Há momentos na vida em que sentimos, sem explicação, o chamado da estrada. Um impulso profundo, que brota das raízes do ser, nos move a deixar o conforto e a segurança para trás. Não é algo que a razão possa justificar. É uma urgência inexplicável, como se o mundo sussurrasse ao ouvido: “Vá”. E nós fomos.
Naquele tempo, éramos guiados por uma inquietação juvenil, um desejo insaciável de tocar o horizonte com as mãos. A estrada não era apenas um lugar físico; era um estado de espírito, um encontro com a vastidão do desconhecido. Cada curva escondia uma promessa, cada cidade que passava pela janela era um novo capítulo da história que estávamos escrevendo com passos, rodas e sonhos.
O que nos empurrava para frente? Não era apenas a paisagem. Era a busca de algo maior, algo que nem sabíamos nomear. Talvez fosse liberdade. Talvez fosse compreensão. Talvez fosse simplesmente a vontade de existir além das margens que nos foram dadas.
Quem sabe era um sentimento nada filosófico, quem sabe tenha sido um desconforto com aquilo que tinha vivido até aquele momento. Para mim era uma sensação interna, por isso subjetiva, de não pertencer àquele lugar, não me identificar com aquela cultura. Mas, naquele momento o pulsar impulsionava à procura do novo e à procura da liberdade.
E assim seguimos. A poeira dos caminhos se tornou parte de nós, assim como o vento, a chuva e o calor escaldante do sol de cada dia. Cada lugar que passamos deixou marcas, não na pele, mas na alma. Pessoas que mal conhecíamos nos acolhiam como se já nos esperassem. Cada rosto encontrado era um lembrete de que a estrada não apenas leva; ela conecta.
Com o tempo, as estradas físicas começaram a dar lugar a outras fronteiras. Fronteiras invisíveis, mas igualmente desafiadoras. Passamos a cruzar os limites do conhecer, navegando mares de ideias, descobertas e palavras. A escrita se tornou uma nova jornada, onde o papel e a caneta eram os nossos companheiros mais leais. Com eles, podíamos explorar terras que nem os passos mais ousados poderiam alcançar.
Escrever é uma estrada sem fim. Cada palavra é um passo, cada frase uma curva inesperada. Há momentos de dúvida, becos sem saída, trechos de silêncio onde parece impossível avançar. Mas, ainda assim, seguimos. Porque sabemos que, ao final de cada página, algo extraordinário nos espera.
Assim como na estrada, na escrita também há encontros. Palavras encontram leitores, histórias encontram significados. E, nesse encontro, a jornada se transforma. O que antes era apenas nosso se torna de todos que percorrem as linhas, que veem o mundo através dos nossos olhos.
Mas não é só na escrita que continuamos a caminhar. Há sempre um “além” que nos chama. Além das fronteiras do medo, além das barreiras do cansaço, além das desculpas que inventamos para não tentar. A estrada está sempre à nossa frente, esperando que tenhamos coragem de dar o próximo passo.
Você sempre encontrará motivos para ir além. E deve ir. Porque o melhor está lá, não como uma recompensa, mas como uma descoberta. Cada passo, cada escolha, cada risco nos leva a algo novo, a algo mais verdadeiro sobre quem somos e quem podemos ser.
E assim continuamos, mesmo quando os pés estão cansados, mesmo quando a estrada parece longa demais. Continuamos porque não sabemos ser de outra forma. Porque, no fundo, sabemos que a jornada não tem fim. E que é exatamente isso que a torna tão fascinante.
Hoje, ao olhar para trás, vejo que não era a estrada que nos chamava. Era a vida. Era o desejo de viver cada dia com intensidade, de transformar cada momento em uma história que valesse a pena contar. E é esse desejo que nos mantém andando escrevendo, vivendo. Porque a estrada, seja ela de terra ou de palavras, é onde nos encontramos.
Perfeito…!
Quem não tem vontade de escrever algo depois de ler um texto com esta qualidade?
É um estímulo e tanto!
Ler nos faz cada vez melhores, e nos estimula a expressar o que sentimos e pensamos.
Gratidão por isso, Ivo!
Siga nesse propósito!