Fazer compras no supermercado virou luxo. E não estou falando dos preços, embora esses também assustem. É que, com meus problemas de saúde, percorrer corredores, parar diante das prateleiras e ficar em pé por muito tempo passou a ser um desafio. O que antes era um passeio em família — até divertido — hoje se tornou uma missão exaustiva, porque meu corpo já não responde como antes, tudo exige mais do que posso dar.

Outro dia, percebendo meu desânimo, meu marido resolveu me convencer a sair. Disse que se perdia entre os xampus e os cremes que eu pedia e que, enfim, havia visto algo que talvez me animasse: um carrinho motorizado. “Experimenta!”, insistiu ele. E lá fui eu, meio cética, embarcar nessa aventura sobre rodas.

No começo, me senti deslocada. Tinha vergonha. Pensava no que os outros iriam pensar. Será que iam me julgar? Ter pena? As gôndolas familiares pareciam um labirinto infinito. A luz fluorescente refletia nas embalagens coloridas como num jogo de espelhos, e o carrinho zumbia sob mim, lento, firme, meio teimoso.

Minhas mãos tremiam ao tentar alcançar os produtos nas prateleiras. Em uma dessas tentativas, derrubei duas pilhas de cereais direto no carrinho de uma moça que abastecia o setor. Ela me olhou, surpresa, sem dizer uma palavra. Tudo o que consegui foi um tímido “Desculpa”, encolhida na minha vergonha. Mas ela não disse nada. E isso foi um alívio.

O que eu não esperava era o que viria depois. Uma garotinha de olhos vivos e sorriso largo me ajudou a escolher bolachas. O rapaz da padaria me apresentou os pães como se fossem joias raras. Casais abriam passagem com gentileza. Sorrisos discretos se espalhavam como pequenos acenos silenciosos de apoio. E eu comecei a relaxar.

E então veio o momento que me marcou para sempre.
Foi quando parei diante de uma pilha de potes coloridos. Fiquei ali, meio perdida, até que uma mão jovem pegou um pote vermelho e me ofereceu. “Você precisa de ajuda?” — perguntou o rapaz. Alto, magro, cabelos compridos. Fiquei muda por alguns segundos. É que sou professora e trabalho com adultos autistas. E aquele jovem, tão gentil, trazia traços que me tocaram profundamente. Mais que isso, sua empatia comigo tocou profundamente meu coração.

Agradeci, perguntei seu nome, ao que ele respondeu: Felipe. Então sorriu e se afastou.

Meu marido chegou e não entendeu o porquê da minha emoção. Então, liguei o carrinho e fui atrás do rapaz. Eu precisava dizer à sua mãe o quanto aquele gesto tinha me marcado. Passei pelo corredor das bebidas, dos produtos de limpeza, os enlatados e, finalmente, encontrei o Felipe e sua mãe. Agradeci e os elogiei. Pode parecer um gesto pequeno, mas para mim teve um grande significado.

Aquele dia, que tinha tudo para ser difícil, virou uma grande lição.
Meu marido, que estava sempre atento para saber onde eu estava. A garotinha das bolachas. O rapaz da padaria. A moça das prateleiras. O casal que abriu espaço. E o Felipe, com seu gesto singelo e generoso. Todos eles me mostraram que, mesmo num mundo corrido e distraído, a gentileza ainda floresce — nos corredores de um supermercado, nos olhares atentos, nas mãos estendidas.

Nunca mais vou esquecer esse dia. Depois, passei a ir mais vezes ao supermercado para fazer compras. Já chegava animada e dirigia o carrinho com destreza, sem espalhar caixas e latas pelo caminho. Os funcionários se tornaram velhos conhecidos.

Um ano depois, não preciso mais do carrinho. Já consigo fazer pequenas compras e caminho feliz pelos corredores. Naquele dia, não foi só uma ida ao supermercado. Foi um lembrete poderoso de que todos nós, em algum momento, precisamos de uma mão amiga. E que os pequenos gestos — esses, sim — fazem a grande diferença.
Sou muito grata por meu marido não ter desistido de mim e ter me incentivado a experimentar.
O que eu digo: Não desista! Amanhã é outro dia. Seja grato! Espalhe gentileza. Isso faz muito bem!