Não trato aqui do icônico carro da General Motors, mas de outro tipo de equipamento que também traduz uma certa liberdade. Batizado de Cadillac por Joseph Pilates na primeira metade do século XX, o aparelho é o queridinho dos praticantes dessa atividade física: o Pilates.
O Cadillac parece uma cama de solteiro, com braços altos nas laterais e acessórios como alças, molas e trapézio. É imponente e desperta curiosidade em alunos iniciantes. Não é para menos: em cima do Cadillac dá para fazer horrores! É para quem gosta de usar e abusar de movimentos aéreos — virar de ponta-cabeça, erguer as pernas com as molas e deslizar quase abrindo um espacate. Mas, muita calma nessa hora: não é chegar e ir se apropriando do aparelho. É preciso conquistá-lo aos poucos, coordenando concentração, respiração e equilíbrio.
Há quem prefira o igualmente espaçoso Reformer. Trata-se de um aparelho mais baixo, também similar a uma cama de solteiro, com alças e molas. São tantas as possibilidades nos dois aparelhos que daria para escrever um capítulo inteiro contando seus exercícios e os benefícios que proporcionam ao corpo.
Mas nem só de Cadillac e Reformer vive o instrutor de Pilates. Há ainda outros dois aparelhos que chamarei, respeitosamente, de coadjuvantes: o Ladder Barrel e a Chair. E, se os equipamentos podem causar estranheza a quem não os conhece, há o Mat Pilates, com exercícios feitos no solo — alguns com bola, rolinho, faixa e aro. São numerosas as submodalidades do método, do clássico ao Neo Pilates, com acrobacias que lembram movimentos circenses.
Como praticante há alguns anos, ouço, incrédula, que a atividade se limita aos alongamentos. Bem, esticar o corpo é indispensável à prática esportiva! Contudo, o Pilates vai muito além de alongar músculos e está longe de ser monótono. Os exercícios trabalham coordenação motora, equilíbrio e consciência corporal, com ênfase na inspiração e expiração, sem esquecer da contração abdominal. Somando tudo isso, é colocar corpo e mente em jogo. E o mais importante: libera hormônios relacionados ao bem-estar, como serotonina, endorfina e dopamina. Algumas aulas podem ser tão intensas que, nós, alunos, costumamos dizer que deixamos a alma ali, tamanho o esforço.
Pilates é para todos… ou quase todos. Crianças formam um público à parte. Como é praticado em sala fechada e com aparelhos que demandam uso criterioso, a curiosidade infantil requer atenção diferenciada. No mais, jovens, adultos, idosos, gestantes, pessoas com ou sem deficiência e quem está em reabilitação permanente ou temporária podem fazer aulas. As turmas costumam reunir de três a quatro participantes, já que cada pessoa possui um ritmo de aprendizado. A evolução dependerá de vários fatores: tanto do professor quanto do comprometimento do aluno. E, claro, há limitações para quem possui problemas articulares, que exigem atenção maior do fisioterapeuta. Há também desafios para quem deseja aprimorar o desempenho. Ou seja, todos podem sair ganhando, cada qual no seu processo.
Quem pratica atividade física regularmente sabe que manter a frequência de treinos e uma boa dieta é o combo perfeito para a saúde integral — mens sana in corpore sano. No Pilates não é diferente. Quando feito de forma disciplinada, com orientação de fisioterapeuta ou educador físico especializado, em poucos meses já se percebe melhora na postura e aumento da consciência corporal. Os resultados são visíveis e, embora não se trate apenas de alongamento, a flexibilidade agradece.
Para quem não conhece, fica a sugestão: vale muito a pena fazer uma aula experimental e, se de primeira você não gostar, tente outro estúdio ou outro instrutor. Eu, por exemplo, estou no sexto estúdio de Pilates. Posso afirmar que não foi amor à primeira vista e que só na terceira tentativa surgiu o encantamento. Iniciei-me no método para conhecê-lo melhor e fazia aulas somente no solo, sem aparelhos e sem acessórios. Depois, fui apresentada aos equipamentos. Experimentei o método clássico e, anos depois, tive professores mais flexíveis, que adaptaram novos instrumentos para exercícios na parede e treinamento funcional. A prática permite essa dinâmica. Pilates, sem dúvida, é para quem deseja melhor qualidade de vida — seja para aperfeiçoar alguma prática esportiva, seja para adquirir mais autonomia nos movimentos. E não, não é modismo: o método conquista praticantes há muitos anos e se mantém em alta pelos resultados que proporciona. O mais importante: nunca é tarde para começar.