Gêneros literários: como trabalhar narrativas de terror sobrenatural e psicológico

A palavra “medo” sempre trouxe diversas interpretações para a sociedade e para o mundo da psicologia. Ao procurar no dicionário, podemos encontrar a seguinte definição:
Medo
/ê/
Substantivo masculino
1. 1.
PSICOLOGIA
Estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência.
“m. ao se sentir ameaçado”
2. 2.
Temor, ansiedade irracional ou fundamentada; receio.
“m. de tomar injeções”

Logo, para a psicologia, podemos entender que o medo é o sentimento causado por um estado alarmante, algo desconhecido ou ameaçador. Assim, também podemos encontrar a seguinte definição:
“Podemos entender o medo como sentimento de insegurança em relação a uma pessoa, uma situação ou um objeto. Medo é pessoal, o que assusta um pode ser indiferente ao outro.”
Ambas as definições veem o medo como um sentimento de insegurança. A parte importante desta definição, porém, é a seguinte: “o que assusta um pode ser indiferente ao outro”. Entendemos que diferentes pessoas têm diferentes inseguranças e medos, e que isso se deve ao ambiente em que cresceram e à realidade que conhecem.
Para falar de terror na literatura, é importante entender esse conceito, já que existem diferentes obras que podem ou não ser de suspense ou terror (o que depende muito dos medos e inseguranças de cada um). Um bom exemplo é o livro “Crepúsculo” trazer uma aventura com vampiros, cheia de romance e vida colegial. Enquanto, para alguns, vampiros são objeto de adoração por sua beleza, inteligência e imortalidade, para pessoas que viveram em épocas e lugares onde essas lendas eram usadas para explicar doenças, mortes e violação de túmulos, seria impensável vê-los da mesma maneira.
Assim, ao entender esses conceitos, podemos entender como falar deles com propriedade. Bons autores de terror buscam analisar as sensações causadas por um evento e descrevê-las minuciosamente, tornando a experiência real e assustadora. Pensando nisso, podemos considerar os medos mais comuns da atualidade, que são:
Ficar doente.
Morrer.
Falar em público.
Altura.
Água.
Voar.
Sangue.
Escuro.

“Do que temos medo, como seres humanos? Do caos. De quem é de fora […]. Temos pavor de rupturas. Temos medo de que alguém roube nossos cogumelos na fila do caixa.”
(Stephen King)

Antes de falar dos métodos para escrever narrativas do gênero, é bom deixar clara a diferença entre terror e suspense. Ambos possuem uma narrativa perturbadora e forte, mas, diferente do terror, o suspense não traz elementos sobrenaturais. Em filmes e livros de suspense, por mais que deem a entender, não há fantasmas, vampiros, lobisomens, demônios, etc. Há apenas a mente humana e tudo o que ela projeta devido ao medo.

“Não estamos sós… A coisa pode estar nos esperando embaixo da cama, no escuro do quarto ou ainda surgir em meio às folhagens de um lindo parque com suas garras enormes…”
(It – a coisa – Stephen King)

Para escrever boas narrativas de terror, podemos seguir estes passos:


• Entender do assunto: é impossível falar sobre algo que não sabemos, certo? Ao menos, não deveríamos. Quando tentamos argumentar sobre um assunto desconhecido, tudo se torna enrolação e exageros. Essas especulações tornam a leitura cansativa e tiram muito do principal, que é o sentimento. Antes de escrever seus livros, Anne Rice leu tudo o que pôde encontrar sobre vampiros, sobre os cenários e sociedades em que inseriu suas criações, costumes, trajes, território, idioma, religião, etc. Quanto maior for seu conhecimento, mais rico será o texto e mais difícil será para você ficar “preso” em alguma parte. Tendo um roteiro e conhecimento para terminar sua narrativa, sua escrita será mais fluída e interessante!
• Entender o que seu personagem causa às pessoas: você pode pedir para que amigos e familiares leiam a descrição de sua história e digam o que sentem. Tendo essa base, você saberá onde melhorar, se está obtendo a reação desejada e quais tipos de pessoas sentirão maior desconforto ao ler (convenhamos, as emoções despertadas nesse tipo de leitura não são boas).
• Ser descritivo sem ser cansativo: quando se trata de palavras, você não dispõe das mesmas ferramentas de um filme. Logo, é necessário ser mais descritivo sobre o cenário, as sensações dos personagens, tanto físicas quanto psicológicas, e o ambiente para desenvolver sua história. Mas não seja exagerado para não tornar a história cansativa, afinal, muita enrolação acaba tirando a emoção da história (ninguém quer demorar muito para chegar ao desfecho!).
• Pense nos tipos de final do seu livro: atualmente, o clichê dos livros de terror é o final ruim. Lembro-me de quando era criança e assistia filmes ou lia livros de terror, eu não me preocupava porque sabia que os finais seriam felizes. Depois, os finais onde o monstro sobrevive ou mata a todos foi a novidade, principalmente com adaptações orientais como O grito e O chamado. Posteriormente, o final infeliz se tornou padrão. Isso acaba sendo cansativo. Então, se conseguir inovar no final, ou mesmo seguir um padrão popular, já ganhará muitos pontos!

Para finalizar, aqui vai o top três dos livros de terror que todos os amantes do gênero devem ler ao menos uma vez!

1. O iluminado – Stephen King

Essa obra-prima do terror conta a história de Jack Torrance, que aceita um trabalho temporário como zelador no hotel Overlook. Ele acredita que essa reclusão será ideal para que possa terminar seu livro em silêncio. O que ele não esperava era encontrar hospedes “inesperados” nesse hotel: diversos fantasmas do passado que o convencem de que sua família é um peso. Apesar desse foco, o que se torna o ponto alto é a habilidade de Danny, filho de Jack, o que as pessoas chamam de “iluminação“. Esse dom permite que Danny converse por telepatia e veja coisas que aconteceram e que estão acontecendo em outros lugares, algo que não agrada muito os espíritos malignos do Overlook.
“O taco atingiu a porta do banheiro, derrubando um enorme pedaço do compensado fino. Metade de um rosto louco e determinado a encarou. A boca, faces e garganta estavam cobertas de sangue. O único olho que conseguiu ver estava miúdo e brilhante.”

2. O Exorcista – Peter Blatty


Regan Mcneil é uma garota de onze anos com uma condição no mínimo “especial”. Com situações isoladas e macabras, a garota começa a demonstrar fortes sinais de possessão demoníaca, motivo pelo qual precisa de um exorcista para tentar salvar seu corpo e espírito.
O exorcista foi baseado em uma matéria real sobre um garoto de 14 ano possuído pelo demônio e se tornou um dos mais famosos filmes de terror de todos os tempos e continua sendo adaptado em séries e remakes até hoje!
“Ele queria que eu agisse com amor; que eu fizesse pelos outros; e que eu devia fazer isso com quem me repelia, creio, pois seria um ato maior de amor do que qualquer outro.”

3. Drácula – Bram Stoker


Após a igreja recusar enterrar em solo sagrado o grande amor do líder de Cárpatos por ela ter cometido suicídio (o que, para os cristãos, é o pior dos pecados), o conde renega a Deus e é amaldiçoado com vida eterna e sede de sangue. Nossa história é contada através de cartas e começa quando o advogado inglês Jonathan Harker é mandado à Transilvânia para ajudar o conde Drácula com os papéis de sua nova casa em solo inglês. A partir daí, Harker começa a passar por eventos inexplicáveis, se sentir fraco e, gradualmente, esquece de quem é. As coisas se tornam ainda piores quando Drácula reencontra a suposta reencarnação de sua amada.
“Eu cruzei oceanos de tempo para te encontrar”

E vocês? Qual a primeira coisa que vêm à mente quando pensam em “terror”?