Hoje vivemos em um tempo em que estamos sujeitos ao cárcere.
Não à prisão destinada a infratores da lei ou aos jovens delinquentes das madrugadas, mas àquela imposta por um poder maior.

Agora, participamos de uma sociedade onde o simples fato de nos afastarmos dos limites do nosso bairro se tornou um risco com consequências incertas. É a violência exercendo seu poder.

Presos em nossos condomínios de segurança máxima, muitas vezes tememos sair, pois, mesmo dentro de carros blindados, a insegurança parece invadir o ambiente, colocando em dúvida até mesmo a precisão do GPS.

Quem está tentando roubar o nosso direito de ir e vir?
Quem quer nos impedir de voltar a nos sentir como crianças livres, ainda que por um instante?
Quem ditou essas novas regras cercadas de bloqueios e desigualdades?
Quem separou nossos quintais, encerrando nossos sonhos nos porões de um tempo que não volta mais?

Com mãos e pés atados, tentam nos obrigar a andar como se estivéssemos implantados em tornozeleiras eletrônicas virtuais, programadas para não nos deixar seguir em frente, apenas pelo fato de alguns se acharem no direito de controlar nossos passos. Além disso, instalaram câmeras de segurança sobre nossas cabeças, nos vigiando noite e dia.

Sim, vivemos com a sensação de estarmos sempre contidos por arames farpados, por divisórias de madeira bruta, por barreiras invisíveis que limitam risos, abraços, conversas, encontros e novas descobertas – tão comuns em outros tempos.

Infelizmente, construíram muros altos por toda parte, com seus portões eletrônicos, cercas elétricas, grades pontiagudas, ferrolhos de bronze, catracas de aço e até barricadas de pedras, pois é preciso controlar ou barrar os acessos. Como gado marcado, somos confinados e mantidos por uma linha imaginária.

Não é de hoje que estamos sendo seguidos por algoritmos de precisão, capazes de identificar rostos, ler pensamentos e codificar impressões digitais. O cerco continua, programando também o nosso futuro. Com o avanço tecnológico, já começaram a implantar a inteligência artificial no sistema, substituindo a inteligência humana por robôs ultracapacitados – livres de ansiedade, depressão ou crises de identidade e financeiras – e prontos para dominar o mercado.

Com isso, estamos cada dia mais distantes do princípio mais elementar da vida: a liberdade.
Pois nascemos livres, mas agora tentam nos pseudoescravizar, confinando-nos em nossas casas, apartamentos ou quartos e oferecendo um tipo de ração diária disfarçada de entretenimento: o celular.

Nestes últimos anos, o direito de escolha e de defender ideias tem sido restringido por uma censura velada, que nos obriga a formatar um discurso preexistente, alinhado ao politicamente correto, caracterizando uma prisão das ideias e dos ideais.

Sem liberdade de expressão, os pensamentos tornam-se repetitivos, os costumes e as expressões culturais se veem impossibilitados de se manifestar livremente, e a participação coletiva é reduzida ao mínimo.

Seria o fim da cultura tradicional diante do controle universal dos hábitos? Eis a questão.

Por outro lado, às vezes nos sentimos enclausurados nesse cercado de ilusões, por onde a vida passa como uma nuvem cinza, tapando o brilho do sol.

Sim, a liberdade existe, mas a cerca também existe – e teima em nos conter, mostrando que a pior de todas as prisões é estar preso dentro de si mesmo.
A esfera da individualidade é a cadeia que mais fere, aprisiona e atemoriza, pois é feita por laços internos, sem chaves que libertem os nervos de aço.

Cercas vivas, trincheiras, sebes espinhosas, valas profundas, muralhas, fortalezas e guaritas, ocupadas por guardas vigilantes e treinados para não deixar escapar ninguém. Tudo para manter o homem moderno preso e sob controle.

Vamos fugir, gente! Chega, ainda somos capazes! Ainda há esperança, e a fuga se faz necessária.

Adiante, existe um campo limpo e uma estrada sem fim. Ali, poderemos correr livres por lugares pouco explorados, transitar entre pessoas e seguir o fluxo da vida, sem as amarras da separação.

Por fim, despedacem as correntes, desatem os nós, rompam as ligaduras, quebrem as algemas e corram para a liberdade.

Pois só é possível alcançar a vitória aquele que tem coragem de superar os obstáculos e chegar ao pódio – não para se vangloriar, mas para abraçar o seu companheiro.

E, por tudo isso e apesar de tudo, é preciso sonhar, pois os sonhos nos dão asas – e voar é preciso.