É estranho como as coisas acontecem em nossas vidas. Em um dia estamos ligados e convictos de teorias que afirmam a nossa maneira de pensar e poucos dias ou mesmo minutos depois, todos os pensamentos outrora “enraizados”, dão lugar a novas visões e versões individuais jamais imaginadas em nossa pequena mente.

Desde pequena enxergo o mundo com alegria, apesar de nem todo o tempo estar alegre, procurando observar o que há de bom na vida e com isso, nunca me abati muito fortemente com os percalços dos caminhos, que são comuns, afinal, estou viva e inevitavelmente passo por montanhas e vales tenebrosos. De toda forma, sempre foquei em “agradar” aos outros, deixar as pessoas felizes e assim, minhas verdadeiras vontades ficaram em segundo plano.

Pois bem, como tudo acontece, eu cresci, convivi com inúmeras pessoas, umas diferentes das outras, com suas crenças e convicções, forma de viver e enxergar o mundo. Sempre acreditei em Deus como o Pai e Criador de todo o universo, concomitantemente, o enxergava como um Ser também castigador, que apesar de nos conceder o livre arbítrio, nos castigava dependendo de nossas escolhas.

As mulheres ainda são vistas como seres frágeis e dependentes, entretanto, responsáveis e culpabilizadas de uma carga que não lhes pertence.

Quando criança sonhava em me casar, ter uns três filhos, uma família “tradicional”, era alheia a quaisquer movimentos de “rebeldia” e considerava que tudo deveria seguir um curso muito parecido na vida das pessoas. Assim como minha mãe era contra tatuagens, eu também era, apesar de achar lindo, mas não expor esta minha admiração. Vi meus avós morrerem casados, apesar de tantas desavenças, lutas diárias e superações por parte da minha avó, acreditando que se casamos com certa pessoa, é com ela que devemos viver até o fim da vida. Assistia aos cultos na igreja, que condenava o homossexualismo, a opinião da mulher na relação, a frequência sexual de sua preferência, afirmando que nós, mulheres, nascemos para servir e satisfazer o homem e imputando sobre nós a culpa de um relacionamento falido, como se fôssemos a estrutura, a base para que o mesmo conseguisse ou consiga sobreviver.

Apesar de vivenciar tantas coisas durante minha formação como pessoa, mantive presas a mim essas  “convicções”. Estas me fizeram trilhar um caminho muito tradicional. Casei-me aos dezenove anos, tinha um relacionamento bacana, alegre. Mas algo me incomodava e fui estudar, aprender, me desenvolver. Jamais imaginei que minha visão como mulher mudaria. Eu verdadeiramente acreditei que morreria ao lado do meu marido, que teríamos aqueles três filhos que sonhava e ficaríamos juntos até muito velhinhos.  Entretanto, comecei a enxergar a vida e os relacionamentos de outra forma, após começar a vivenciar em meu relacionamento, momentos abusivos, machismos, julgamentos por parte da sociedade de “bem”, cristã, que acredita piamente que eu, como mãe e mulher, deveria mesmo suportar quaisquer deslizes e grosserias do meu companheiro, afinal, aquele Deus me castigaria caso eu me divorciasse, tornando-me uma mulher adúltera (pois, quando há um divórcio sem adultério – daqueles que todos ficam sabendo), se a mulher se casar novamente, o novo companheiro também estaria em “pecado”.

Durante minha formação pessoal e profissional, conheci e participei de grupos de empoderamento feminino, desenvolvimento, estudei e comecei a me abrir para novas opiniões, visões e crenças. Atualmente, Deus continua sendo para mim o Ser Criador de tudo, mas o enxergo como um Deus de amor e já não imagino que Ele seja este ser tão vingativo que algumas pessoas e crenças pintam.

E apesar de tudo o que fui ensinada, doutrinada e induzida por uma sociedade retrógrada e preconceituosa, eu me separei. Pedi o divórcio, ou melhor, comuniquei-o sobre. Estava cansada de levar toda a responsabilidade, de ser mãe, esposa, amante e profissional e de não ser reconhecida como tal. E, mesmo com toda essa coragem que tive que ter, percebi que toda a carga ainda está sobre meus ombros, por mais que a sociedade tenha discretamente evoluído a respeito de certas áreas, as mulheres ainda são vistas como seres frágeis e dependentes, entretanto, responsáveis e culpabilizadas de uma carga que não lhes pertence. Hoje sou tatuada, bebo, escrevo contos eróticos, tenho um filho, trabalho, estudo e me relaciono com quem eu tenho vontade. Descobri-me como um ser humano melhor, que ama mais as diferenças, que continua cuidando do outro, mas que antes cuida de si, pensando que, a próxima pessoa que entrar em minha vida será apenas alguém a somar, a voar e ser livre ao meu lado. E, mesmo que nunca haja alguém disposto a viver a minha liberdade, seguirei leve e segura de quem sou.

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