A descoberta do CAPS veio através da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Pessoas com Esquizofrenia (ABRE), com sede em São Paulo. Este encontro mudou o curso de sua vida, levando-a a integrar a diretoria da associação, onde hoje luta por melhores condições e reconhecimento para pessoas com transtornos mentais.Os mundos diferentes da escola hoje e a escola de antes
Samantha Larroyed, conhecida por muitos como Sâmi, é uma mulher que personifica a resiliência e a força diante das adversidades. Aos 37 anos, Samantha tem uma história marcada por desafios e superações. Desde a infância em Brasília, onde nasceu e ainda reside, até os dias atuais, sua vida foi uma batalha constante contra os obstáculos impostos por sua condição de esquizofrenia.
Por 14 anos, Samantha tem vivido com esquizofrenia, dos quais os últimos sete anos foram transformadores graças ao acolhimento do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Este serviço de saúde mental se tornou um verdadeiro divisor de águas em sua vida, proporcionando não apenas tratamento, mas também um espaço de amizade e suporte. No entanto, os primeiros sete anos de sua jornada foram marcados por internamentos em diversos hospitais psiquiátricos, clínicas e pronto-socorros, onde a compreensão e o cuidado eram escassos.
A descoberta do CAPS veio através da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Pessoas com Esquizofrenia (ABRE), com sede em São Paulo. Este encontro mudou o curso de sua vida, levando-a a integrar a diretoria da associação, onde hoje luta por melhores condições e reconhecimento para pessoas com transtornos mentais.
A trajetória de Samantha é também uma história de luta contra o fundamentalismo religioso. Durante nove anos, ela foi fundamentalista evangélica, uma crença que negava a ciência e atribuia seus sintomas a problemas espirituais. O negacionismo, alimentado pelo fundamentalismo, levou Samantha a práticas extremas como jejuns prolongados, que quase lhe custaram a vida. Em um desses jejuns, seu peso despencou para 37 kg, colocando sua saúde em risco grave. Internada às pressas, foi alimentada através de sondas, enquanto sua mente lutava contra delírios e medo de punição divina.
A violência institucional também marcou profundamente a vida de Samantha. Em suas múltiplas internações, foi submetida a tratamentos desumanos: de ser forçada a tomar banho à força, a ser amarrada e deixada sem cuidados básicos. Em um episódio particularmente traumático, um profissional tentou realizar um exorcismo durante uma crise, exacerbando ainda mais seu sofrimento.
Essas experiências dolorosas moldaram a ativista que Samantha é hoje. Ela milita incansavelmente contra o sistema manicomial e as práticas abusivas nas comunidades terapêuticas, defendendo a interrupção de financiamentos públicos para esses locais. Sua história e suas lutas estão documentadas no livro “Memórias da Esquizofrenia”, que foi lançado em sua segunda edição no Seminário de Saúde Mental e Desinstitucionalização em Brasília, em maio de 2024.
Samantha utiliza várias plataformas para promover a causa antimanicomial. Com um forte seguimento no Instagram, Facebook e YouTube, sob o nome “SaMiau Saúde Mental”, ela compartilha suas experiências e educa sobre saúde mental e fundamentalismo religioso. Além de ser uma ativista, Samantha é Acompanhante Terapêutica e está em formação para se tornar psicanalista.
O caminho para a desconstrução do fundamentalismo não foi fácil, mas Samantha encontrou uma nova forma de fé através do cristianismo progressista, inspirada por líderes como o deputado pastor Henrique Vieira. Sua nova perspectiva rejeita todas as formas de preconceito e apoia causas sociais diversas, incluindo antirracismo, feminismo, anticapacitismo e defesa dos direitos dos animais. Há 10 anos, Samantha adotou o veganismo, inspirada pelas palavras da psiquiatra Nise da Silveira, que reconheceu o sofrimento dos loucos e dos animais.
Hoje, Samantha faz parte do Fórum Revolucionário Antimanicomial, um coletivo de saúde mental do Distrito Federal. Ela representa o grupo em audiências públicas, conferências e rodas de conversa, levando sua história de superação a todos os cantos possíveis. Sua voz é uma ferramenta poderosa para conscientizar a sociedade e o poder público sobre a urgência de mudanças no tratamento das pessoas com transtornos mentais. Samantha Larroyed é um testemunho vivo de que, apesar de todas as adversidades, é possível transformar dor em força e lutar por um futuro mais justo e humano.