrática dos Estados Unidos não impediu a queima de livros

Como a obra A revolução sexual, de Wilhelm Reich (1897- 1957),
considerado pornográfico pelo Departamento de Estado Americano.

Durante o Macartismo, na década de 1950, muitas bibliotecas nos Estados Unidos queimaram livros considerados comunistas.

Enfim, lembrando os dizeres do poeta alemão Heinrich Heine (1820):

“Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas”.