Léo nunca foi um místico. Era engenheiro, prático e cheio de compromissos. Tinha horário para tudo, exceto para si mesmo. Seus dias se arrastavam como um trem sem maquinista, obedecendo a trilhos invisíveis: acordar, e-mails, reuniões, planilhas, trânsito, jantares silenciosos. Dormia tarde, exausto, e acordava cansado.

Mas havia algo curioso em sua rotina: todas as noites, ao deitar-se, sem se importar com o nível de estresse ou a quantidade de estímulos do celular, bastava apagar a luz e ele mergulhava lentamente no sono. Era como se houvesse, dentro dele, um botão secreto que apertava sem perceber — um comando interno silencioso que informava à mente: apague.

Certa noite, durante uma viagem a trabalho, Léo acordou às 3h da madrugada, estava em um hotel em Curitiba. Um ruído no corredor o despertou, e ele subitamente se deu conta de que estava plenamente lúcido. Seu despertar estava longe de ter sido provocado por uma insônia ou ansiedade. Era uma espécie de vigília limpa, sem agitação. Pela primeira vez, percebeu que a sua mente obedecera ao comando do despertar — mas sem o automatismo habitual.

Estava sentado na cama, sem conseguir voltar ao sono. Léo sentiu algo incomum, ele podia ver os seus pensamentos e via o quarto do hotel como um todo, além de cada um dos objetos que compunham a cena. Estava consciente de tudo ao mesmo tempo, como se estivesse desperto pensando, mas conseguia observar a sequência do aparecimento desses pensamentos — os observava como nuvens passando no céu, estava vigiando essas nuvens passarem. Surgia uma lembrança, ele a notava, como de um ponto distante, fora de si mesmo. Ele via o pensamento, sem se envolver emocionalmente. Era como se houvesse um espaço entre ele, o quarto e seus pensamentos.

Essa experiência o perturbou, no bom sentido. Ao voltar para casa, buscou livros sobre consciência, estados mentais, atenção plena, estados superiores de vigília da mente. Foi aí que encontrou um livro sobre desenvolvimento da mente com comentários com os quais se identificou e identificou sua experiência mística. Nele, leu uma instrução que ressoou profundamente.

O despertar para um outro estado mental é conseguido através do controle das atividades da mente.

Aquilo era exatamente o que havia sentido naquela madrugada em Curitiba, era diferente do sono em que apagamos pela ausência de pensamentos, mas neste momento percebeu que o que sentia era o fim da identificação com eles. Léo compreendeu que a mente pode ser conduzida para o sono, mas também ao estado oposto: presença lúcida e vigilante.

O que aconteceu com o Léo é mais comum do que se imagina, mas poucos percebem. A maioria das pessoas acredita que o sono chega por exaustão, como se fosse um colapso. Mas, na verdade, há um ato voluntário — muitas vezes inconsciente — de entrega ao repouso. Esse comando invisível é uma forma primária do controle das atividades da mente, à qual o sono está incluído.

O controle das atividades da mente é mais do que bloquear os pensamentos, mas criar um espaço entre a mente e o observador. Uma pausa. Uma clareira na floresta de muitos estímulos.

E aqui está a chave: se temos essa capacidade de provocar em nós o sono — uma suspensão momentânea da mente discursiva —, também temos essa capacidade para causar o despertar. Apesar de que o Léo teve uma experiência mística naquela madrugada em Curitiba, o que se precisa é uma consciência do gesto. Dormir é uma capacidade em nós que já se converteu em um hábito, mas acordar é uma escolha.

Na prática, isso se revela como um ato interno de comando. O mesmo impulso mental que diz: “agora posso descansar” pode, com treinamento, dizer: “agora vou observar”. E a mente obedece. Basta que haja firmeza, determinação e, no início, uma boa força de vontade para mudar os padrões mentais.

O controle das atividades da mente está ao nosso alcance. Ele começa no nosso cotidiano:

  • Ao desligar o celular e apenas observar a respiração;
  • Ao perceber um pensamento automático e optar por se afastar dele;
  • Ao caminhar sem se perder no fluxo das preocupações.

Estes são os primeiros passos no domínio da frequência mental.

Léo seguiu a sua vida, mas algo havia mudado. Nas manhãs silenciosas, antes de abrir os olhos, ao despertar, percebia a inexistência do fluxo de pensamentos e aproveitava este momento para perceber como a sua mente estava tranquila pelas horas de sono profundo. E nesse momento dizia a si mesmo: “Vou permanecer aqui por uns três minutos observando a mente neste estado”. Era pouco, mas suficiente para manter vivo o fio da lucidez. E, aos poucos, aprendeu a alternar os estados mentais com consciência — como alguém que domina o timbre da sua própria voz.

Aquele botão secreto que antes era usado apenas para apagar, agora também servia para acender. Talvez todos nós tenhamos esse botão. Talvez a mente, há muito tempo, durante nossas atividades do dia-a-dia, esteja esperando apenas que a voz interna diga com clareza: “Agora, desperte.”